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Filhote de ave amazônica sobrevive se camuflando como lagarta venenosa

23 mar 2015 - 10h11
(atualizado às 10h11)
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A vida na floresta tropical não é fácil e por isso algumas espécies desenvolvem extraordinários mecanismos de defesa, como é o caso do filhote da "chorona-cinza", uma espécie de ave da família Tityridae, típica da América do Sul, e que os cientistas acabam de descobrir que tenta passar despercebido pelos predadores assumindo a aparência de uma lagarta venenosa.

A descoberta foi feita por pesquisadores da Universidade Icesi, em Cali, na Colômbia, que se depararam na Amazônia peruana com um ninho da espécie e descobriram que em situação de perigo os filhotes mostram penugens laranja vibrante com pontas brancas, ficando parecidos com uma lagarta venenosa da família megalopygidae que vive na região.

Gustavo Londoño, professor do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Icesi, disse que, depois de várias observações, os pesquisadores conseguiram estabelecer que o comportamento destas aves recém-nascidas indica que a cada vez que algo desconhecido se aproxima do ninho, elas "sabem" que se têm que se comportar como uma lagarta.

Segundo Londoño, seis dias depois de começarem o monitoramento da ave, notaram que ao retirar o filhote do ninho, ele não pedia alimento, como é de costume, mas sim começava a mover a cabeça lentamente de um lado para o outro, assim como algumas lagartas.

Em contrapartida, quando os pais se aproximavam um som peculiar era emitido, significando o pedido de comida.

O segredo destes animais, que na vida adulta medem 20 centímetros, pesam em média 46 gramas e que habitam a parte norte da América do Sul, está em sua capacidade de "mimetismo batesiano", um mecanismo usado pelas "espécies não-venenosas utilizam para imitar as espécies venenosas, para se proteger dos predadores". E foi exatamente esta habilidade que chamou a atenção dos pesquisadores.

"Os adultos desta espécie são de cor cinza, muito diferente da cor alaranjada dos filhotes", explicou Londoño ao detalhar as razões que os levaram a aprofundar o estudo.

Londoño e o também pesquisador da Universidade Icesi, Duván García, iniciaram há alguns anos um estudo no Parque Nacional do Manu, no Peru, para determinar a forma com que as aves modificam suas estratégias de nidificação para se proteger dos predadores e enfrentar as mudanças de temperatura.

Nesse caminho, encontraram o ninho da espécie e os exemplares de uma lagarta venenosa da família megalopygidae, que tinha a mesma cor e quase o mesmo tamanho dos filhotes do pássaro.

Com esta habilidade, as pequenas aves "Laniocera hypopyrra" se unem à lista de espécies capazes de adotar a aparência de outras, como o polvo thaumoctopus mimicus, que é capaz de imitar a aparência de, pelo menos, 15 criaturas marinhas.

O grupo de pesquisa focou as buscas na nidificação porque considera que esta etapa é um dos estágios cruciais da vida das aves, já que o sucesso reprodutivo faz com que grande parte dessas povoações sobreviva ao longo do tempo.

"Durante a nidificação, as aves enfrentam um grande embate entre sobreviver e manter a sobrevivência de seus filhotes", comentou Londoño.

Nos últimos anos, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) vem alertando que as aves da Amazônia estão mais ameaçadas e o risco de extinção tem aumentado "substancialmente".

Segundo a instituição, há, aproximadamente, 100 espécies ameaçadas em países como Colômbia e Peru, que têm a maior biodiversidade de aves do mundo.

EFE   
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