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ONU apresenta relatório sobre os recursos hídricos no mundo

12 mar 2012 - 13h08
(atualizado às 14h36)
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O quarto relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o desenvolvimento dos recursos hídricos no mundo, que foi apresentado nesta segunda-feira com a abertura em Marselha do Fórum Mundial da Água, constitui o documento mais exaustivo até o momento sobre o estado global deste recurso.

O texto, que recopila o trabalho de 28 membros e parceiros do organismo ONU-Água e é trienal, parte das pressões que serão exercidas pela mudança climática, pelo crescimento demográfico estimado em entre 2 e 3 bilhões de pessoas nos próximos 40 anos e o consequente aumento da demanda alimentícia e energética.

Adaptar-se aos efeitos de um aumento de dois graus na temperatura global, segundo estimativas do Banco Mundial em 2010, poderia custar entre US$ 70 e 100 bilhões, dos quais entre US$ 13,7 e 19,2 mil seriam destinados principalmente para a provisão de água e gestão de inundações.

A necessidade de responder a um aumento de 60% da demanda energética nas próximas três décadas e investir em energia limpa para reduzir os efeitos da mudança climática fazem da energia hidráulica e dos biocombustíveis fatores essenciais nos planos de desenvolvimento.

A Agência Internacional de Energia (AIE), de acordo com os números recolhidos no estudo, calcula que pelo menos 5% do transporte mundial será alimentado por biocombustíveis em 2030 e que sua produção poderia consumir entre 20 e 100% da quantidade total de água utilizada no mundo pela agricultura.

Levando em conta que um litro de etanol produzido a partir de cana-de-açúcar precisa de 18,4 litros de água e 1,52 metros quadrados de terra, a quantidade de água necessária a essas plantações poderia ser "particularmente devastadora" em regiões como a África Ocidental, onde é escassa.

A agricultura capta atualmente 70% da água doce do planeta e para 2050 é previsto um aumento necessário de mais 70% da produção agrícola e 19% de seu consumo mundial de água, porcentagem que poderia ser maior dependendo de progressos tecnológicos e decisões políticas adequadas.

Os outros setores econômicos continuarão disputando o acesso aos recursos hídricos, e a partir das conclusões apresentadas nesta segunda-feira, se o atual modo de consumo não mudar, a necessidade de água destinada à produção energética crescerá 11,2% até 2050.

Dentro dessa mesma perspectiva temporal, o aumento da população em terras inundáveis, a mudança climática, o desmatamento e a alta do nível do mar ameaçam aumentar o número de pessoas expostas a inundações a 2 bilhões. O custo econômico dessa situação é considerável: a ONU calculou em 2011 que 90% dos desastres naturais estão ligados à água e que o custo total das pelo menos 373 catástrofes naturais registradas em 2010 chegou a US$ 110 bilhões.

O relatório afirma que nenhuma região se livra da pressão sobre os recursos hídricos: 120 milhões de europeus não têm acesso à água potável. No sul da Europa, certas partes da Europa central e do leste europeu os cursos de água podem chegar a perder até 80% de seu volume no verão. Na África, onde a taxa média anual de aumento da população ronda 2,6%, 1,4 pontos a mais que a média mundial, a demanda implícita de água acelera a degradação de seus recursos hídricos.

Uma parcela de 66% do continente africano é árido ou semi-árido e mais de 300 milhões dos 800 que habitam a África Subsaariana vivem em um entorno pobre em água, equivalente a menos de mil metros cúbicos por habitante por ano. A Ásia e o Pacífico, por outro lado, abrigam 60% da população mundial mas não possuem mais que 36% dos recursos hídricos. Em 2008, segundo o texto, cerca de 480 milhões de pessoas não tinham acesso a uma fonte de água de qualidade e 1,9 bilhões não possuíam infraestrutura sanitária correta.

Na América Latina e no Caribe o crescimento demográfico e a alta da atividade industrial duplicaram a taxa de extração de água no século 20. Além disso, dados de 2010 mostram que o degelo das geleiras afeta a provisão de água de cerca de 30 milhões de pessoas.

Entre os árabes e a Ásia Ocidental pelo menos 12 países são atingidos por uma penúria completa de água, equivalente a menos de 500 metros cúbicos por pessoa por ano. Os conflitos cíclicos também pressionam as fontes e os serviços de água das regiões de amparada dos exilados.

O texto fornece além disso outros dados em nível global, como que 80% das águas residuais não são recolhidas nem tratadas e vão direto a outras massas de água ou se infiltram no subsolo, que é fonte de problemas de saúde para a população e de uma deterioração do meio ambiente.

Apesar dos poucos dados sobre as camadas freáticas, consideradas reservas naturais de água, a estimativa é de que sejam fundamentais para a subsistência e a segurança alimentar de entre 1,2 e 1,5 bilhões de famílias rurais nas regiões mais pobres da África e da Ásia.

Apesar das dificuldades de dispor de previsões concretas, o estudo encoraja principalmente a prevenção: a OMS estima que os benefícios econômicos globais apresentados com a redução pela metade do número de pessoas sem acesso sustentável a água potável e instalações sanitárias supera em oito vezes o custo dos investimentos.

O presidente do Conselho Mundial de Água, Loïc Fauchon, abriu o Fórum da Água na França
O presidente do Conselho Mundial de Água, Loïc Fauchon, abriu o Fórum da Água na França
Foto: AFP
EFE   
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