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COP-15: africanos devem boicotar acordo dos EUA e emergentes

18 dez 2009 - 23h13
(atualizado às 23h17)
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Lúcia Müzell
Direto de Copenhague

A madrugada gelada mal começou e Copenhague está pegando fogo. O Sudão, país que presidente o grupo G77 dos países em desenvolvimento, anunciou que não vai assinar qualquer acordo que desconsidere o Protocolo de Kyoto, o alicerce sobre o qual os países ricos assumem as responsabilidades históricas pelo aquecimento global. Ao firmarem posições isoladas em forma de acerto político para tentar destravar as complexas negociações, Estados Unidos e as quatro nações emergentes - Brasil, China, Índia e África do Sul - acabaram implodindo a já mínima esperança de acordo internacional na maior conferência mundial já organizada na história.

Se a reversão foi involuntária ou fruto de uma estratégia preparada da Casa Branca para enfim terminar com os compromissos da responsabilidade histórica pelo aquecimento do planeta, ainda é cedo para saber. Mas o fato é que, longe de atrair o consenso mundial - como defendeu Obama depois de deixar a conferência -, o acordo político firmado entre os americanos e emergentes caiu como uma bomba no Bella Center, palco da confusão de versões e posições em que se transformou o evento.

O anúncio do acerto provocou indignação das nações africanas, que tiveram de improvisar uma coletiva de imprensa na imensa sala que abriga 3 mil jornalistas para chamar a atenção sobre a situação. "Este acordo viola uma tradição fundamental da ONU: um acordo não pode ser imposto. Este acordo colocou a conferência em uma situação ainda pior", denunciou Lumumba Di-Aping. "O Sudão jamais vai assinar um tratado que destrua a África", afirmou, acrescentando que "várias" nações pobres vão rejeitar um texto que faça referência ao acerto.

Americanos e emergentes chegaram, sozinhos, a um denominador em relação à verificação das ações de redução de emissões de gases de efeito estufa como condicionante para a liberação dos recursos para o financiamento para a mitigação nos países em desenvolvimento.

Além de passar por cima da regra de que um tratado sob a égide da ONU só é ratificado se sob o consenso, o que se desenha como documento final ainda é um texto pobre em ambições climáticas, muito distante do que sonhavam os ambientalistas. Sem metas de redução de emissões para os países desenvolvidos até 2020, nada sobre o dinheiro do financiamento das ações de mitigação nos países em desenvolvimento.

A imprensa demorou a perceber o que acontecia, até porque informações desencontradas surgiram de todos os lados. Boa parte dos jornais, especialmente americanos e franceses, saudaram a atuação dos líderes e o suposto acordo que estava sendo acertado.

Mas a debandada generalizada dos líderes bem antes do final das negociações era um mau sinal, ainda mais quando a grande maioria deles escapou sem falar com a imprensa internacional. A tradicional foto de família reunindo todos os líderes, um dos momentos que os governantes mais gostam nestes encontros, desta vez não foi tirada.

Como as negociações estão em curso, as delegações evitam se pronunciar. Mas sem serem identificadas, admitem que a reunião anda a passos rápidos para um fiasco completo. "Ninguém sabe no que isso vai dar e a insatisfação é generalizada", disse uma fonte.

Climate Go Green INFO 5
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Foto: Reuters
Fonte: Especial para Terra
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