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Famílias se dividem sobre descoberta de corpos do AF 447

4 abr 2011 - 13h01
(atualizado às 18h28)
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Lúcia Müzell
Direto de Paris

Os familiares franceses das vítimas do voo AF 447 estão divididos sobre a descoberta de "vários" corpos junto aos destroços do Airbus A330, encontrados no domingo no oceano Atlântico. Enquanto alguns estimam que a localização é um passo importante para que o luto seja completo, outras consideram que esta etapa vai representar a uma nova fase de dor e tristeza.

"Acho que onde eles estão, já era a nova casa deles. Não sei se eles próprios gostariam que a gente voltasse a mexer nesta história", afirmou Gwenola, noiva de uma das 228 vítimas do acidente. "É uma etapa importante, especialmente para se evitar que novas tragédias como esta destruam outras famílias. Para nós, familiares, é muito doloroso."

Já Jean-Baptiste Adousset, presidente da associação Ajuda Mútua e Solidariedade das Famílias de Vítimas do Voo AF 447, considera que o luto é formado por diferentes etapas, e que, embora as feridas pela perda do companheiro no acidente já estejam cicatrizando, é fundamental poder enterrar o corpo da vítima. "Cada um pensa de uma forma, nós estamos todos bem divididos. Não há uma posição comum", disse, ao Terra. "Eu, particularmente, acho que vai ser fundamental para finalizar o luto pela perda que tive. Mas a realidade é que acho que este luto não vai acabar jamais", lamentou.

Os familiares estavam presentes na coletiva de imprensa na qual o Escritório de Investigações e Análises (BEA) anunciou os resultados das buscas realizadas por submarinos no fim de semana, em uma zona próxima ao último local conhecido da aeronave no trajeto entre Rio de Janeiro e Paris. Equipamentos vitais da aeronave, como dois motores e dois trens de pouso, foram localizados, assim como "vários corpos" de vítimas, de acordo com o diretor das investigações, Alain Bouillard. As fotos das partes de avião foram divulgadas nesta segunda-feira.

O órgão francês, porém, afirmou que por enquanto não vai divulgar nenhuma informação sobre a quantidade de corpos e o estado em que se encontram. Durante as primeiras buscas, nos dias seguintes à tragédia, 50 corpos haviam sido localizados na superfície. Os familiares asseguraram que não conhecem mais detalhes além dos que foram anunciados.

"Foi uma grande surpresa saber que haviam corpos intactos entre os destroços. Jamais imaginei que isso poderia acontecer, e fiquei chocado quando fui informado pelo BEA", disse Robert Soulas, pai de uma jovem que morreu na queda do avião junto com o noivo francês. "Há uma divisão entre nós, familiares, e certamente este assunto vai ter de ser discutido, embora eu ache que, na prática, não há escolha a não ser recolher estes corpos e identificá-los."

Soulas afirmou que a certeza de que nem todos os corpos de vítimas serão localizados após esta fase de buscas assusta a maior parte das famílias, que temem uma frustração maior quando ocorrer a divulgação da identificação dos corpos encontrados. "Eu mesmo ficaria muito abalado se só encontrassem o corpo ou da minha filha, ou do meu genro. Gostaria que eles não fossem separados, preferiria que eles permanecessem juntos, que foi a maneira como enfrentaram esta tragédia."

O ministério dos Transportes francês garantiu que todos os corpos localizados serão trazidos à superfície e levados a Paris, onde serão identificados.

Submarinos franceses fotografaram trem de pouso do Airbus A330 encontrado no fundo do Atlântico
Submarinos franceses fotografaram trem de pouso do Airbus A330 encontrado no fundo do Atlântico
Foto: AFP
Fonte: Especial para Terra
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