PUBLICIDADE

Trânsito

Manifestantes protestam contra remoções para obras da Copa no RS

Sem bloqueio policial, caminhada que partiu da Vila Cruzeiro ocorreu sem maiores transtornos; manifestantes criticam desapropriações para duplicação de avenida em Porto Alegre

4 jul 2013 - 20h11
(atualizado às 23h58)
Compartilhar
Exibir comentários
Manifestação na zona sul visa ao passe livre e às remoções para obra da Copa
Manifestação na zona sul visa ao passe livre e às remoções para obra da Copa
Foto: Desirée Ferreira / Agência Freelancer

Manifestantes fizeram uma caminhada nesta quinta-feira partindo da vila Cruzeiro, na zona sul de Porto Alegre, para protestar contra a remoção de famílias que moram às margens da avenida Moab Caldas, conhecida como Tronco, para a duplicação da via, obra que faz parte do pacote da Copa do Mundo de 2014. O ato na Grande Cruzeiro, que agrega as vilas Cruzeiro e Tronco, foi combinado em assembleia do Bloco de Lutas pelo Transporte Público, que participou de manifestações no centro pelo passe livre nos ônibus da capital gaúcha.

O protesto começou com cerca de 300 pessoas em frente ao posto de saúde da Vila Cruzeiro, mas ganhou apoio de moradores na medida em que avançava pela avenida Tronco, chegando a reunir em torno de 1 mil manifestantes. Sem bloqueios policiais no trajeto, a manifestação se manteve pacífica até a dispersão, quando ocorreram casos isolados de vandalismo. A Brigada Militar (Polícia Militar gaúcha) contabilizou danos em um carro e em vidraças de dois prédios.

A duplicação da avenida Tronco afetará 1,5 mil famílias, segundo a organização do protesto. Moradores que participaram do ato alegam que o bônus moradia de R$ 52 mil é insuficiente para comprar uma casa em Porto Alegre, criticam o aluguel social de R$ 500 e afirmam que a prefeitura deveria assentar as famílias na própria região, e não realoca-las em localidades remotas.

“O bônus-moradia não permite as pessoas a ficar nesta região e o aluguel social não é atendimento habitacional. Isso é atendimento para catástrofe e emergência. A duplicação é um plano, é um projeto de via, e não pode ser tratado como emergência”, disse Leandro Anton, representante dos moradores.

Mostrando um vídeo que gravou com o celular, a moradora Jussara Becker relatou a cachoeira que se formou no teto de sua casa em dias de chuva. “A minha casa era no meio de duas que foram derrubadas. Quando as duas saíram, o meu telhado cedeu. Quando chove, eu prefiro ficar do lado de fora que do lado de dentro”, contou a moradora, que alega demora e dificuldades burocráticas para receber uma nova casa.

Organização

Entoando gritos de ordem contra as remoções, o protesto se manteve pacífico desde a avenida Tronco até a dispersão, na altura do Barra Shopping Sul, na avenida Diário de Notícias. Os organizadores da marcha pediam a todo tempo para as pessoas ficarem atrás das faixas do grupo, o que nem sempre é obedecido em outras manifestações.

Cordão de manifestantes manteve grupo coeso e organizado durante a marcha
Cordão de manifestantes manteve grupo coeso e organizado durante a marcha
Foto: Fernando Diniz / Terra

Quando grupos de pessoas pareciam tomar à frente das faixas, a multidão inteira parava. Um grupo de mulheres fazia um cordão mais à frente para tentar reorganizar.

Dentro da Vila Cruzeiro, não houve registros de pichações e depredações. Um grupo de crianças e adolescentes tentou jogar pedras e invadir um supermercado, mas foi rapidamente contido por moradores.

Na avenida Icaraí, quando a manifestação chegava próxima ao Shopping Barra Shopping Sul, o carro de som pediu para que moradores e crianças retornassem à Vila Cruzeiro. Nesse momento, um grupo com bandeiras da Federação Anarquista Gaúcha (FAG) tomou à frente da marcha. Manifestantes passaram a criticar o uso de uma área do Jockey Club do Rio Grande do Sul, ao lado do centro de comércio, para a construção de prédios.

Apesar de algumas pichações e tentativas de derrubar paradas de ônibus, não foram registrados incidentes graves. A polícia, observando a movimentação de longe e com ajuda de um helicóptero, não precisou intervir. Um contingente do Batalhão de Choque estava dentro do estacionamento do shopping quando a manifestação dispersou.

 

Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País

Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São PauloRio de JaneiroCuritibaSalvadorFortalezaPorto Alegre e Brasília.

A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas. 

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade