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Arábia Saudita expõe joia milenar oculta por ordem religiosa há 81 anos

Acesso foi proibido em 1932 em cumprimento a uma ordem do profeta Maomé; apenas quem estivesse chorando ou em jejum poderia visitar o local

20 fev 2013 - 06h04
(atualizado às 09h01)
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Construção de Madain Saleh foi o primeiro sítio arqueológico saudita considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco
Construção de Madain Saleh foi o primeiro sítio arqueológico saudita considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco
Foto: EFE

A Arábia Saudita expôs ao turismo uma joia arqueológica milenar e Patrimônio da Humanidade, cujo acesso foi interditado há quase um século por motivos religiosos e que tem uma grande semelhança com o território de Petra, na Jordânia. A construção de Madain Saleh ("as cidades de Saleh") começou há cerca de 5 mil anos, no extremo noroeste do reino saudita, perto da cidade de Tabuk.

Foi quando a dinastia de Saud assumiu o controle do país, em 1932, que foi proibido o acesso a esta região, em estrito cumprimento a uma ordem do profeta Maomé que determinava que poderia fazê-lo apenas quem estivesse chorando ou em jejum em homenagem ao triste destino do povo que nela viveu.

Segundo a tradição, a região era habitada pela tribo dos tamudeus, antepassados dos árabes, que possuíam uma cultura avançada e tinham a capacidade de esculpir inscrições, além de fazer construções nas montanhas.

O Corão relata que Alá enviou seu profeta Saleh aos tamudeus afim de conseguir que este povo deixasse de adorar ídolos. Os tamudeus, incrédulos, pediram a Saleh que provasse ser um mensageiro divino, e, por isso, o profeta transformou em rocha uma camela que tinha a capacidade de produzir leite suficiente para toda a tribo, com o qual eram elaborados os melhores queijos e banhas. No entanto, os tamudeus, repletos de inveja, decidiram matar a camela para se livrar de Saleh.

A resposta divina, como diz a tradição, foi terrível, e a tribo acabou exterminada enquanto Saleh e alguns crentes a abandonavam. No final do último mês de dezembro, a Organização Geral do Turismo e da Arqueologia saudita anunciou que iria abrir o local para visitas e que estava disposta a receber turistas. Em 2008, a Unesco nomeou Madain Saleh, Património da Humanidade, sendo considerado o primeiro sítio arqueológico saudita com tal reconhecimento.

Madain Saleh tem aproximadamente 15 quilômetros quadrados e tem ao seu redor cerca de 138 túmulos, alguns deles com inscrições que demonstram a importância que os mortos possuíam na sociedade, como seu nome e, às vezes, sua idade. Além disso, o local abriga casas e mausoléus esculpidos na rocha da montanha, também com inscrições. A área foi habitada posteriormente por assírios, nabateus (autores das principais construções e cuja capital era em Petra) e romanos.

Durante os últimos cinco anos, as autoridades arqueológicas sauditas fizeram um grande esforço para convencer os dignatários religiosos a aceitar a abertura desse lugar ao turismo. O presidente dessa instituição, o príncipe Faisal bin Salman, disse em setembro do ano passado que tinha contatado pessoalmente ulemás para permitir a visitação do local.

Dois prestigiados clérigos aceitaram o pedido, os xeques Abdullah al Mutleq e Abdullah al Mania, que visitaram Madain Salehn - um gesto que espera-se que contribua para romper o temor religioso de entrar na região.

Desse mesmo lugar, os ulemás convidaram à visitação os sítios arqueológicos da área "para aprender a experiência do que sofreram antigos povos e estudar a história". Apesar disso, outros clérigos consideraram que a visitação a esses lugares não são permitidas pelo islã.

Em declarações à Agência Efe, o vice-presidente da Organização Geral de Turismo e da Arqueologia, Ali al Gaban, disse que a região vizinha de Al Ulaa presenciará um forte progresso econômico em um futuro próximo, com a criação de empregos e a construção de hotéis. Além disso, Gaban destacou que esta zona arqueológica possui também uma estação da mítica ferrovia Al Hejaz, construída pelos turcos otomanos e que uniu Damasco à cidade saudita de Medina entre 1908 e 1916. Esta estação foi imortalizada no filme "Lawrence da Arábia" pelos ataques que sofria por parte de um oficial britânico e seus aliados árabes, explicou Gaban.

"Nossa instituição preparou um museu da ferrovia e outro sobre os caminhos que os fiéis faziam em sua peregrinação aos santuários (de Meca e Medina). Além disso, instalou serviços e sinais que dão ao visitante informação histórica sobre cada monumento arqueológico", ressaltou o saudita.

A joia arqueológica, escondida durante tanto tempo, já começou a receber visitas de turistas locais e também de europeus e asiáticos.

EFE   
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