Cúpula dos Povos divulga documento e questiona modelo da Rio+20
- Giuliander Carpes
- Direto do Rio de Janeiro
Depois de se reunir com o secretário-geral da ONU e demonstrar seu descontentamento com as definições da Rio+20, a Cúpula dos Povos se encaminha para seu desfecho com uma caminhada e novos protestos. O comitê facilitador da reunião reclama que o modo de discussão de questões fundamentais para a humanidade está equivocado e a conferência não passou de um grande teatro.
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"Os chefes de Estado apenas assinaram um documento de consenso negociado por seus diplomatas. Isso é um fracasso. É preciso dar mais voz à sociedade civil", sugere o membro do comitê facilitador da Cúpula dos Povos, Darci Frigo. "O sistema ONU é formado por interlocutores que são os principais responsáveis pela crise climática. Temos de rever o sistema de participação nas Nações Unidas. A sociedade civil que se preocupa em reciclar e iniciativas não poluentes não está sendo escutada."
Os integrantes do comitê facilitador da reunião de movimentos que ocorre no Aterro do Flamengo garantem que seu documento final é mais forte que aquele referendado pelos chefes de Estado no Riocentro.
"Aprofundamos a discussão, o que a Rio+20 não fez porque os chefes de Estado apenas assinaram um documento. Terminamos a Cúpula dos Povos com pelo menos três bandeiras que foram esquecidas pelos chefes mundiais: conceitos de agroecologia, a defesa dos territórios dos povos tradicionais e os direitos das mulheres", disse Darci Frigo, integrante do comitê de conciliação e que participou de reunião com o secretário geral da ONU Ban ki-moon.
Os movimentos sociais que estiveram discutindo no Aterro do Flamengo alternativas para a Rio+20 fizeram uma caminhada até os arcos da Lapa, no centro do Rio de Janeiro, protesto que serviu como encerramento oficial para a Cúpula dos Povos. Ainda leram o teor da carta da reunião "em defesa de justiça social e ambiental, em defesa dos bens comuns e contra a mercantilização da vida", segundo o documento.
A principal crítica da Cúpula dos Povos é contra a economia verde, tema de grande controvérsia também na Rio+20. "É uma maneira de esverdear uma economia baseada no petróleo e grande poluidora do meio ambiente", afirmou Frigo. "O que nos preocupa é que o documento final da Rio+20 não traça metas e compromissos claros e é visto como um primeiro passo. Isso mostra que não foi feito avanço nenhum desde a Rio 92."
Sobre a Rio+20
Vinte anos após a Eco92, o Rio de Janeiro voltou a receber governantes e sociedade civil de diversos países para discutir planos e ações para o futuro do planeta. A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que termina hoje, deverá contribuir para a definição de uma agenda comum sobre o meio ambiente nas próximas décadas, com foco principal na economia verde e na erradicação da pobreza.
Depois do período em que representantes de mais de 100 países discutiram detalhes do documento final da Conferência, o evento ingressou quarta-feira na etapa definitiva e mais importante. Nesta sexta, o Segmento de Alto Nível faz sua última plenária e encerra a Rio+20 com a presença de diversos chefes de Estado e de governo de países-membros das Nações Unidas. Em um dos discursos mais esperados, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, defendeu os direitos reprodutivos das mulheres e uma economia de inclusão como garantia de prosperidade.
Apesar dos esforços do secretário-geral da ONU Ban Ki-moon, vários líderes mundiais não vieram ao Brasil, como o presidente americano Barack Obama, a chanceler alemã Angela Merkel e o primeiro ministro britânico David Cameron. Além disso, houve impasse em relação ao texto do documento definitivo, que segue sofrendo críticas dos representantes mundiais. Ainda assim, o governo brasileiro aposta em uma agenda fortalecida após o encontro.