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Ásia

Fukushima luta para evitar abandono frente ao fantasma da radiação

11 mar 2013 - 06h07
(atualizado às 06h51)
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Dois anos depois do acidente na usina nuclear Daiichi, os habitantes de Fukushima lutam para evitar que a província seja abandonada enquanto convivem diariamente com o medo da radiação, um inimigo invisível que as autoridades acreditam já ter controlado.

Além das 1.817 vidas e 93 mil construções que o tsunami destruiu no dia 11 de março de 2011, a catástrofe contribuiu para que mais de 24,8 mil pessoas se mudassem dos municípios próximos à usina nuclear, segundo dados do governo japonês.

Estas comunidades se dedicam agora a recuperar sua economia e a atrair novas famílias, principalmente jovens, para evitar que a província desapareça do mapa a médio prazo.

Shitsuko Ikeda, 52 anos, tem consciência de que talvez nunca volte a pisar em Okuma, povoado que fica a quatro quilômetros da usina e onde ela nasceu e viveu até março de 2011, segundo contou à agência EFE.

Mas em vez de se mudar para outra região do Japão, como fizeram seus conhecidos, a ex-balconista resolveu abrir um bar em dezembro do ano passado em Minamisoma, cidade de 46 mil habitantes cuja faixa sul faz parte da zona de acesso restrito que se estende por um raio de 20 quilômetros em torno da usina Daiich.

A cidade de Minamisoma, que teve uma redução de 35% em sua populção após o tsunami, possui uma tela para mostrar a variação dos níveis de radiação em diversos pontos do município, 24 horas por dia.

Desde o acidente, os 61 medidores instalados registraram em média um índice entre 1,87 e 0,08 microsievert por hora, níveis abaixo da exposição máxima recomendada pela Comissão Internacional de Proteção Radiológica.

Instituições de saúde e pesquisadores não identificaram efeitos visíveis na saúde dos moradores de Fukushima como resultado do acidente, mas advertem que levará anos para se conhecer o verdadeiro impacto da radiação, especialmente na cadeia alimentar.

A princípio, só aqueles que estavam perto da usina na época do acidente enfrentaram um grande risco de desenvolver alguns tipos de câncer. Mesmo assim, mais de 234 mil moradores de Fukushima se submetem, desde março de 2011, a análises de exposição radioativa.

"Todos dizem que pareço estar bem, mas a radiação é invisível e por isso me preocupa", explica um jovem de 15 anos que não quis se identificar após ser examinado com um contador Geiger no hospital da Cruz Vermelha na cidade de Fukushima, que é a capital da província e fica a 60 quilômetros da usina.

O jovem ainda espera pela sua vez de passar por um medidor de corpo inteiro, aparelho que detecta em apenas dois minutos a quantidade de césio 134 e 137 absorvida pelo organismo e que já pode ser encontrado em 10 hospitais na região.

Em Minamisoma, muitas das pessoas que deixaram a cidade depois da explosão de Daiichi se submeteram com sucesso a estes exames e consideraram seguro retornar às áreas que haviam sido evacuadas em 2012.

Ainda assim, cerca 6 mil moradores decidiram se mudar, especialmente aqueles com crianças. Outros 17 mil preferiram permanecer em refúgios temporários por um período que deve durar pelo menos cinco anos, até que possam ter certeza de que é seguro retornar para casa.

Os frequentadores do bar de Shitsuko Ikeda em Minamisoma acreditam que as medições de radiação não são o suficiente, e que "é preciso criar postos de trabalho e outros incentivos" para atrair mais gente.

"Teremos que oferecer subsídios às famílias que decidirem vir", explica o prefeito de Minamisoma, Katsunobu Sakurai, que reconhece o estresse emocional que o acidente causou para muitos habitantes.

Sakurai admite que apenas 2% da população local se submeteu a processos de descontaminação, já que ainda não foi resolvido onde os resíduos radioativos serão armazenados.

Okada, bairro de Minamisoma, atingido pelo tsunami e enquadrado na demarcação da área restrita, é uma dessas áreas onde ainda há muito o que fazer.

Em abril de 2012, o acesso à parte oriental do bairro foi liberado durante o dia, mas ela continua abandonada. O mato invade áreas descampadas, e centenas de bicicletas deixadas em frente à estação de trem dois anos antes continuam no mesmo lugar.

Quando o sol se põe, todos são obrigados a deixar o bairro que tem um futuro incerto, assim como tantos outros na região, que durante a noite fica imersa na escuridão total e no silêncio.

EFE   
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