A captação pelo observatório espacial Herschel de uma fusão incomum entre duas galáxias poderia resolver a incógnita de como as grandes galáxias "passivas" se formaram no Universo originário.
A Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) explicou nesta quinta-feira, em comunicado, que as observações de Herschel permitem estabelecer que essas galáxias elípticas não se criam por uma fusão gravitacional de outras mais pequenas, como se acreditava até há década.
A razão é que o observatório espacial capturou o início da fusão entre duas galáxias em espiral, de características similares à Via Láctea, que poderia ter dado lugar a uma grande galáxia elíptica.
Essa fusão foi identificada inicialmente como uma única fonte e batizada como HXMM01. No entanto, um estudo mais detalhado revelou que se tratava de duas galáxias, cada uma com uma massa estelar equivalente a 100.000 vezes o Sol e com uma quantidade de gás de mesma ordem.
"Este monstruoso sistema de galáxias em interação é a fábrica de estrelas mais eficiente jamais detectada no Universo primitivo, quando este tinha apenas 3 bilhões de anos", explicou Hai Fu, o autor do relatório, publicado na revista Nature.
O começo do encontro galáctico desencadeou uma "frenética atividade" de formação de estrelas, com um ritmo equivalente a 2.000 por ano, com as propriedades do Sol.
"Esta fusão nos ajudará a aperfeiçoar os modelos atuais que descrevem a formação e evolução das galáxias", declarou o coautor da publicação, Asantha Cooray.
No entanto, os cientistas especificaram que o sistema terminará esgotando suas reservas de gás, detendo a produção e se convertendo em uma população envelhecida de estrelas "vermelhas, frias e de baixa massa".
A equipe de Hai calcula que HXMM01 demorará 200 milhões de anos para transformar todo seu gás em estrelas, enquanto o processo de fusão demorará cerca de 1 bilhão de anos para se completar.
O resultado final, assinalaram, será uma galáxia elíptica em massa, vermelha e morta, com cerca de 400 bilhões de massas solares.
Telescópio espacial Herschel encerra atividades; veja imagens
Lançado em maio de 2009 para estudar a formação das estrelas, o telescópio espacial Herschel encerrou definitivamente suas atividades. Nesta projeção divulgada pela Agência Espacial Europeia, o telescópio tem como pano de fundo o berçário estelar W40, localizado a 1 mil anos-luz, na constelação de Aquila
Foto: ESA / Divulgação
Sua lente principal de 3,5 metros de diâmetro fez dele o maior e mais poderoso telescópio infravermelho enviado ao espaço
Foto: ESA / Divulgação
O telescópio foi enviado ao espaço no dia 14 de maio de 2009. Com vida útil prevista de pelo menos três anos, ele foi batizado em homenagem ao físico William Herschel, que descobriu o infravermelho em 1800
Foto: ESA / Divulgação
O instrumento conseguiu fazer um grande catálogo de imagens do espaço. Acima, nesta foto recente, o Herschel mostra as camadas de gás da Betelgeuse, uma das estrelas mais conhecidas
Foto: ESA/Herschel/PACS/MESS / Divulgação
O telescópio conseguiu estudar a evolução das galáxias. Nesta imagem, de uma pequena área da constelação Ursa Maior, incontáveis galáxias foram registradas
Foto: ESA/SPIRE/HerMES / Divulgação
Um dos instrumentos do Herschel é o HIFI. O espectrômetro consegue decifrar a química do espaço. O estudo realizado pelo Herschel do cometa Hartley 2 mostrou que o objeto tinha água e gelo com uma composição parecida com a dos oceanos da Terra
Foto: ESA/NASA/Herschel/HSSO/JPL / Divulgação
O Herschel será lembrado como o telescópio que produziu grandes panoramas de gás e poeira, como esta na constelação de Cygnus. Invisível aos telescópios óticos como o Hubble, estas nuvens e filamentos rastreiam os locais onde as estrelas se formarão no futuro
Com seus detectores infravermelhos, o Herschel conseguiu fazer novas imagens e fornecer novas informações sobre locais e corpos celestes conhecidos. Esta imagem mostra a constelação de Serpens, com nuvens de gás e poeira, que revelam os processos de formação de uma estrela
Foto: ESA/Herschel/PACS/SPIRE / Divulgação
A uma distância relativamente próxima de 2,5 milhões de anos-luz, a galáxia de Andrômeda tem um tamanho muito parecido com a Via Láctea. Aqui, as observações do Herschel (em laranja) estão combinadas com as do telescópio Newton XMM (em azul)
Foto: ESA/SPIRE/PACS/HELGA/EPIC/OM / Divulgação
Acima, a visão de Herschel da RCW 120, uma bolha de gás e poeira no espaço, em volta de uma grande estrela. Outra grande estrela, que tem entre oito e dez vezes a massa do Sol, está se formando na borda da bolha (objeto branco brilhante)
Foto: ESA/SPIRE/PACS/HOBYS / Divulgação
O telescópio revelou novos fatos sobre nossa própria galáxia. Aqui, examinando o centro da Via Láctea, o Herschel olha para uma 'fita' de gás frio e poeira que tem mais 600 anos-luz de comprimento e parece retorcida. Os cientistas ainda não conseguiram explicar a razão para isto
Foto: ESA/NASA/JPL-Caltech/Hi-GAL / Divulgação
O Herschel é um observatório espacial capaz de cobrir a faixa do infravermelho