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Governo nepalês sobe ao Everest por preservação do Himalaia

4 dez 2009 - 10h50
(atualizado às 12h02)
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Alarmado pelos devastadores efeitos da mudança climática no Himalaia, o Gabinete nepalês subiu nesta sexta-feira a mais de 5 mil m de altitude, perto de um acampamento base no Monte Everest, para pedir um "sacrifício" aos países desenvolvidos que reduza as emissões de gases do efeito estufa. "A Terra é nossa morada comum. Para salvar a Terra, é necessário maior sacrifício das nações que emitem grandes quantidades de (dióxido de) carbono (CO2)", disse o primeiro-ministro nepalês, Madhav Kumar Nepal, em um evento transmitido ao vivo pela radiotelevisão estatal.

O premiê do Nepal, Madhav Kumar (centro), e membros do governo aprovam documento que alerta sobre efeitos do aquecimento no Himalaia
O premiê do Nepal, Madhav Kumar (centro), e membros do governo aprovam documento que alerta sobre efeitos do aquecimento no Himalaia
Foto: AP

Durante esta singular reunião do executivo nepalês, com a presença de 23 dos 27 ministros, o governo adotou a Declaração do Everest, de dez pontos, na qual se compromete a minimizar os efeitos da mudança climática e pede uma ação global. "O Himalaia é importante não só para o povo do Nepal, mas para o 1,3 bilhão de pessoas que dependem da água de suas montanhas para sobreviver", lembrou o primeiro-ministro, poucos dias antes do início da cúpula sobre o clima em Copenhague.

Os ministros, com casacos pesados, gorros e cachecóis, tiveram que usar máscaras de oxigênio para suportar os 5,242 mil m de altitude em Kala Patthar, perto de um acampamento base do Everest, onde foram colocadas cadeiras e mesas para realizar a reunião do gabinete ao ar livre. As deliberações foram dificultadas pelo vento, por isso os ministros, com faixas azuis com a inscrição "Vamos Salvar o Himalaia", utilizaram alto-falantes para falar.

Uma equipe de médicos e outra de montanhistas acompanharam os membros do governo em sua subida no Everest, aonde tinham chegado por via aérea. A reunião em grande altura ocorre depois da realizada em 17 de outubro pelo governo das Maldivas, que fez uma reunião sob o mar com a mesma intenção. "É uma reunião muito importante e histórica", resumiu o primeiro-ministro nepalês, que insistiu em que o Himalaia tem um papel fundamental no equilíbrio ambiental da Terra.

Como lembrou durante seu discurso, apesar de o Nepal contribuir de forma mínima para as emissões de CO2, os pobres deste país são os mais vulneráveis ao aquecimento global. A Declaração do Everest prevê aumentar as áreas protegidas do Nepal (dos 20% atuais a 25%), ajudar as comunidades atingidas a se defender dos efeitos da mudança climática e colaborar com outros países para minimizar o impacto.

O documento também apoia a ideia de alguns países desenvolvidos de destinar 1,5% de seu Produto Interno Bruto (PIB) para um fundo global que sirva para levar a emissão de gases do efeito estufa aos níveis da época pré-industrial. Segundo um recente relatório da ONG Oxfam, as geleiras desta cordilheira poderiam desaparecer em um prazo de 30 anos, algo que poderia afetar 1,3 bilhão de pessoas na Ásia, entre elas 500 milhões de sul-asiáticos.

A situação é especialmente dramática para 31% dos 28 milhões de nepaleses que se encontra abaixo da linha de pobreza, em um país eminentemente agrário que é atingido por contínuos deslizamentos de terra. O ecossistema ao redor dos grandes rios asiáticos, cujo volume no verão provém em 50% a 60% do Himalaia, seria atingido pelo degelo e teria nefastas consequências sobre a agricultura, de acordo com a Oxfam.

Ajay Dixit, membro do Instituto de Transição Social e Ambiental, disse que, durante a última década, foi registrado um aumento anual na temperatura média de 0,06°C no Nepal e acrescentou que, para 2030, poderia aumentar em até 2°C. "Vários modelos que circulam em escala mundial mostram que as chuvas poderiam cair 14% ou aumentar até 40% em 2030", disse.

Um dos atores mais importantes na região é a Índia, onde o degelo do Himalaia, segundo a previsão de alguns estudos, pode contribuir para grandes inundações ou secas que prejudicarão a produtividade agrícola. O ministro do Meio Ambiente indiano, Jairam Ramesh, comprometeu-se ontem no Parlamento a que a intensidade das emissões de CO2 da Índia diminua em 20% a 25% até 2020, mas ressaltou que seu Governo não está disposto a aceitar um pacto global vinculativo em Copenhague.

Ramesh admitiu que algumas geleiras do Himalaia estão desaparecendo, mas insistiu em que os especialistas não estão de acordo sobre se isso se deve à mudança climática ou a outros fatores.

EFE   
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