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Bijuteria bovina é usada para espantar moscas tsé-tsé no Quênia

30 dez 2012 - 06h10
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A vaca Kamoli pode não parecer diferente, mas na realidade se tornou uma espécie de antílope aquático graças a um inovador colar que emite o cheiro pestilento do animal selvagem e mantém as letais moscas tsé-tsé afastadas.

Como Kamoli, mais de 1,5 mil cabeças de gado que pastam nas quenianas Colinas Shimba, no sudeste do país, testam um sistema inovador que espanta as moscas, sem necessidade de fustigá-las com o rabo.

"Se a vaca usa o colar, é como se vestisse a pele de um antílope aquático, e as moscas não a atacam", explica Christian Borgemeister, diretor-geral do Centro Internacional de Fisiologia de Insetos e Ecologia (ICIPE), encarregado do projeto.

As picadas das moscas - que provocam a denominada doença do sono nos humanos, nagana nos animais - dificultam o crescimento das vacas (ao não deixar-lhes pastar tranquilas), a criação, e afetavam sua produção de leite, entre outros inconvenientes.

"As moscas não atacam nem os antílopes aquáticos, nem as zebras. Nós identificamos o componente que mantinha as moscas afastadas. Tentamos testar com zebras primeiro, mas são muito selvagens e não permitem a aproximação. Parecem burros, mas não são domesticáveis", comenta Borgemeister.

Dessa forma, os colares - de desenho tosco e que de longe podem ser confundidos com um badalo - exalam o mau cheiro dos antílopes aquáticos graças a uma mistura artificial intragável de cinco substâncias químicas disponíveis no mercado.

"A verdade é que o cheiro é horroroso", reconhece o cientista, que realiza análises mensais das cabeças de gado que fazem parte deste programa, financiado pela União Europeia com 1,5 milhão de euros.

O raio de ação do perfume espanta-moscas é de entre 50 e 100 metros ao redor do colar, segundo as estimativas do cientista chefe do ICIPE, Rajinder Kumar, embora os responsáveis do projeto recomendem que cada animal tenha o seu.

"Antes do programa, as vacas morriam habitualmente. Comprava remédios e sprays para afugentar as moscas, mas meu gado continuava morrendo. Agora isso acabou", contou à Agência Efe Esther Mulinge, que tem 45 anos e dez vacas.

Esther gastava entre 2 mil e 3 mil xelins quenianos (entre R$ 45 e R$ 70) nesses remédios por mês, e o preço de cada colar ronda os R$ 8.

"Mesmo se custasse mais que os outros tratamentos, compraríamos, porque percebemos o efeito", asseguram vários criadores de gado da região.

O efeito - afirmam os beneficiados - é logo notado: ao pastar sem perturbações, os animais podem alcançar até 350 quilos, contra os 250 de antes de iniciar os testes com os colares, e, por isso, seu preço de venda chega a 42 mil xelins - antes não passava de 28 mil.

"Agora consigo quatro litros de leite de cada vaca por dia. Antes? Uma xícara", relata um fazendeiro, ressaltando que não costuma sacrificar os animais para obter carne, mas opta por comprá-los jovens e criá-los para aumentar seu valor no mercado com a passagem dos anos.

Os colares protegem ainda os criadores de gado quando estão perto dos ruminantes que os usam e, para reduzir o número de moscas no ambiente, os cientistas também desenvolveram as chamadas "vacas artificiais": barracas com lonas na cor azul - que atrai os insetos - borrifadas com a substância repelente.

E embora a queda da nagana entre as vacas com colar seja de 90%, os cientistas, embora otimistas, ainda não sabem como funcionará em áreas castigadas por outras variedades da mosca tsé-tsé.

EFE   
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