Banquete e loteria: México lucra com profecia do fim do mundo
10 dez2012 - 06h31
(atualizado às 09h19)
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Banquetes preparados por alguns dos melhores chefs do planeta; concertos musicais, filmes, sorteios de loterias, concursos artísticos, encontros religiosos, exposições fotográficas, mergulho em rios subterrâneos, descontos na compra de automóveis... Tudo isso é parte do catálogo de negócios gerados ao redor da suposta profecia maia que previa o fim do mundo no próximo dia 21 de dezembro.
Arqueólogos especialistas na cultura maia afirmam que a civilização antiga jamais previu uma catástrofe, mas sim mencionou em seu calendário o início de uma nova época. Mas a desmistificação do tema não freia milhões de turistas que viajaram ao sudeste do México e a outros lugares da América Central onde se encontram os centros cerimoniais dos maias.
Até o governo mexicano aproveitou o interesse mundial sobre a eventual desaparição da espécie humana e há vários meses lançou uma intensa campanha de promoção na Europa e nos Estados Unidos chamada Mundo Maia.A secretaria de Turismo diz que a estratégia teve sucesso e superou as expectativas iniciais.
Ceia do Fim do Mundo
O Estado de Yucatán, no sudeste do México, abriga a maior concentração de população de origem maia, e em seu território estão alguns dos principais centros cerimoniais da civilização.
Se a espécie humana realmente acabar no dia 21 de dezembro de 2012, a população de Mérida, capital de Yucatán, espera aproveitar até o último minuto. Nesse dia será servida a Ceia do Fim do Mundo, um banquete de nove pratos preparados por estrelas internacionais da cozinha. O preço por cabeça é equivalente a R$ 810.
Mas essa não é a única oferta para acompanhar de perto o eventual apocalipse. A sede mexicana da Renault oferece um de seus modelos com um ano de seguro grátis e com crédito sem comissões para a compra.
"Leve uma linda lembrança do fim do mundo", diz a publicidade da empresa, anunciada por uma fictícia assessora da empresa chamada Maya. "Confie em mim. Eu sei", diz a mensagem.
Além de comida e automóveis, o eventual apocalipse também serviu para se tentar a sorte. A Loteria Nacional organizou o sorteio Profecia Maia, que cada mês tem um prêmio de 8 milhões de pesos, o equivalente a R$ 1,3 milhão.
Os bilhetes da loteria trazem representações maias de alguns animais. A última edição do sorteio está programada para o dia 30 de dezembro - numa indicação de que lucrar com o boato não significa acreditar nele.
Favorecimento
Há ainda outros negócios amparados na ideia do fim do mundo. Em Tapachula, cidade no Estado de Chiapas, na fronteira com a Guatemala, foi organizada uma série de encontros religiosos para explicar a ligação da Bíblia com as profecias maias.
Também foram feitas neste ano no México mostras de cinema e exposições sobre a civilização maia. Houve ainda edições especiais de revistas, edições de livros, concursos de escultura, obras de teatro e concertos musicais.
Mas até agora, o negócio mais importante é o turismo internacional. Segundo a secretária de Turismo do governo federal, Gloria Guevara Manzo, o objetivo inicial da campanha do governo era receber 52 milhões de turistas em 18 meses nas regiões de influência maia, mas até agora já foram registrados 62 milhões e a projeção indica um total de 80 milhões ao final dos 18 meses.
Porém alguns especialistas criticam a campanha do governo, afirmando que ela se utiliza de uma cultura milenar para favorecer grupos empresariais.Também questionam que outros departamentos do governo, como o Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH), desmintam as supostas profecias maias e ao mesmo tempo as utilizem como tema de campanhas e negócios oficiais.
