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Contemporâneo de Lucy é descoberto da Etiópia e pode mudar linha evolutiva

27 mai 2015 - 16h59
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Uma equipe internacional descobriu na Etiópia um fóssil de um hominídeo que foi contemporâneo do Australopithecus afarensis, a Lucy, descoberta em 1974, há mais de três milhões de anos, que pode ser um novo elo na evolução da linhagem humana.

O pesquisador espanhol Luis Gibert, da Universidade de Barcelona, destacou a importância da descoberta, publicada nesta quarta-feira na revista "Nature", por considerar que reabrirá o debate sobre a evolução humana.

"Sempre que um fóssil importante é encontrado, há um grande debate científico, e esta nova descoberta gerará novas discussões sobre as origens humanas", afirmou.

A datação e identificação do fóssil, encontrado na campanha de 2011, é a evidência definitiva de que Lucy compartilhou espaço e tempo com outras espécies de hominídeos na época do Plioceno médio na África.

'Australopithecus deyiremeda' é o nome da nova espécie de hominídeo fóssil descoberto na área de Woranso-Mille, na Etiópia por uma equipe científica internacional dirigida pelo professor Yohannes Haile-Selassie, da Universidade da Reserva Case Western, dos Estados Unidos.

A equipe encontrou diversos restos fósseis (mandíbulas inferiores, superiores e uma coleção de dentes) nas jazidas de Burtele e Waytaleyta, em Woranso-Mille, na região central de Afar, a cerca de 50 quilômetros ao norte de Hadar e a 520 quilômetros da capital da Etiópia, Adis Abeba.

Estas evidências fósseis, que tem entre 3,3 e 3,5 milhões de anos, foram atribuídas pelos especialistas a uma nova espécie, o Australopithecus deyiremeda.

Gibert explicou à Agência Efe que o fóssil foi descoberto durante uma escavação realizada em março de 2011 em terrenos que tinham sido lavados pela chuva e pelo vento durante o inverno, o que fez aflorar novos fósseis em Woranso-Mille.

"Só recolhemos os fósseis que são significativos, especialmente primatas e carnívoros, e todos têm que caber no contexto estratigráfico para poderem ter uma idade estimada. Nos últimos anos trabalhamos na análise dos fósseis, em refinar a idade da camada fossilífera em que estavam e em entender o ambiente sedimentar", disse o geólogo.

"Talvez o mais relevante deste achado seja constatar pela primeira vez que duas espécies de Australopithecus conviveram no mesmo tempo e espaço, no Plioceno médio, há 3,5 milhões de anos", ressaltou Gibert.

Até agora só existia uma espécie definida para esse momento, a Lucy, Australopithecus afarensis, o que fazia acreditar que "todos os homininos (subgrupo dentro dos hominídeos) posteriores evoluíram dessa espécie".

Outras propostas de hominídeos contemporâneos a Lucy foram encontrados no Quênia (Kenyanthropus platyops) e no Chade (Australopithecus bahrelghazali), mas segundo Gibert, "foram recebidos com certo ceticismo por parte da comunidade de paleoantropólogos, talvez porque não existisse uma evidência no terreno da coexistência dessas espécies com o A.afarensis".

"Mas na Etiópia há evidências dessa convivência, portanto agora é importante revisar, com a mente aberta, o número de espécies de homininos na África durante o Plioceno médio, que poderia oscilar entre dois e quatro", assinalou.

"Agora que temos um cenário diferente no Plioceno médio africano, com mais de uma espécie de hominino, é importante saber qual delas evoluiu para dar lugar ao gênero Homo", disse Gibert, por isso "é necessário recuperar mais fósseis e mais completos no Plioceno médio da África".

"A pergunta é se a presença de várias espécies de homininos no Plioceno médio obedece também a uma mudança no clima durante essa época, que poderia ter favorecido mudanças no entorno e na formação de novas espécies adaptadas às novas condições ambientais. O registro sedimentar pode nos ajudar a respondê-la e estamos trabalhando nisso", concluiu o geólogo.

Segundo os especialistas, a espécie A. deyiremeda é claramente diferente da A. afarensis em características como morfologia facial, dental e mandibular.

O grosso do esmalte dental, além disso, apontaria para um padrão de dieta mais rico e variado do que a de Lucy, e provavelmente mais parecida com a do gênero Homo.

EFE   
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