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Expedição tenta alcançar "lugar mais inacessível do mundo"

20 out 2015 - 08h11
(atualizado às 08h54)
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Equipe britânica Ice Warrior pretende viajar de mais de 1.000 km até o lugar mais remoto do mundo
Equipe britânica Ice Warrior pretende viajar de mais de 1.000 km até o lugar mais remoto do mundo
Foto: Divulgação/BBC Brasil

No centro do Oceano Ártico ainda há um polo a ser conquistado. E agora uma equipe britânica planeja uma viagem de mais de 1.000 km para ser a primeira a atingir o lugar mais remoto do mundo.

O Ártico pode ser um lugar cruel, sobretudo em seu ponto mais distante. O Polo Norte ou Ártico de Inacessibilidade marca o lugar mais difícil de alcançar. É o ponto mais afastado de qualquer porção de terra, a cerca de 450 km do Polo Norte geográfico.

Chega-se a esse ponto cruzando uma camada espessa de gelo que cobre um oceano de até 5,5 km de profundidade. As temperaturas podem atingir -50Cº no inverno e é escuro de outubro a março.

A expedição do próximo ano será a terceira tentativa de Jim McNeill's nesse polo. As duas viagens anteriores do explorador não saíram como planejadas. Na primeira vez, uma infecção por uma bactéria comedora de carne o manteve no acampamento base.

Foto: Divulgação/BBC Brasil

Na segunda tentativa, em 2006, ele caiu no gelo depois de uma tempestade. "Os três dias seguintes foram horríveis", ele diz. "A camada de gelo de três metros e meio estava quebrando de forma contínua, e dormir se tornou um problema real."

McNeill chegou a 270 km da última porção de terra, mas com o chão se desintegrando, foi obrigado a interromper a jornada.

Antártica

Na outra extremidade da Terra, na Antártida, também há o ponto mais distante da costa. Por causa de discordâncias sobre o local em que a costa acaba, exploradores viajaram a diferentes locais em busca do Polo Sul de Inacessibilidade.

Jim McNeill é o lider da expedição que deve partir em 2016
Jim McNeill é o lider da expedição que deve partir em 2016
Foto: Divulgação/BBC Brasil

A tradição diz que esse ponto foi atingido pela primeira vez no final dos anos 1950, por uma expedição russa. A equipe montou uma estação de pesquisa no local, com um busto do líder comunista Vladimir Lênin (1870-1924). Quando o local foi revisitado em 2007, a cabana estava soterrada e apenas a estátua aparecia em meio à neve.

Enquanto outras equipes alcançaram o Polo Sul de Inacessibilidade, o Polo Ártico se mostra mais difícil de alcançar. Considerava-se que o explorador polar australiano Hubert Wilkins havia sobrevoado o ponto em 1927.

Um busto de Lênin marca o Polo Sul de Inacessibilidade
Um busto de Lênin marca o Polo Sul de Inacessibilidade
Foto: Divulgação/BBC Brasil

O explorador britânico Wally Herbert pensou ter alcançado o local a pé durante sua jornada de 5,9 mil km pelo Oceano Ártico congelado nos anos 1960. Mas o polo estava no lugar errado.

McNeill foi o primeiro a suspeitar que as coordenadas estavam erradas. Um grupo de cientistas seguiu suas pistas, usando dados de satélite para obter um panorama mais nítido da área.

"Acredite ou não, mas a linha da costa do Ártico até o final dos anos 1990 e começo dos anos 2000 ainda tinha grandes erros por causa de mapeamentos incorretos de longa data", afirma Ted Scambos, do Centro Nacional de Neve e Gelo dos EUA, que participou do estudo.

Grupo irá usar qajaqs - um misto de trenó e canoa
Grupo irá usar qajaqs - um misto de trenó e canoa
Foto: Divulgação/BBC Brasil

Eles descobriram que o Polo Norte de Inacessibilidade estava a 214 km de distância do ponto antigo. Deveria ter sido um erro simples de detectar, diz Gareth Rees, do Instituto de Pesquisa Polar Scott, na Inglaterra, que ajudou a calcular a nova localização.

