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Confira como foi firmado o acordo climático de Paris

13 dez 2015 - 12h23
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O acordo histórico que ontem foi selado por 195 países é resultado de um esforço diplomático sem precedentes, assim como da astúcia e capacidade tática de vários personagens chave.

O primeiro que decidiu assumir a aventurada façanha de tentar o acordo com as cerca de 200 nações com interesses opostos após o devastador fracasso da Cúpula do clima de Copenhague (2009) foi o presidente francês, François Hollande, que escolheu duas pessoas para liderar esta façanha.

Frente ao costume de designar como presidente da COP o ministro do ramo, Hollande optou por seu titular de Relações Exteriores, Laurent Fabius, conhecido por seu sangue frio, para liderar a Cúpula de Paris, apoiado por Laurence Tubiana, um diplomata envolvida nas negociações do clima desde Kioto (1997).

Tubiana é uma mulher forte com um profundo conhecimento dos complexos atores envolvidos na diplomacia climática e de suas sensibilidades e muito respeitada pelos mesmos por sua capacidade de escuta.

Apesar do esforço e da convicção da França, o acordo não teria sido possível sem o impulso recebido por líderes globais como os dos Estados Unidos, China, Índia e Alemanha, que entenderam que lutar contra o aquecimento não é uma questão setorial e meio ambiental, mas transversal, que afeta todas as políticas.

Cada um tinha suas razões: Barack Obama chegou à Casa Branca comprometendo-se a combater "a maior ameaça que pesa sobre as gerações futuras" e não queria deixá-la sem um pacto; e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, é muito consciente que necessita do apoio financeiro para levar energias renováveis a 20% de sua população sem acesso à eletricidade.

Também não se deve esquecer da secretária do convenção de mudança climática da ONU, Christiana Figueres, que assumiu o posto seis meses depois que o fracasso de Copenhague colocou seriamente em dúvida a capacidade das Nações Unidas como marco de entendimento dos países nesta questão.

Para transferir com força a mensagem de que era "o momento" do acordo, a costarriquenha se rodeou de uma equipe de 10 influentes personalidades de todo o mundo, entre eles o ex-presidente do México Felipe Calderón, e a ex-secretária de Estado espanhola de mudança climática, Teresa Ribera, hoje parte da delegação francesa e muito importante nas negociações com a América Latina.

Quando chegou a hora da verdade e começou a reunião de Paris, a França demonstrou ter aprendido de maneira extraordinária com os erros de Copenhague e dirigiu as negociações com uma transparência sem precedentes.

Na primeira semana, deixou as coisas em mãos dos negociadores, e no segmento de alto nível Fabius inventou um órgão chamado Comitê de Paris composto por 14 ministros para facilitar e liderar as negociações.

Os ministros não foram nomeados por acaso, mas escolhidos com astúcia entre os países que mais resistência ofereciam em alguns pontos, como Arábia Saudita, Venezuela, Bolívia e Brasil.

Na quinta-feira, quando a hora do acordo se aproximava e os países mostraram suas posturas mais duras, Fabius decidiu inteligentemente dar a sexta-feira como dia de reflexão, receber em seu escritório todos e adiar para o sábado o acordo.

Às 11h30 local (8h20, em Brasília) do sábado, um novo Fabius entrou no plenário para apresentar o acordo em meio à ovação dos presentes, o que demonstrava que os países tinham visto o texto final de consenso que a França terminou de redigir às 6h30 local (3h30, em Brasília) e que o aceitavam.

A França deu seis horas para que o documento fosse traduzido aos idiomas oficiais da ONU e revisado pelos juristas e convocou um plenário para sua aprovação às 17h30 local (14h30, em Brasília).

A Nicarágua -um dos nove países que não apresentaram objetivos de contribuição nacional na luta contra a mudança climática- indicou que se negava a aceitar a mudança e que pensava em bloquear o acordo.

A obstrução da Nicarágua pensou em sabotar o pacto, que obrigatoriamente devia ser aprovado por consenso, se não fosse porque o resto de países da Aliança Bolivariana para as Américas, Alba, (Venezuela, Equador, Bolívia e Cuba) a deixaram só.

Ao se ver encurralada, a Nicarágua decidiu esquecer o bloqueio e, duas horas depois do previsto, Fabius tomou posse do palanque para dar uma rápida martelada e um forte abraço a três com Tubiana e Figueres, enquanto grande parte dos presentes mostravam sua emoção.

EFE   
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