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Exposição usa ciência e cultura para conscientizar sobre a riqueza do Chaco

27 mar 2016 - 10h07
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Uma exposição usa fotografias, vídeos e até um videogame para descrever a exuberante natureza e a cultura milenar do Chaco, segunda floresta mais extensa da América do Sul, e apelar à consciência ambiental do Paraguai, país que mais árvores destrói na região compartilhada com Brasil, Argentina e Bolívia.

A segunda maior extensão florestal da América do Sul, depois da Amazônia, é quase tão desconhecida nas capitais dos próprios países que a abrigam quanto na Europa, Ásia ou África.

Ao contrário da Amazônia mínima é a noção que um morador de Buenos Aires ou de Assunção costuma ter do Chaco.

Às grandes cidades sul-americanas essa parca noção de sua exuberante natureza chega por meio de algumas fotografias ou documentários. Nas descrições coloquiais é mencionado como um lugar árido e às vezes "deserto", quando não há nada mais afastado da realidade.

No Gran Chaco existem mais de 20 povos indígenas milenares, entre eles o único em isolamento voluntário que resta na América fora da Amazônia, e vários matizes climáticos que dão lugar a uma gigantesca biodiversidade.

Poucas vezes se aborda com profundidade sua imensa riqueza natural composta por árvores únicas como o lapacho e o samu'u, conhecido como "pau bêbado", e animais como o yaguareté, o maior felino da América, que no Brasil chamamos de onça pintada.

Entre seus milhões de hectares virgens se escondem ainda centenas de espécies de pássaros, insetos e outros animais que biólogos de todo o mundo anseiam por descobrir, seja nos pântanos da estação de observação biológica paraguaia Los Tres Gigantes ou na floresta de quatro milhões de hectares do parque Kaa-Iya da Bolívia.

A exposição "Território Acotado/Expandido", do projeto "Chaco Ra'anga" ("A figura do Chaco", em guarani), uma iniciativa da Cooperação Espanhola, órgão do Ministério de Relações Exteriores da Espanha, procura pôr o foco em todos estes temas, sobretudo nas múltiplas ameaças que espreitam sua abundante natureza e diversidade cultural.

Duas enormes mensagens estampam uma das paredes do Centro Cultural da Espanha em Assunção: "Desaparições de indígenas na ditadura de Stroessner" e "Glifosato de venda livre no Paraguai", apenas dois dos muitos gritos de alarme apresentados pelos 12 criadores que compuseram a exposição após viajar durante um mês por toda a região.

O etnocídio sofrido pelos povos originais da região, afetados principalmente na Argentina e no Paraguai no século XX e na atualidade, protagoniza o trabalho dos artistas e cientistas do projeto, que também refletem o crescimento da fronteira agropecuária com cultivos transgênicos e o drama do desmatamento.

Não em vão o projeto começou no Paraguai, o país onde se destruiu 81% das 20 milhões de árvores que desaparecem em média a cada mês no Gran Chaco. O resto do desmatamento fica distribuído entre Argentina, com 10%, e Bolívia, com 9%, segundo as Nações Unidas.

"É muito rica em biodiversidade e culturas indígenas, é uma das poucas regiões onde restam indígenas vivendo em isolamento voluntário, acredito que é a razão mais importante para que o Chaco fosse selecionado como área estratégica", disse à Agência Efe Eloisa Vaello, diretora do Centro Cultural da Espanha.

"Ninguém retorna do Chaco (quem volta é, em parte, outro)", resume uma citação do escritor paraguaio e ex-ministro de Cultura, Ticio Escobar, na entrada da exposição composta por fotografias, materiais audiovisuais e instalações artísticas.

Em um espaço da exposição, um gigante retrato de um líder indígena ayoreo totobiegosode, família dos últimos isolados, ocupa o centro de uma parede branca, rodeada por uma dezena de fotografias de mãos de integrantes de outras comunidades nativas de Paraguai, Bolívia e Argentina.

A maioria dos totobiegosode foi obrigada a abandonar suas florestas a partir de 1979, quando a "Missão Novas Tribos", um grupo evangélico americano, entrou em seu território para "evangeliza-los" e, de quebra, usá-los como mão de obra em estâncias criadoras de gado dos colonos menonitas, chegados na década de 1920 ao Paraguai.

O pequeno grupo de totobiegosode que conseguiu safar-se dos missionários vive como antes da colonização espanhola e a defesa de seu modo de vida é a de todo seu entorno natural.

Esta e outras muitas histórias compõem o eclético conjunto artístico e documental que a Chaco Ra'anga mostrará no futuro em Buenos Aires, La Paz e Madri.

EFE   
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