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Ursinho manda mensagens da família a crianças com câncer

12 abr 2014 - 08h56
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Conheça Elo, ursinho que manda mensagens a crianças com câncer:

Quando surge a saudade, basta apertar a mãozinha do urso. É assim que as crianças que enfrentam o duro tratamento contra o câncer e estão internadas no Hospital Amaral Carvalho, em Jaú, no interior de São Paulo, fazem para amenizar a distância dos pais, amigos e colegas de escola. O hospital, que é considerado referência em oncologia infantil no Brasil e na América Latina, desenvolveu uma solução lúdica e inovadora para diminuir a solidão de crianças isoladas para tratamento. 

Batizado de "Elo", o clássico ursinho de pelúcia evoluiu e ganhou um upgrade. Ao apertar a mãozinha do brinquedo, a criança recebe mensagens enviadas por familiares e amigos via WhatsApp, aplicativo para celulares que grava e envia notas de voz. O projeto levou seis meses para ser desenvolvido, explica a oncologista pediátrica e chefe do setor de pediatria do hospital, Cláudia Teresa de Oliveira.

“Pensamos em algo que trouxesse para a criança o dia a dia dela fora do hospital. E a gente sempre pensa num bicho de pelúcia, mas teria que ser um material atóxico na pediatria. Aí começamos a pensar num diferencial para não ser só um urso. Cada um foi dando uma ideia, um palpite. Até que um professor deu a ideia de usarmos o celular e surgiu a possibilidade de usarmos o WhatsApp, que todo mundo conhece e tem hoje em dia”, disse. 

A pequena Maria Eduarda Calobrizi, chamada de Duda pelos amigos do hospital, batizou o ursinho Elo de "Juliana"
A pequena Maria Eduarda Calobrizi, chamada de Duda pelos amigos do hospital, batizou o ursinho Elo de "Juliana"
Foto: Talita Zaparolli / Especial para Terra

O projeto, ainda considerado piloto, ganhou corpo a partir da parceria com a empresa FOM, fabricante de travesseiros, brinquedos e almofadas com material antialérgico e também com uma empresa de tecnologia de Belo Horizonte (MG). Os brinquedos foram adaptados para comportarem o equipamento. Um dispositivo semelhante ao celular recebe as mensagens, que são reproduzidas por caixas de som também acopladas dentro do boneco. “Funciona mais com as crianças menores, que ficam surpresas ao ouvir as mensagens, mas a receptividade foi bem legal”, diz a médica. 

A oncologista explica ainda que o vínculo com a família e com os amigos, a partir do brinquedo, ameniza o sofrimento inerente ao tratamento contra o câncer, que requer longos períodos de hospitalização e quimioterapia, além de causar inúmeros efeitos colaterais.  

“Por um período mínimo de seis meses essas crianças ficam isoladas, mas não só dentro do hospital, como socialmente também, que é uma indicação. Não podem ir a locais muito fechados, por exemplo cinema, escola. Quanto mais tranquilos eles ficarem, melhor para o tratamento, melhor para a imunidade. E a família é fundamental nesse momento”, justifica. 

Cada criança internada ou que já recebeu alta médica, mas segue o tratamento em casa, recebeu um ursinho para usar enquanto estiver no hospital, e cada um deles tem um número exclusivo, que foi passado aos familiares. Quando uma nota de voz é enviada, passa antes por um moderador para que apenas as mensagens de carinho e otimismo cheguem às crianças. 

A oncologista pediátrica e chefe do setor de pediatria do hospital, Cláudia Teresa de Oliveira, diz que o projeto levou seis meses para ficar pronto
A oncologista pediátrica e chefe do setor de pediatria do hospital, Cláudia Teresa de Oliveira, diz que o projeto levou seis meses para ficar pronto
Foto: Talita Zaparolli / Especial para Terra

“A gente não consegue documentar o quanto o alto astral, o suporte emocional, fazem a diferença, mas percebemos isso no dia a dia. As crianças que têm um suporte emocional têm menos complicações, aceitam melhor o tratamento, internam menos”, garante a médica. 

