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Batalha do FBI com Apple tem semelhanças com disputa do Facebook no Brasil

1 mar 2016 - 18h08
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Conflito entre FBI e Apple levou a protestos, como esse da foto, em Nova York, a favor da empresa
Conflito entre FBI e Apple levou a protestos, como esse da foto, em Nova York, a favor da empresa
Foto: Justin Lane/EPA / BBC News Brasil

O caso que levou à prisão nesta manhã do vice-presidente do Facebook para a América Latina, Diego Dzodan, tem semelhanças com uma disputa ferrenha que tem sido travada nos Estados Unidos entre a Apple e a polícia federal americana, o FBI.

Os conflitos expõem a crescente pressão sofrida por empresas de tecnologia para colaborar com autoridades, alimentando um debate sobre as fronteiras entre o cumprimento da lei e a privacidade dos usuários.

Dzodan foi preso em São Paulo pela Polícia Federal por ordem do juiz Marcel Maia Montalvão, de Sergipe. A prisão ocorreu após o Facebook se recusar a entregar às autoridades dados de conversas no aplicativo WhatsApp – comprado pela empresa em 2014 – que, segundo autoridades, poderiam levar a traficantes de drogas.

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O Facebook diz que os dados não existem, já que o WhatsApp não armazena conversas. A companhia qualificou a prisão de "extrema e desproporcional" e disse que sempre esteve disponível para tratar de qualquer questão com autoridades brasileiras.

Nos Estados Unidos, o FBI pressiona a Apple a desbloquear o iPhone de um dos responsáveis pelo ataque que matou 14 pessoas em San Bernardino (Califórnia), em dezembro. O órgão diz que informações no celular poderiam ajudar a elucidar o caso.

A empresa afirma, porém, que é impossível desbloquear o aparelho sem a senha registrada pelo usuário, e que desenvolver uma tecnologia para coletar os dados criaria riscos para todos os clientes da marca.

FBI cobra da Apple desbloqueio de iPhone de atirador que fez ataque em San Bernardino
FBI cobra da Apple desbloqueio de iPhone de atirador que fez ataque em San Bernardino
Foto: Getty / BBC News Brasil

Para Jennifer Granick, diretora de Liberdades Civis do Centro de Internet e Sociedade da Universidade Stanford, na Califórnia, um dos principais argumentos da Apple na disputa com o FBI é evitar um precedente que poria em risco habitantes de países cujos governos desrespeitem direitos humanos.

"Ao se recusar a mudar seu sistema, a Apple diz querer garantir que informações privadas não sejam usadas por governos que perseguem homossexuais ou minorias religiosas, por exemplo", ela afirma à BBC Brasil.

Para Granick, a prisão do executivo do Facebook no Brasil poderá reforçar a posição da empresa: "Se a Apple fragilizar sua segurança, outros países poderão forçá-la a ceder informações – e nem sempre por motivos legítimos".

Granick cita uma diferença entre a disputa americana e a brasileira. Ela afirma que nos Estados Unidos há um sentimento geral de que executivos de empresas envolvidas em conflitos sobre privacidade não são criminosos e não deveriam ser presos.

Apesar disso, diz que o governo americano tem usado uma retórica bastante agressiva com as empresas de tecnologia e não descarta que no futuro autoridades tentem prender executivos, alegando riscos à segurança nacional caso não cooperem com determinados casos.

Apple afirma que desenvolver mecanismo para desbloquear iPhone prejudicará seus clientes
Apple afirma que desenvolver mecanismo para desbloquear iPhone prejudicará seus clientes
Foto: EPA / BBC News Brasil

Para Ahmed Ghappour, que leciona curso sobre liberdade, segurança e tecnologia na Universidade da Califórnia em Hastings, diplomatas americanos deverão buscar colegas brasileiros para abordar a prisão do executivo do Facebook.

Ele afirma que disputas entre empresas americanas e governos estrangeiros frequentemente entram na esfera da diplomacia.

Ghappour afirma que, quando cobrado por governos estrangeiros a divulgar informações, o Facebook costuma argumentar que os pedidos devem ser feitos por canais diplomáticos e seguir regras definidas em acordos bilaterais de compartilhamento de informações.

O problema é que, seguindo esses passos, as informações raramente chegam com a velocidade com que as autoridades locais gostariam.

E alguns países podem encarar disputas com companhias estrangeiras como uma questão de soberania nacional, o que legitimaria medidas extremas como prisões.

Para Ghappour, embora a prisão do executivo do Facebook se insira num debate global sobre "soberania e o que governos podem forçar empresas a fazer", a companhia deverá tratar a prisão como um caso localizado e basear sua defesa em especificidades da legislação brasileira.

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