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COP- 15: documento preliminar opõe frontalmente China e EUA

11 dez 2009 - 18h42
(atualizado às 18h46)
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Lúcia Müzell
Direto de Copenhague

As reações negativas ao documento preliminar que poderá servir de base para as negociações finais da Conferência do Clima de Copenhague na semana que vem não demoraram a aparecer. China e Estados Unidos se opuseram frontalmente sobre pontos essenciais do texto e colocam em risco desde já o futuro do tratado.

Climate World - INFO1
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Foto: Reuters

De um lado, os americanos prometeram que não vão assinar um acordo que preveja o financiamento para os países em desenvolvimento sem contrapartidas - em outras palavras, sem que os países mais pobres também se comprometam com metas específicas, e não voluntárias, de redução de as emissões de CO2 , tal como os ricos. Do outro, os chineses exigem que o financiamento seja realizado pelos países desenvolvidos, com responsabilidades históricas no aquecimento global.

Unindo os dois adversários, um ponto em comum bloqueia ainda mais as negociações de Copenhague: ambos não estão dispostos a assinar um acordo que seja legalmente vinculante - ou seja, que imponha responsabilidades jurídicas de os governos cumprirem o que for decidido na cúpula. Em bom português, eles não apenas defendem a adoção de metas voluntárias por parte dos países como se recusam a assinar um tratado que os obrigue a cumprir os tais objetivos.

"Em diversos pontos, o texto é construtivo, mas os Estados Unidos não consideram a seção sobre as metas de redução como uma base de negociações", afirmou o negociador-chefe da delegação americana, Todd Stern, em coletiva de imprensa na tarde desta sexta-feira. Para piorar o quadro, Stern reforçou a intenção americana de reduzir em apenas 17% as emissões de gases de efeito estufa, e isso em relação aos valores registrados em 2005. Se comparados aos valores de 1990 - de acordo com o que o documento sugere que seja feito - , a proposta americana representa apenas 4% de diminuição da poluição, meta que a maioria dos países se recusa a aceitar.

Do outro lado, o vice-ministro chinês das Relações Exteriores, He Yafei, rejeitou qualquer possibilidade de se submeter ao controle externo no que diz respeito ao cumprimento dos engajamentos. "Isso não significa que a China não vá fazer o que ela prometeu, mas que o que faremos será submetido às nossas próprias leis. Haverá um estatuto jurídico nacional e um regime de verificação e controle na própria China", disse Yafei. A proposta de redução de emissões da China também é considerada medíocre pelos negociadores reunidos em Copenhague.

As divergências entre os dois maiores poluidores do mundo jogaram um balde de água fria nas esperanças que o texto havia provocado na conferência. O negociador-chefe brasileiro, Luiz Fernando Figueiredo - que é um dos autores do rascunho, ao lado do maltês Micael Zammit Cultajar - tentou minimizar os efeitos das discordâncias, mas admitiu que o teor do documento não foi unanimidade entre as delegações durante as discussões à portas fechadas na tarde de hoje.

¿Ele teve muito boa acolhida. Percebido pelas delegações como um texto que avança na negociação¿, disse Figueiredo. "Salvo por algumas delegações, como as do chamado grupo do guarda-chuva EUA, Austrália, Canadá, Japão, Rússia, Ucrânia, Finlândia, Nova Zelândia que já manifestaram que tem dificuldades com a manutenção do Protocolo de Kyoto, por exemplo", afirmou Figueiredo, citando a oposição declarada destes países à manutenção do atual protocolo.

As delegações devem aprovar ou não a permanência deste primeiro esboço de relatório final até o final da noite. Se o texto for aceito, seguirá nas mesas de negociações durante o final de semana, já com a presença dos ministros de Estado dos 192 países reunidos em Copenhague.

Fonte: Especial para Terra
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