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WikiLeaks: Chávez "late mais do que morde", diz Amorim

5 dez 2010 - 20h55
(atualizado às 23h16)
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Em correspondência secreta divulgada pelo site WikiLeaks e publicada neste domingo pelo jornal Le Monde, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, afirma que Hugo Chávez "late mais do que morde", e que isolá-lo não é uma opção.

A Venezuela poderia até representar ameaça para a região, mas seu isolamento não é uma solução, frisa Amorim, em mensagem confidencial que deixa às claras posições de políticos brasileiros em relação ao presidente Chávez, ao mesmo tempo em que evidenciam divergências entre Brasil e Estados Unidos sobre relações diplomáticas com a Venezuela de Chávez.

Celso Amorim afirma, num arquivo datado de março de 2007, que "a orientação política de Hugo Chávez não é a do Brasil, e que os brasileiros não se sentem ameaçados por ele".

Mas o ministro da Defesa, Nelson Jobim, tem visão bem diferente, percebendo sim a Venezuela como "nova ameaça" à estabilidade regional. "Os brasileiros consideram plausível uma incursão militar de Chávez num país vizinho, por seu caráter imprevisível", diz um telegrama confidencial de 2008. Por causa disso foi criado um conselho de defesa sul-americano que serve para "enquadrar a Venezuela e outros países da região em uma organização comum que o Brasil possa controlar".

Ainda segundo os documentos, os Estados Unidos e o Brasil competem pela influência na América Latina e as relações brasileiras com a Venezuela estiveram no centro das preocupações americanas, o que ficou evidenciado com o embargo dos Estados Unidos, em 2005, à venda de aviões brasileiros Super Tucano à Venezuela. "O Brasil acha que está em concorrência com os Estados Unidos e desconfia das intenções americanas. (...) O Brasil tem necessidade quase neurótica de ser igual aos Estados Unidos e de ser percebido como tal", afirma outro telegrama confidencial de novembro de 2009.

A antecipada escolha de Antonio Patriota, ex-embaixador do Brasil em Washington, como ministro das Relações Exteriores da presidente eleita, Dilma Rousseff, não mudará este rumo, publica o jornal Le Monde.

Em novembro de 2009, um documento americano diz que "embora Patriota conheça bem os Estados Unidos e esteja pronto para trabalhar conosco, não o fará numa perspectiva pró-americana, mas com base no nacionalismo tradicional da diplomacia brasileira".

O Brasil havia digerido mal o embargo americano à venda dos aviõnes Super Tucano à Venezuela (o governo de Caracas terminou comprando aviões Sukhoi Su-30 de origem russa) e chegou inclusive a tentar negociar com os Estados Unidos uma espécie de permuta, segundo a informação publicada por Le Monde.

Em outra passagem destacada pelo jornal francês, o embaixador brasileiro na época, em Caracas, propôs a seu par americano que se os Estados Unidos autorizassem a venda dos Tucanos, Brasília apoiaria a organização não governamental Sumate que, naquele momento, recolhia assinaturas para a realização de um referendo para tentar tirar do poder o presidente Chávez.

Julian Assange é proprietário do site colaborativo que divulga documentos secretos
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Foto: AP
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