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América Latina dividida entre comprometimento e desunião nas negociações sobre alterações climáticas

8 jun 2015 - 17h51
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A América Latina mostra interesse e um claro compromisso com a nova rodada de negociações sobre a mudança climática da ONU em Bonn (Alemanha), mas sem uma frente unida, ao contrário de outras regiões, como a Europa.

No último meio século, a América Latina contribuiu com menos de 5% das emissões de dióxido de carbono responsáveis pelo aquecimento global, mas é uma das regiões que mais pode sofrer caso a temperatura média aumente em mais de 2°C de hoje a 2050.

Esse é o limite que, segundo os cientistas, não deve ser ultrapassado a risco de que o planeta sofra um impacto irreversível devido ao aquecimento. E esse é o objetivo da conferência ministerial convocada em Paris no final do ano (COP21), que deve fechar as negociações atuais.

A América Latina "é uma região que agrega" ao complexo debate de negociações, com um texto cheio de interrogações sobre as próprias dúvidas da comunidade científica sobre qual é o melhor método para lutar contra a mudança climática, explica Laurence Tubiana, negociadora-chefe da França e encarregada de atingir o consenso entre os mais de 190 países que participam de Bonn e depois Paris.

Foram os países latino-americanos que impuseram a noção de adaptação às alterações climáticas para facilitar as negociações na conferência em Lima (2014).

Ao mesmo tempo, "há um grande contraste entre as posições das pequenas ilhas ameaçadas de desaparecimento, os produtores de petróleo, o Brasil com seu grande problema de desmatamento, e a Argentina, cuja posição tem mudado" ao longo dos anos, explicou a negociadora francesa em um recente seminário no Senado francês.

Para os mais ardentes defensores da luta contra o efeito estufa, como Quito, boa parte desta divisão deve-se à "concorrência feroz na região por investimento" estrangeiro, como disse na reunião de Paris Walter Schuldt, diretor de questões estratégicas do Ministério das Relações Exteriores equatoriano.

A China, maior emissor de gases de efeito estufa, é o maior cliente de matérias-primas e uma enorme investidor no setor de mineração e energia da América Latina.

Depois, há as próprias necessidades de desenvolvimento da região que estão acontecendo em parte pelos métodos tradicionais, tais como o investimento em transportes.

Cerca de 47% das emissões de gases de efeito de estufa na América Latina e no Caribe vêm do desmatamento, e 20% da indústria.

Mas na carteira de investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e de outras instituições para combater a mudança do clima (quase 21 mil milhões em 2013), a grande prioridade foram os investimentos em matéria de transporte responsável.

"Parte do problema é a insegurança e as barreiras legais, e a posse da terra" é um dos problemas históricos da região, reconheceu David Wilk, vice-chefe do serviço de mudança climática do BID. "É uma área em que é necessário um esforço muito maior", concordou.

A América Latina queima florestas para dar espaço ao cultivo e explorar minas, mas a região continua a ser muito boa aluna em termos de emissões, sendo responsável apenas por cerca de 9% das emissões globais.

No entanto, o impacto da subida do nível do mar teria consequências dramáticas para as costas, densamente povoadas, de dezenas de países da região.

Na região do Caribe, a opção foi integrar a Aliança das Pequenas Ilhas-Estado (39 membros) com nações da Ásia-Pacífico para defender seus interesses por conta própria.

No entanto, foi a iniciativa do México, na conferência de Cancún de 2010, após o fracasso retumbante de Copenhague no ano anterior para lançar as bases da luta contra as alterações climáticas, o que permitiu relançar o processo inteiro.

A presidência do México "teve a inteligência processual para relançar as negociações", elogiou Tubiana. Sua equipe tem trabalhado em estreita colaboração com a presidência do Peru, que organizou a COP em Lima, em dezembro do ano passado.

A região tem um "potencial de liderança" junto a União Europeia para chegar a um acordo em Paris no final do ano, considerou Tubiana.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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