Se você imaginar o maior círculo possível de desenhar em qualquer oceano, o polo de inacessibilidade está no centro, diz Rees. Ele tocará a terra em três pontos, e esses locais definem o polo. No entanto, os velhos mapas apenas mostravam dois pontos, então estavam errados. "É um mistério que não resolvemos."

A Conquista do Polo Norte

Foto: Divulgação/BBC Brasil
  • O americano Robert Peary (1856-1920) reivindicou a descoberta do Polo Norte em 1909 (foto), mas hoje muitos questionam a precisão de sua navegação.
  • A primeira jornada comprovada foi feita pelo norueguês Roald Amundsen e pelo americano Lincoln Ellsworth; eles sobrevoaram o polo em 1926.
  • Os primeiros exploradores a alcançarem o polo integravam uma expedição soviética de 24 pessoas em 1948.
  • A primeira conquista comprovada do Polo Norte foi realizada por uma equipe britânica liderada por Wally Herbert (1934-2007) em 1969.

As novas coordenadas do Polo Norte de Inacessibilidade foram anunciadas em 2013. Ninguém até hoje atingiu o local de forma deliberada. A escala do desafio pode ser desconcertante para muitos.

"O gelo pode formar grandes montanhas", diz Nick Cox, da operação britânica da Antártica e gerente da estação ártica do Reino Unido. "Sempre há a possibilidade de cair por entre o gelo."

As jornadas até os polos extremos são diferentes. "Na Antártica é uma longa e gelada jornada de ski cross-country, mas no Ártico é como uma corrida de obstáculos", explica Scambos.

Nova jornada

Isso não desanimou McNeill a planejar sua terceira tentativa. Em 2016, um time de voluntários em seu projeto Ice Warrior (Guerreiro do Gelo) irá dar a largada em seus - um misto de trenó e canoa.

Jornada pelos confins do Oceano Ártico se assemelha a uma corrida de obstáculos, dizem especialistas
Jornada pelos confins do Oceano Ártico se assemelha a uma corrida de obstáculos, dizem especialistas
Foto: Divulgação/BBC Brasil

Se tudo correr bem, eles levarão 80 dias para atingir o objetivo. Eles medirão o gelo no caminho para colher dados sobre como ele está se desfazendo. Também registrarão a presença de ursos polares, embora ainda não saibam quantos aparecerão na rota.

"Eu não chamaria a região de um lugar inóspito", diz Donatella Zona, uma ecologista especializada no Ártico da Universidade de Sheffield. Mas não há conhecimento suficiente sobre a biodiversidade do Ártico, em parte pela dificuldade de realizar pesquisas de campo. "É muito duro. São meses de escuridão completa e temperaturas de -40Cº a -50Cº", ela diz.

A corrida para estudar o Ártico em meio a mudanças climáticas está se tornando mais urgente. Há quem diga que o Polo de Inacessibilidade não será inatingível por muito tempo. Há diferentes previsões sobre quando não haverá mais gelo de verão no Oceano Ártico, tornando a navegação na região mais fácil.

A camada de gelo do Ártico está ficando mais fina e o terreno, mais instável
A camada de gelo do Ártico está ficando mais fina e o terreno, mais instável
Foto: BBC

Mas as mudanças no gelo também tornam o polo mais difícil de alcançar a pé. A camada de gelo está ficando mais fina e o terreno, mais instável. "Cada vez mais eu penso que as pessoas não irão nem tentar fazer coisas como cruzar o Ártico", afirma Scambos.

McNeill e sua equipe irão começar a jornada durante o inverno no hemisfério norte, e esperaram conseguir cruzar o gelo antes que ele comece a quebrar. Mas precisarão se apressar no meio da escuridão, porque a rota até o Polo de Inacessibilidade está derretendo.

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