Milhões de "sobrevivencialistas" se preparam para o fim do mundo
5 dez2012 - 06h03
(atualizado às 09h30)
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Alguns "sobrevivencialistas" esperam o colapso da sociedade, e outros o fim do mundo, e milhões deles nos Estados Unidos se preparam para uma calamidade que, segundo acreditam, pode ocorrer daqui a três semanas.
Os "preppers", como são chamados nos EUA, têm até seu próprio "reality show", nada menos que no canal da "National Geographic", e muitos deles vinculam suas expectativas com o calendário maia e o dia 21 de dezembro.
A rede Piedmont Virgínia Preppers explica em seu site, com precisão e jargão técnicos, que as catástrofes podem gerar desde "WWL", a sigla em inglês para um mundo sem leis após o desastre social e econômico, até TEOTWAWKI, ou "o fim do mundo tal como o conhecemos", o apocalipse.
No meio pode ocorrer um SHTF - sigla que corresponde, literalmente, a "m... é jogada no ventilador" - que significa algum desastre de caráter regional, como um furacão, uma grande inundação, ou distúrbios e motins.
Os "sobrevivencialistas" que esperam um descalabro do governo e das instituições sociais acumulam alimentos, remédios, ferramentas, lanternas, baterias e, certamente, armas e munição. Os que esperam um colapso econômico e financeiro juntam moedas de ouro, compram terras, fertilizantes, sementes.
E os que, por suas crenças religiosas, esperam o fim do mundo (literal) guardam tudo o que foi mencionado sem explicarem muito bem com que propósito, já que tudo terá acabado. Os sinais do apocalipse, segundo os sobrevivencialistas, incluem uma supertormenta solar, o impacto de um meteorito gigante e a elevação do nível do mar.
Por alguma razão, a eleição em 2008 do primeiro presidente negro dos Estados Unidos, Barack Obama, acelerou as preparações de centenas de milhares de famílias que viram nisso um sinal do fim dos tempos.
A recente recessão econômica, a crise em 2011 em relação ao limite da dívida dos EUA, e a retórica alarmista que precede o "abismo fiscal" que supostamente ocorrerá no fim deste ano reforçaram as apreensões de outros sobrevivencialistas.
"Há vários eventos que poderiam criar uma situação nas cidades onde as revoltas civis são muito prováveis", disse ao jornal The Washington Post o representante republicano na assembleia legislativa do Estado de Maryland, Roscoe Bartlett.
Cientista, engenheiro e fazendeiro, Bartlett tem seu próprio "bunker" nas florestas da Virgínia Ocidental, onde estoca geradores de eletricidade e armários embutidos com alimentos e remédios.
Nas livrarias - as poucas reais e inúmeras virtuais - abundam as seções de manuais de sobrevivência com instruções para fazer fogo, primeiros socorros, orientação e defesa.
"A sociedade é frágil, e algo vai acontecer", declarou à rede de TV FOX8, de Cleveland, Tom Laskowski, que dirige uma "escola de sobrevivência" em Seven Hills chamada "Destrezas Nativas do Meio oeste".
"Há gente preocupada que isso possa ocorrer, embora ninguém saiba quando ocorrerá", acrescentou Laskoski, que recomenda que os mais preocupados armazenem comida e água para se sustentar por três a seis meses.
O temor de um cataclisma virou um bom negócio para as lojas de armas, equipamentos de acampamento e alimentos enlatados, da mesma forma que para pequenas empresas como a Practical Preppers, da Carolina do Sul, especializada na construção de refúgios subterrâneos e em "assessoria em segurança", que é basicamente o conselho para a compra de armas.
Um dos sócios da firma é Scott Hunt, um engenheiro e ex-pastor de uma congregação cristã independente que descreve sua função como "o chato trabalho da infraestrutura", e o outro é David Kobler, veterano do exército com experiência em combate urbano no Iraque.
O site da Practical Preppers explica que "a instrução, a experiência e as destrezas de Hunt e Kobler se complementam quando se trata da preparação para sobreviver a desastres cataclísmicos, desde furacões devastadores a crises prolongadas como um ataque eletromagnético, que poderia destruir nossa infraestrutura tecnológica, paralisar o governo e causar o colapso da ordem social".
No entanto, a Practical Preppers não indica qual é a preparação adequada para sobreviver ao fim do mundo.
