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Viagem de Dilma indica reaproximação de Brasil e Chile, dizem analistas

11 mar 2014 - 09h23
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A presença da presidente Dilma Rousseff na posse da colega Michelle Bachelet, do Chile, nesta terça-feira, pode simbolizar a "reconstrução" da relação bilateral entre os dois países, após um "período frio e distante" durante o governo de Sebastián Piñera, segundo diplomatas e analistas chilenos ouvidos pela BBC Brasil.

"Dilma deixou claro, durante a gestão de Piñera, que não estava interessada nesta relação. Tanto é que ela chegou diretamente para a posse de Bachelet e não para o dia da despedida do presidente do cargo, nesta segunda-feira", afirmou um diplomata chileno, sob a condição de não ter seu nome revelado.

A visita de Dilma Rousseff a Valparaíso, onde ocorrerá a posse, durará menos de 24 horas e foi tema de um editorial crítico do jornal El Mercurio, intitulado "As prioridades de Dilma e do Brasil".

A publicação destaca que o Brasil continua sendo o principal destino das exportações e dos investimentos chilenos na América do Sul, mas descreve a visita de Dilma como "frustrante".

"(...) foi frustrante a rápida presença da presidente Dilma em sua última visita ao Chile e mais ainda será no dia onze de março, quando ficará apenas horas no país", afirma o editorial, publicado na semana passada.

Entre analistas, a interpretação foi a de que "os dois países tinham agendas diferentes". O Chile mantinha-se voltado para a Aliança do Pacífico (acordo comercial que envolve também Peru, Colômbia e México) enquanto a presidente Dilma "estava focada em questões internas ou no Mercosul".

Agora, há um consenso de que Dilma e Bachelet se reaproximam pela identificação política e por suas trajetórias, o que reduziria a distância entre os dois países.

'Bom sinal'

Segundo o analista de política internacional Guillermo Hozmann, professor da universidade de Valparaíso, a presença de Dilma na posse de Bachelet é "um sinal muito bom".

"É verdade que a relação entre Dilma e Piñera foi fria e distante, mas acredito que esta nova etapa da relação, com Dilma e Bachelet, será mais intensa e interessante. As duas devem ter um diálogo mais direto e uma agenda mais próxima", disse Hozmann, em entrevista de Valparaíso.

Ele lembra que o novo chanceler chileno, Heraldo Muñoz, foi embaixador do Chile no Brasil (1994-1998), o que contribuiria ainda mais para essa aproximação.

"Ele conhece muito bem o Brasil e a região e acho que haverá maior aproximação com o Brasil e com o Mercosul, na gestão de Bachelet", afirmou o analista.

A analista recordou que o Chile apoia o Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas e que, além da agenda bilateral, os dois governos devem ter uma agenda internacional semelhante.

"Neste sentido, uma primeira pergunta é: o que vai acontecer com a Unasul, criada a partir do impulso brasileiro e que agora não tem secretário-geral e necessita ser revitalizada?", questiona.

Nesta quarta-feira, os ministros das Relações Exteriores da Unasul reúnem-se em Santiago para discutir a situação na Venezuela. O encontro é "impulsionado" pelo Brasil e pelo presidente venezuelano, Nicolás Maduro, como recordou Holzmann.

A analista política Marta Lagos, diretora da ONG Latinobarómetro, com sede em Santiago, acha que a expectativa é de que Bachelet terá maior aproximação com o Brasil, principalmente a partir de uma agenda interna comum.

"O combate à desigualdade social será central no governo de Bachelet. Pesquisas recentes mostraram que os chilenos entendem que o país está mais rico e desenvolvido, mas que essa riqueza é consolidada entre os que já são ricos enquanto os pobres não veem que suas vidas mudaram", disse Lagos, em entrevista de Santiago.

Nos últimos quatro anos, a economia chilena registrou crescimento de cerca de 5% anuais, mas mostrou sinais de desaceleração em janeiro, com expansão de pouco mais de 1% em janeiro, segundo dados oficiais.

Segundo o governo de Piñera, a pobreza caiu e o país foi "praticamente reconstruído" nas regiões afetadas pelo histórico terremoto de 2010 - quando Bachelet deixava a presidência e Piñera assumia o posto. Aliados de Bachelet questionaram os dados oficiais e disseram que "muito mais poderia ter sido feito".

De volta à presidência

Médica, filha de um general que fazia parte dos quadros do governo Salvador Allende e morreu na prisão durante a ditadura de Augusto Pinochet (1915-2006), Bachelet foi presidente do Chile entre 2006 e 2010. Seu sucessor, Sebastián Piñera, de centro-direita, foi o primeiro presidente da oposição eleito após 20 anos (1990-2010) da Concertación (frente de centro-esquerda) no Palácio de la Moneda, sede da presidência chilena.

Socialista, Bachelet foi eleita novamente para o cargo em 2013. Desta vez, amparada pela frente de centro-esquerda Nueva Mayoría, que manteve o Partido Socialista e a Democracia Cristiana, originais da Concertación, e acrescentou outras legendas como o histórico Partido Comunista, que retorna ao governo pela primeira vez desde a morte de Allende e o golpe de Augusto Pinochet, em 1973.

"O governo de Bachelet tem duas possibilidades: ser interessante por realizar as reformas estruturais necessárias no país ou ser insignificante por não conseguir tirá-las do papel", disse Lagos, da Latinobarómetro.

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