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Trabalhadoras rurais dizem que crise não é culpa de Dilma: 'sai ela, entra um pior'

12 ago 2015 - 18h27
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Há quatro dias dos protestos convocados em todo o país para pressionar pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, milhares de trabalhadoras rurais de diversos Estados se reuniram em Brasília nesta semana em apoio ao governo petista.

Manifestação de apoio a governo recebeu patrocínio de estatais para transporte e alimentação de participantes, entre outros
Manifestação de apoio a governo recebeu patrocínio de estatais para transporte e alimentação de participantes, entre outros
Foto: ABr

"Sai ela, entra um pior", acredita Antônia Maria Bezerra, 68 anos, que viajou um dia de ônibus desde Buriti do Tocantis (TO) até a capital federal para participar da Marcha das Margaridas.

"A culpa (da crise) não é só dela. É do sistema do mundo. É dos outros companheiros que estão administrando, deputados, senadores, ministros", disse a quebradeira de coco de babaçu.

Na noite de terça-feira, Bezerra e sua amiga Maria das Graças Alves, 65, carregavam cada uma uma máquina fotográfica nas mãos na esperança de tirar uma foto com o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, que discursou na abertura do evento.

A Marcha das Margaridas - organizada pela Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) - tradicionalmente acontece no dia 12 de agosto, em homenagem à líder camponesa Margarida Maria Golçaves, assassinada em 1983.

A edição deste ano recebeu patrocínio das estatais BNDES (R$ 400 mil), Caixa Econômica Federal (R$ 400 mil) e Itaipu Binacional (R$ 55 mil). Os recursos captados pela Contag servem para cobrir gastos do evento, como transporte das trabalhadoras, alimentação, local para pernoite, carro de som e faixas, entre outros.

Dessa vez a hospedagem teve mais conforto. Em vez de dormir de baixo de lona, o acampamento foi montado no Estádio Mané Garrincha, cedido pelo governo do Distrito Federal sem custos. Mas a comida não estava tão farta quanto em outras edições – esta é a quinta marcha, a anterior ocorreu em 2011.

"Na época do Lula tinha maçã, laranja, melancia, uva. Dessa vez deram só um franguinho e banana", lamentou Alves.

Enquanto aguardavam a fala do ex-presidente, as quebradeiras de coco minimizaram as denúncias de corrupção que atingem o PT. "Ele (Lula) ajudou o grande e o pequeno, descobriu a roubalheira do lado dele e do outro. Era justo", defendeu Bezerra.

Discursando para sua base política, Lula foi muito aplaudido e ovacionado na noite de ontem. O momento de maior comoção ocorreu quando ele anunciou que viajará o Brasil em defesa do governo e do PT.

"Todo dia tem uma provocação e eu tô quieto. Então, quero dizer que tô preparando o caminho para voltar a viajar pelo Brasil."

O presidente contou que cogitou não comparecer à abertura do evento porque achou que a Dilma participaria. Segundo ele, um ex-presidente tem que saber a hora de falar e onde ir.

"Mas aí soube que ela vai participar do encerramento. Assim eu não atrapalho ela e nem ela me atrapalha", explicou.

Marcha

Logo cedo, nesta quarta, as trabalhadoras levantaram para marchar do Mané Garrincha até o Congresso Nacional.

"Nós queremos Dilma", gritava uma das líderes da marcha das Margaridas no microfone, em cima do carro de som que percorreu a Esplanada dos Ministérios.

Em meio à instabilidade política que ameaça derrubar a presidente da República, neste ano o tradicional protesto teve forte teor de apoio ao governo.

Segundo estimativas da Polícia Militar, 25 mil pessoas participavam da marcha. O cálculo foi feito com base no número de ônibus vindos de todo o Brasil até a capital federal: cerca de 600. No carro de som, as líderes da marcha anunciavam que havia 100 mil pessoas no local.

No próximo domingo, as cores rosa, violeta e vermelho, que marcaram a manifestação das margaridas, serão substituídas pelo verde e amarelo dos protestos anti-governo, convocados para todo Brasil com objetivo de pedir o impeachment de Dilma Rousseff.

O presidente da Câmara Eduardo Cunha, que deve ser poupado dos protestos do dia 16, foi o principal alvo das críticas da Marcha das Margaridas.

"Viemos / de todo canto / botar pra fora / o Eduardo Cunha", cantavam as manifestantes.

As manifestantes cobraram também a realização da reforma agrária e o respeito ao princípio do Estado laico.

A agricultora Ana Alice Alves dos Santos, de 56 anos, contou que viajou três dias de ônibus de Pimenta Bueno, em Rondônia, até Brasília. Diz que votou na Dilma e que votaria em Lula novamente. "Com certeza, se fosse para votar mil vezes, eu votava."

Justifica sua escolha dizendo que a vida melhorou "100%" nos governos petistas. "Antes pobre não estudava, não andava de avião, não tinha carro", diz.

Na sua visão, Dilma não tem culpa pela recente alta da inflação e do desemprego. Para Santos, nem mesmo o ajuste fiscal é responsabilidade da presidente, apesar de o governo ter encaminhado projetos de lei com esse objetivo ao Congresso.

"Tá pior por questões políticas. Ela se sente acuada”, opinou. “Eles aprovam (o ajuste fiscal no Congresso) pra ficar pior pra ela", disse.

O BNDES informou, por meio de nota, que "a decisão de patrocinar a marcha foi tomada no contexto do apoio concedido à atividade agrícola no país". O comunicado diz ainda que "o BNDES considera que a marcha é uma oportunidade de divulgação institucional e dos programas do Banco direcionados à agricultura familiar. A política de patrocínio do BNDES contempla o apoio a eventos ligados às diferentes áreas da economia e da sociedade que se relacionam com as atividades do Banco. No ano passado foram patrocinados mais de 50 eventos".

A Caixa Econômica e a Itaipu Binacional foram procuradas, mas ainda não responderam.

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