Preocupados com sua segurança, muitas pessoas recorrem aos abrigos conhecidos como bunkers. Empresas especializadas nesse tipo de estrutura, como a Terravivos e a Bunker Brasil, podem construir até verdadeiras mansões debaixo da terra - para quem puder pagar
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
Os bunkers surgiram na Primeira Guerra Mundial - estendendo-se para os demais conflitos bélicos que vieram a seguir. Serviam para proteger, além dos soldados, combustível e munição de projéteis inimigos, que poderiam danificá-los ou fazê-los explodir. Mais tarde, passaram a ser utilizados também para proteção contra fenômenos naturais, como tornados
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
'Bunkers são estruturas construídas abaixo do nível do solo, geralmente reforçadas por concreto e chapas de aço, e que servem de abrigo para pessoa ou grupo de pessoas', explica Irenaldo Pereira, presidente do Sindicato das Empresas de Segurança Privada (Sindesp) do Distrito Federal
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
Enquanto a empresa brasileira reafirma que não acredita em 'apocalipse maia' e vendi seus produtos para proteger os clientes contra ameaças reais, a americana Terravivos entre na onda do calendário maia para aquecer suas vendas
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
'O mundo está no limite, tanto economicamente quando politicamente, enquanto muitas previsões estão acontecendo. A profecia maia está no fundo de nossas mentes, mas apenas como um sinal de que é tempo para se preparar', afirma a diretora de mídia da Terravivos, Barbi Grossman.
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
Wagner Hebling, diretor da Bunker Brasil, garante que seus clientes não procuram adquirir abrigos subterrâneos motivados pelas interpretações do calendário maia. A empresa brasileira, além da construção dos abrigos abaixo do solo, faz blindagens arquitetônicas para grandes construtoras, empresas e pessoas físicas
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
'Eles não acreditam que o mundo irá acabar, como o divulgado fim do mundo, por muitas mídias. Também não acreditam que poderá acontecer algo realmente catastrófico em uma data específica como algumas pessoas deduzem em relação ao calendário Maias', afirma
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
Segundo Hebling, a empresa tem a sua opinião oficial e comunica isso aos clientes. 'A posição da empresa Bunker Brasil é bem clara. Declaramos abertamente que não acreditamos no fim do mundo'
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
O bunker, além de desastres naturais, é vendido como uma opção para defesa contra a criminalidade. Se uma casa bem munida de equipamentos de segurança não é o suficiente, o bunker pode ser opção mais reforçada
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
'Podemos dizer que as precauções dos nossos clientes são as mais diversas. Vão desde proteção contra assaltos até adversidades mais graves, que poderão gerar alterações sociais drásticas com as quais muitas pessoas não estão habituados a se deparar', diz Hebling
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
Apesar de, em várias ocasiões, Robert Vicino, CEO da Terravivos, ter se manifestado publicamente afirmando que uma grande quantidade de pessoas já havia reservado ou adquirido bunkers, não existe uma estatística oficial sobre essa procura ¿ segundo Pereira, por questões de segurança
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
'Clientes solicitam bunker também contra invasão de criminosos em suas propriedades rurais, desejando um local seguro para a permanência de sua família até o socorro policial chegar ao local, que muitas vezes é distante da área urbana'
Foto: Bunker Brasil / Divulgação
Os especialistas nesse tipo de construção, afirmam que é possível fazer um bunker para abrigar uma pequena família ou até para grupos com mais de 100 pessoas. Além da estrutura de segurança, é desenvolvido mobiliado, pronto para morar, de modo a oferecer conforto aos refugiados
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
O número de cômodos e o tamanho varia, assim como o preço, que pode ultrapassar R$ 1 milhão, dependendo da complexidade e luxo. É concebido de maneira a ter seu fornecimento de água, energia elétrica e telefone independentes do restante da casa. O tempo de permanência em um bunker depende apenas da quantidade de suprimentos estocados
Foto: Bunker Brasil / Divulgação
Além de especular sobre o possível apocalipse maia, a Terravivos também usa possíveis situações de terrorismo nuclear e anarquia ¿ provocada pelas crises econômicas em larga escala ¿ como argumentos de venda
Foto: 2012 Terravivos.com / Divulgação
'As interpretações apocalípticas sempre povoaram a cabeça das pessoas, e a cada período surgem novidades no mercado tentando atrair compradores e adeptos às suas ideias de 'salvação' das catástrofes. Mais recentemente fala-se das interpretações do calendário maia', diz Irenaldo Pereira