A 5 mil metros de altitude, o telescópio Alma é único no mundo. O segundo experimento científico mais caro na superfície do planeta (custou US$ 1,4 bilhão, atrás apenas do LHC) tem a maior capacidade em registrar o espectro eletromagnético de ondas milimétricas e submilimétricas – como nunca foi possível antes. Esse poder levou a uma animação dos astrônomos que querem trabalhar nessa área e superlotou a caixa de correio do telescópio: de cada 10 experimentos propostos ao telescópio, somente um pode ser aceito. Para os outros, não há tempo disponível.
"O Alma é, desde que teve a antena número nove operacional, o melhor telescópio em milimétrico e submilimétrico do mundo. O mais poderoso. Tem uma área coletora de fótons maior do que qualquer telescópio que existe. Segundo, por causa do lugar onde está. O Alma está em um lugar onde a atmosfera é super transparente para esse comprimento de onda. Não há nenhuma interferência porque não há vapor de água. Agora estamos observando com 32 antenas", diz ao Terra Gianni Marconi, astrônomo do Alma. Quando estiver completo, o observatório terá 66 antenas operacionais.
"Há um fator de 'overbooking'. Como todo projeto de astronomia, no início a pressão é altíssima, porque todos querem fazer o primeiro descobrimento. Quando se começa a observar com uma máquina assim, no primeiro ano se tem o melhor que se pode descobrir, porque são coisas que nunca foram investigadas antes", diz Marconi.
"Começamos com cerca de 1 mil, 1,1 mil propostas da comunidade internacional. Foram escolhidas 10% dessas propostas", afirma Pierre Cox, diretor do Alma.
Alma pode descobrir fenômenos que não se pensava possíveis:
Nos dias atuais, para um projeto desse tamanho, é necessário uma grande colaboração internacional. No caso do Alma, as partes são divididas quase igualmente, tendo como maior participante o Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês), com cerca de 37%. As demais partes estão com América do Norte (com Estados e Canadá) e Leste Asiático (Japão e Taiwan).
"Se você considerar a colaboração entre América do Norte e Europa, é o primeiro caso de um grande projeto em que as contribuições eram iguais, metade a metade. Até que o Leste Asiático entrou. Então é um projeto realmente global", diz Cox.
Para Marconi, a união entre países é necessária para projetos desse tamanho. Isso não significa que a ciência tem menos dinheiro do que no passado, mas que os projetos são mais ambiciosos hoje em dia. "Esse projeto não era possível fazer no passado por questões tecnológicas. Agora, para fazer esse tipo de projeto, que custa muito mais do que se podia fazer antes, é necessário encontrar recurso. E isso só é possível com um grupo de países."
"Se você olhar o resultado, a construção foi feita no tempo previsto. Eu acho que é um resultado realmente espetacular. Se você pensar em projetos dessa magnitude – o Alma custou US$ 1,4 bilhão –, eu acredito que será a maneira que seguiremos no futuro, com a colaboração", diz Cox.
Desafios
A construção do Alma não foi nada simples. Transportar antenas gigantes de três continentes para o deserto mais árido do planeta e colocá-las a 5 mil metros de altitude – o que o transforma no telescópio mais alto do planeta – exigiu um grande esforço dos membros do projeto.
"Antes de mais nada, encontrar um lugar. Isso foi um desafio importante. Tomou muitos anos percorrer o mundo para encontrar um lugar onde colocar esse telescópio", diz Marconi. O astrônomo lembra que foi – e ainda é – perigoso trabalhar a uma grande altitude, onde a quantidade de oxigênio é metade do que há no nível do mar. Ainda mais quando se lida com maquinaria pesada.
"Trabalhar a essa altitude é difícil para a natureza humana. É difícil concentrar-se. Há muito risco. É muito fácil cometer erros. E os erros, a essa altitude, podem ser fatais", diz Marconi.
"Eu visitei este lugar há muito tempo, antes de o Alma ser construído. Tudo teve que ser trazido para cá. Tudo teve que ser construído. Eu acredito que seja o mais complexo telescópio já feito. Tudo foi construído no Japão, na Europa, na América do Norte e então foi combinado aqui. É realmente marcante", diz Cox.
Foto: Matheus Pessel / Terra
O jornalista viajou ao Chile a convite do ESO.
Firmado em dezembro de 2010, o acordo de participação do Brasil no Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês) foi celebrado pelos cientistas brasileiros. Contudo, quase três anos depois o projeto, que custará aproximadamente R$ 1,1 bilhão ao longo de 11 anos, ainda espera aprovação do Legislativo. Veja a seguir algumas das instalações do ESO que os brasileiros podem ter acesso
Foto: Matheus Pessel / Terra
Com um espelho de 39 metros, o E-ELT será o maior telescópio óptico e infravermelo próximo
Foto: ESO/L. Calçada / Divulgação
O Cerro Armazones, no Chile, terá o topo explodido para dar espaço à construção do E-ELT. O Brasil pode ter papel fundamental no telescópio de 1 bilhão de euros, principalmente com o dinheiro que aplicará no acordo
Foto: Matheus Pessel / Terra
Atualmente, no local há apenas um pequeno telescópio para medir a turbulência da atmosfera e uma estação meteorológica
Foto: Matheus Pessel / Terra
O VLT é um conjunto de quatro telescópios com espelhos de 8,2 metros, entre os maiores e mais modernos do mundo. Os cientistas no Brasil podem enviar propostas para usar o tempo de observação deste e de outros telescópios do ESO
Foto: Matheus Pessel / Terra
Para membros do ESO, os brasileiros precisam entender os instrumentos e as capacidades dos telescópios para se integrar à comunidade do observatório
Foto: Matheus Pessel / Terra
No Cerro Paranal, onde fica o VLT, um dos principais telescópios do ESO, há diversas referências ao Brasil de bandeiras a nome de novela que apelida um dos túneis do VLT. O observatório tenta passar essa empolgação aos cientistas que ficam no Brasil
Foto: Matheus Pessel / Terra
Com nove antenas, o Alma já era considerado o melhor telescópio no registro de ondas milimétricas e submilimétricas. Quando estiver pronto, ele terá 66 antenas em funcionamento
Foto: Matheus Pessel / Terra
Para funcionarem corretamente, as antenas do Alma precisam ter uma sincronia de 1 milionésimo de milionésimo de segundo. Além disso, a distância entre cada antena e o computador que reúne os dados precisa ser conhecida com a precisão de equivalente ao diâmetro de um fio de cabelo humano. O equipamento ainda precisa reduzir as perturbações sofridas pelas ondas eletromagnéticas antes destas tocarem cada antena. Para fazer tudo isso, o Alma tem o melhor supercomputador não militar do planeta, o correlator
Foto: Matheus Pessel / Terra
A comunidade científica ficou animada com o Alma. Atualmente, com cerca de 30 antenas em funcionamento, o telescópio só consegue atender 10% dos pedidos de pesquisa
Foto: Matheus Pessel / Terra
O Apex foi um experimento feito para a criação das antenas europeias do Alma. Com 12 metros de diâmetro, ele fica no mesmo platô que o irmão maior, a 5,1 mil metros de altitude
Foto: Matheus Pessel / Terra
A baixa umidade, a pequena "turbulência" da atmosfera e o céu limpo em praticamente todo o ano fazem do Atacama o melhor local do planeta para observar o espaço, por isso tantos países constroem telescópios por aqui. Na parte inferior esquerda da imagem é possível ver a cúpula da Residência, onde vivem os astrônomos, engenheiros e técnicos durante os períodos de observação
Foto: Matheus Pessel / Terra
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