Preocupados com sua segurança, muitas pessoas recorrem aos abrigos conhecidos como bunkers. Empresas especializadas nesse tipo de estrutura, como a Terravivos e a Bunker Brasil, podem construir até verdadeiras mansões debaixo da terra - para quem puder pagar
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
Os bunkers surgiram na Primeira Guerra Mundial - estendendo-se para os demais conflitos bélicos que vieram a seguir. Serviam para proteger, além dos soldados, combustível e munição de projéteis inimigos, que poderiam danificá-los ou fazê-los explodir. Mais tarde, passaram a ser utilizados também para proteção contra fenômenos naturais, como tornados
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
'Bunkers são estruturas construídas abaixo do nível do solo, geralmente reforçadas por concreto e chapas de aço, e que servem de abrigo para pessoa ou grupo de pessoas', explica Irenaldo Pereira, presidente do Sindicato das Empresas de Segurança Privada (Sindesp) do Distrito Federal
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
Enquanto a empresa brasileira reafirma que não acredita em 'apocalipse maia' e vendi seus produtos para proteger os clientes contra ameaças reais, a americana Terravivos entre na onda do calendário maia para aquecer suas vendas
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
'O mundo está no limite, tanto economicamente quando politicamente, enquanto muitas previsões estão acontecendo. A profecia maia está no fundo de nossas mentes, mas apenas como um sinal de que é tempo para se preparar', afirma a diretora de mídia da Terravivos, Barbi Grossman.
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
Wagner Hebling, diretor da Bunker Brasil, garante que seus clientes não procuram adquirir abrigos subterrâneos motivados pelas interpretações do calendário maia. A empresa brasileira, além da construção dos abrigos abaixo do solo, faz blindagens arquitetônicas para grandes construtoras, empresas e pessoas físicas
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
'Eles não acreditam que o mundo irá acabar, como o divulgado fim do mundo, por muitas mídias. Também não acreditam que poderá acontecer algo realmente catastrófico em uma data específica como algumas pessoas deduzem em relação ao calendário Maias', afirma
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
Segundo Hebling, a empresa tem a sua opinião oficial e comunica isso aos clientes. 'A posição da empresa Bunker Brasil é bem clara. Declaramos abertamente que não acreditamos no fim do mundo'
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
O bunker, além de desastres naturais, é vendido como uma opção para defesa contra a criminalidade. Se uma casa bem munida de equipamentos de segurança não é o suficiente, o bunker pode ser opção mais reforçada
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
'Podemos dizer que as precauções dos nossos clientes são as mais diversas. Vão desde proteção contra assaltos até adversidades mais graves, que poderão gerar alterações sociais drásticas com as quais muitas pessoas não estão habituados a se deparar', diz Hebling
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
Apesar de, em várias ocasiões, Robert Vicino, CEO da Terravivos, ter se manifestado publicamente afirmando que uma grande quantidade de pessoas já havia reservado ou adquirido bunkers, não existe uma estatística oficial sobre essa procura ¿ segundo Pereira, por questões de segurança
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
'Clientes solicitam bunker também contra invasão de criminosos em suas propriedades rurais, desejando um local seguro para a permanência de sua família até o socorro policial chegar ao local, que muitas vezes é distante da área urbana'
Foto: Bunker Brasil / Divulgação
Os especialistas nesse tipo de construção, afirmam que é possível fazer um bunker para abrigar uma pequena família ou até para grupos com mais de 100 pessoas. Além da estrutura de segurança, é desenvolvido mobiliado, pronto para morar, de modo a oferecer conforto aos refugiados
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
O número de cômodos e o tamanho varia, assim como o preço, que pode ultrapassar R$ 1 milhão, dependendo da complexidade e luxo. É concebido de maneira a ter seu fornecimento de água, energia elétrica e telefone independentes do restante da casa. O tempo de permanência em um bunker depende apenas da quantidade de suprimentos estocados
Foto: Bunker Brasil / Divulgação
Além de especular sobre o possível apocalipse maia, a Terravivos também usa possíveis situações de terrorismo nuclear e anarquia ¿ provocada pelas crises econômicas em larga escala ¿ como argumentos de venda
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
'As interpretações apocalípticas sempre povoaram a cabeça das pessoas, e a cada período surgem novidades no mercado tentando atrair compradores e adeptos às suas ideias de 'salvação' das catástrofes. Mais recentemente fala-se das interpretações do calendário maia', diz Irenaldo Pereira