O Supremo Tribunal Federal (STF) manteve nesta quinta-feira o trancamento da ação penal contra quatro acusados de matar o estudante de Medicina Edison Tsung Chi Hsueh. Ele foi encontrado morto na piscina da Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz, durante uma festa de trote dos estudantes, em 1999.
A discussão no Supremo se deu porque o Superior Tribunal de Justiça (STJ) arquivou o processo, em 2006, por falta de provas contra os então veteranos Frederico Carlos Jaña Neto, Ari de Azevedo Marques Neto, Guilherme Novita Garcia e Luís Eduardo Passarelli Tirico. O Ministério Público recorreu da decisão justificando que o caso deveria ter sido decidido pelo juiz presidente do Tribunal do Júri, o que não chegou a ocorrer.
O relator do caso, ministro Marco Aurélio Mello, aceitou o recurso do MP, mas foi seguido apenas pelo presidente do STF, Joaquim Barbosa, e pelo ministro Teori Zavascki. Para Marco Aurélio, o STJ ultrapassou sua atribuição legal ao arquivar uma ação que sequer chegou a ter suas provas analisadas.
"Somente depois de exaurida a prova é que pode ocorrer ou não a absolvição do réu. Descabe a tribunal em recurso ou habeas corpus dizer que a prova é insuficiente para ilicitude ou irregularidade. Ficou claro que o STJ, em posição contrária à defendida, substituiu-se ao juízo natural", disse o ministro.
A vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat, destacou que o contraditório e o devido processo legal são princípios constitucionais que não interessam apenas aos réus, mas também ao Estado. Por isso mesmo, continuou, é obrigação do Judiciário analisar todas as provas, o que deveria ter sido feito pelo Tribunal do Júri, e não pelo STJ.
"É bem verdade que há circunstâncias em que a legislação prevê a possibilidade de extinguir a ação penal porque a denúncia não preencheu os requisitos mínimos, mas não é em absoluto o caso dos autos. Para se chegar à conclusão de ausência de justa causa não se examinou se havia o mínimo de suporte probatório para sustentar a denúncia do MP. O tribunal abortou prematuramente uma ação que tem como propósito não só punir, mas também assegurar às vitimas e aos parentes uma resposta do Estado", afirmou Duprat.
O advogado José Roberto Batochio, que defende Frederico Carlos Jaña Neto e Ari de Azevedo Marques Neto, sustentou a tese de que a morte do calouro da USP foi um acidente e defendeu que o trote faz parte da tradição acadêmica e não pode ser criminalizado.
"Esses fatos ocorreram 14 anos atrás. Esses estudantes hoje são professores de Medicina. Frederico é professor de ortopedia, Guilherme é o maior especialista em mastologia na capital de São Paulo e (Luís Eduardo) Tirico estava ainda esta semana na televisão como pioneiro do transplante de cartilagem. Não vamos processar estudantes que não mais existem, mas professores de Medicina, cidadãos prestantes", afirmou Batochio.
Por placar de 5 votos a 3, a Corte acabou mantendo a decisão do STJ. Formaram maioria os ministros Rosa Weber, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Celso de Mello. Os ministros Dias Toffoli e Luiz Fux não participaram da sessão.
“Não foi encontrado qualquer indício de envolvimento dos acusados com a morte da vitima”, argumentou Celso de Mello. Para ele, o Estado não pode permitir um processo contra qualquer cidadão “sem que haja prova lícita, consistente e idônea que possa dar suporte” a uma ação penal. “O Poder Judiciário exerce para evitar acusações temerárias e impedir ou obstar a instauração de litígios destituídos de justa causa”, completou.
Ao proclamar o resultado do julgamento, Joaquim Barbosa criticou abertamente a decisão do STJ e, por consequência, a do próprio STF, ao manter o trancamento da ação penal.
“O Supremo Tribunal Federal está impedindo que esta triste história seja esclarecida. Me parece que o STJ violou, sim, abertamente o artigo 5º da Constituição, violou o princípio da soberania do júri. Não cabia a ele (STJ) fazer esse exame em dez páginas, como afirmou o relator (Marco Aurélio). Fez para se precipitar, para impedir que o presidente do júri pronunciasse sua decisão”, disse Barbosa.