A direção do hospital não sabe precisar o valor de cada ursinho, mas diz que os bonecos e os equipamentos eletrônicos foram doados à instituição, que atende mais de 95% dos pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, 10 ursinhos estão equipados com a tecnologia, mas a ideia é ampliar o projeto e levar o brinquedo a outras áreas do hospital. Para tanto, explica a médica, a instituição depende de futuras parcerias.

Vídeo

As reações das crianças ao ter o primeiro contato com o ursinho Elo foram documentadas pelo Hospital Amaral Carvalho em um vídeo divulgado no canal da instituição no YouTube. Ele já foi visto por mais de 50 mil pessoas. 

Primeiro contato

Dois pequenos pacientes, ambos com 4 anos, estão entre os primeiros que tiveram contato com a novidade. Nas mãos de Maria Eduarda Calobrizi, chamada de Duda pelos amigos do hospital, Elo ganhou o nome de “Juliana”. A menina faz tratamento contra leucemia linfoide aguda (LLA) há um ano e meio. Ela começou a manifestar os primeiros sintomas durante uma viagem da família ao Rio de Janeiro, para as festas de final de ano. No hospital em Jaú, Duda logo reconheceu de quem eram as mensagens.

“Do meu pai, da tia Carol, da tia Regiane. Ela disse que eu tava sumida”, relembra a menina agarrada ao ursinho. Quando questionada se havia gostado da novidade, proferiu um sonoro “adorei”. “Têm muitas crianças que não são daqui de Jaú e isso ajuda e muito a amenizar a saudade. Foi maravilhoso ver a reação dela. Ela ouviu várias vezes as mensagens”, disse a mãe de Duda, Andreza da Silva, 31 anos. 

A mãe de Theo, Sabrina Vômero Teixeira Manzini, foi até a escola onde o filho estuda para gravar as mensagens dos amigos
A mãe de Theo, Sabrina Vômero Teixeira Manzini, foi até a escola onde o filho estuda para gravar as mensagens dos amigos
Foto: Talita Zaparolli / Especial para Terra

Além da LLA em comum, Theo Teixeira Manzini compartilha com a amiga o carinho pelo bichinho, que ele carrega pelo braço nos corredores do hospital. Ele é um dos personagens que aparecem no vídeo gravado pela instituição. A mãe de Theo, Sabrina Vômero Teixeira Manzini, 35 anos, foi à escola onde o garoto estuda para gravar mensagens com os colegas de turma do filho, que ele recebeu durante a internação. Ela conta que custou a acreditar no diagnóstico de leucemia.  

“Eu sabia que ia ser difícil, mas não sabia que seria tanto. Cheguei a isolar ele da própria família. Só eu, o pai e a minha mãe tínhamos contato com o Theo. Mas depois de uma conversa com uma amiga enfermeira percebi o quanto é importante esse contato. Unimos forças, confiava em Deus que tudo daria certo. Pouco tempo depois surgiu esse projeto. E eu senti uma melhora muito grande dele a partir daí”, disse. Theo não tinha dúvidas de quem havia enviado as mensagens. “O vovô, a vovó, a tia Jô”, diz.

Câncer em crianças e adolescentes

O tipo de câncer mais comum entre crianças e adolescentes é a leucemia, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), correspondendo entre 25 a 35% dos casos. Estimativa do instituto é que, em 2014, surjam mais de 394,4 mil novos tumores pediátricos no país. 

No Hospital Amaral Carvalho, em Jaú, atualmente cerca de 80 crianças recebem tratamento contra o câncer. São aproximadamente 450 atendimentos ao mês. A oncologista pediátrica Cláudia Teresa de Oliveira explica que, no geral, o câncer pediátrico tem taxa de cura considerada alta pelos médicos, em cerca de 75% das neoplasias. A médica explica ainda que em crianças o tratamento é mais “fácil” que em adolescentes, já que os pequenos não têm dimensão da gravidade da doença. 

“As crianças focam no que é pontual, vou tomar ou não injeção, vou ficar ou não internado. Mas no caso dos adolescentes é mais complicado. A gente pára a vida deles num momento de alta produtividade, quando estão começando a namorar, fazer planos para a carreira, faculdade. Nas meninas tem um impacto enorme na autoestima porque cai o cabelo. Eles têm medo como qualquer um, mas não tem o amadurecimento suficiente para lidar bem com a situação”, conclui Cláudia. 

Fonte: Especial para Terra
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