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Zilda Arns precisou adiar viagem ao Haiti em 2009, diz freira

15 jan 2010 - 14h45
(atualizado às 15h40)
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A expectativa da médica Zilda Arns com a viagem ao Haiti foi grande. Desde agosto do ano passado, ela teve vários contratempos que a obrigaram a adiar algumas vezes o embarque. A informação foi dada nesta sexta-feira pela irmã Rosângela Maria Altoé, que assessorou a médica em sua viagem aopaís caribenho.

O corpo de Zilda Arns é velado no Palácio das Araucárias em Curitiba
O corpo de Zilda Arns é velado no Palácio das Araucárias em Curitiba
Foto: Denis Ferreira Netto / Futura Press

Ela disse que a médica estava feliz com o resultado da palestra, já que ospresentes demonstraram muito interesse pelo trabalho das pastorais daCriança e do Idoso. Segundo ela, ao final da apresentação, Zilda Arns respondeu a várias perguntas de religiosos que participaram do evento. Enquanto a médica conversava com o coordenador do evento, Padre William, a religiosa foi buscar o material da palestra e a bolsa de Zilda.

"Naquele momento, o prédio começou a balançar de um lado para o outro, eu ouvi um estrondo como se fosse uma bomba e em questão de 30 segundos, oprédio ruiu".

Nesse momento, eladisse que subiu tanta poeria que a impedia de respirar. Segundo areligiosa uma laje que caiu a seu lado a impedia de ver o que estavaacontecendo.

Ela disse saltou os escombros até chegar à rua, sem saber o que aconteciarealmente. Ao chegar à rua, as pessoas lhe perguntavam por Zilda.Ela ainda quis voltar ao prédio, mas viu que não tinha condição eali entendeu que seria um milagre encontrar a médica viva.

"O que eu vi na ruanunca vou esquecer. Na escola ao lado do prédio eu ouvia gritos decrianças e via o desespero das mães procurando seus filhos. Foi aíque entendi o que havia acontecido".

Segundo a religiosa, do momento em que ouviu o barulho até chegar à rua devem ter passado cinco minutos. Ela disse que não consegue até agora assimilar o que aconteceu, que jamais vai esquecer o que viu mas seu consolo é que Zilda Arns deu a vida pela Pastoral. "Viveu 26 anos em missão e morreu trabalhando".

Biografia

A médica pediatra e sanitarista Zilda Arns Neumann, 75 anos, foi fundadora e coordenadora Internacional da Pastoral da Criança e fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa, organismos de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ela estava em uma missão humanitária no Haiti para participar da Conferência dos Religiosos e também para motivar os líderes e voluntários da Pastoral da Criança no Haiti que trabalham com crianças, gestantes e famílias. Zilda também era representante titular da CNBB, do Conselho Nacional de Saúde e membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES).

Nascida em Forquilhinha (SC), residia em Curitiba (PR). A médica era mãe de cinco filhos e avó de dez netos. Escolheu a medicina como missão e optou pelos caminhos da saúde pública. Sua prática diária como médica pediatra do Hospital de Crianças Cezar Pernetta, em Curitiba (PR), e posteriormente como diretora de Saúde Materno-Infantil, da Secretaria de Saúde do Estado do Paraná, teve como suporte teórico diversas especializações como Saúde Pública, pela Universidade de São Paulo (USP), e Administração de Programas de Saúde Materno-Infantil, pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS).

Sua experiência fez com que, em 1980, fosse convidada a coordenar a campanha de vacinação Sabin para combater a primeira epidemia de poliomielite, que começou em União da Vitória (PR), criando um método próprio, depois adotado pelo Ministério da Saúde.

Em 1983, a pedido da CNBB, Zilda criou a Pastoral da Criança juntamente com d. Geraldo Majela Agnello, cardeal arcebispo primaz de São Salvador da Bahia, que na época era arcebispo de Londrina.

Em 2004, Zilda recebeu da CNBB outra missão semelhante, fundar, organizar e coordenar a Pastoral da Pessoa Idosa. Atualmente mais de 129 mil idosos são acompanhados todos os meses por 14 mil voluntários.

Terremoto

Um terremoto de magnitude 7 na escala Richter atingiu o Haiti nessa terça-feira, às 16h53 no horário local (19h53 em Brasília). Com epicentro a 15 km da capital, Porto Príncipe, segundo o Serviço Geológico Norte-Americano, o terremoto é considerado pelo órgão o mais forte a atingir o país nos últimos 200 anos.

Dezenas de prédios da capital caíram e deixaram moradores sob escombros. Importantes edificações foram atingidas, como prédios das Nações Unidas e do governo do país. No entanto, devido à precariedade dos serviços básicos do país, ainda não há estimativas sobre o número de vítimas fatais nem de feridos. O Haiti é o país mais pobre do continente americano.

Morte de brasileiros

A fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, Organismo de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Zilda Arns, e militares brasileiros da missão de paz da ONU morreram durante o terremoto no Haiti.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, e comandantes do Exército chegaram na noite de quarta-feira à base brasileira no país para liderar os trabalhos do contingente militar brasileiro no Haiti. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil anunciou que o país enviará até US$ 15 milhões para ajudar a reconstruir o país. Além dos recursos financeiros, o Brasil doará 28 t de alimentos e água para a população do país. A Força Aérea Brasileira (FAB) disponibilizou oito aeronaves de transporte para ajudar as vítimas.

O Brasil no Haiti

O Brasil chefia a missão de paz da ONU no país (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, ou Minustah, na sigla em francês), que conta com cerca de 7 mil integrantes. Segundo o Ministério da Defesa, 1.266 militares brasileiros servem na força. Ao todo, são 1.310 brasileiros no Haiti.

A missão de paz foi criada em 2004, depois que o então presidente Jean-Bertrand Aristide foi deposto durante uma rebelião. Além do prédio da ONU, o prédio da Embaixada Brasileira em Porto Príncipe também ficou danificado, mas segundo o governo, não há vítimas entre os funcionários brasileiros.

Agência Brasil Agência Brasil
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