Vestindo apenas cueca e com uma máscara sobre a cabeça, cobrindo seu rosto, jovem participa de trote em São Paulo. Na manhã da última quarta-feira (20), ele teve de atravessar a Avenida Paulista agindo de maneira irreverente. Confira, nas imagens a seguir, alguns trotes polêmicos feitos para receber calouros em universidades brasileiras neste ano
Foto: J. Duran Machfee / Futura Press
Ele esperou o semáforo fechar e, no meio da faixa de pedestres, corria de um lado para o outro abordando pessoas
Foto: J. Duran Machfee / Futura Press
Em trajes sumários e escondido sob a máscara, o estudante chamou a atenção de pedestres e motoristas na Avenida Paulista
Foto: J. Duran Machfee / Futura Press
A brincadeira faz parte de uma gincana de calouros que estaria sendo realizada por estudantes da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo
Foto: J. Duran Machfee / Futura Press
Entre as peripécias, o jovem - que seria calouro do curso de Administração da FGV-SP - dava cambalhotas no chão
Foto: J. Duran Machfee / Futura Press
A brincadeira inusitada ocorreu em meio à movimentada Avenida Paulista no final da manhã de quarta-feira (20)
Foto: J. Duran Machfee / Futura Press
As pessoas reagiram com surpresa à brincadeira em São Paulo. O trote - para o qual o aluno teria se voluntariado - é defendido como parte de uma tradicional gincana de calouros
Foto: J. Duran Machfee / Futura Press
A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) divulgou nota de repúdio ao suposto trote realizado por estudantes da Faculdade de Direito no dia 15 de março, durante a recepção aos calouros no prédio que fica localizado na região central de Belo Horizonte. Na primeira imagem, uma jovem está pintada de preto com um cartaz de papelão escrito "Caloura Chica da Silva". A moça está acorrentada pelas mãos e um rapaz de pele clara sorri enquanto segura a corrente
Jovem aparece acorrentada, com o corpo pintado e carregando uma placa na qual se lê Caloura Chica da Silva
Foto: Facebook / Reprodução
Na segunda foto, um estudante está pintado de tinta vermelha e amarrado a uma pilastra enrolado por uma faixa de plástico utilizada em isolamento de acessos. Ao lado e também sorrindo, três estudantes fazem um gesto nazista, com a mão direita estendida para frente. Um deles chegou a colocar um bigode postiço semelhante ao que usava o ditador alemão Adolf Hitler.
Foto: Facebook / Reprodução
Estudantes do curso de direito da UFMG bateram boca após assembleia realizada no dia 19 de março para discutir a repercussão do trote feito por veteranos
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
O estudante Caio Perrone (esq.) negou que o trote tivesse conotação racista. Segundo ele, as brincadeiras são normais
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
Segundo o presidente do Centro Acadêmico, Felipe Gallo, atitudes de combate a esse tipo de trote serão tomadas
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
A unidade de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP) confirmou que os estudantes que ficaram nus durante um trote no final de fevereiro podem ser expulsos da instituição. Na foto, um estudante simula sexo com boneca inflável
Foto: Frente Feminista / Divulgação
Além de tirar a roupa e mostrar os órgãos sexuais, os alunos teriam feito gestos obscenos contra um grupo de feministas que protestava contra o "Miss Bixete", uma espécie de concurso de beleza a que as novatas são submetidas. Na foto, jovem protesta contra o desfile
Foto: Frente Feminista / Divulgação
Em nota, o Coletivo de Mulheres disse que o Miss Bixete é um concurso pensado para reproduzir "o padrão das mulheres como mero objeto ao fetiche masculino". O desfile aconteceu no dia 26 de fevereiro
Foto: Frente Feminista / Divulgação
O grupo decidiu protestar, de forma pacífica, a um ato questionável feito dentro do espaço público da universidade. "Desde o princípio, no entanto, sofremos todos os tipos de agressão verbal e simbólica"
Foto: Frente Feminista / Divulgação
A USP abriu uma investigação para apurar o que aconteceu e os alunos envolvidos podem ser punidos com advertência ou até com expulsão
Foto: Frente Feminista / Divulgação
No entanto, nem todos os trotes são polêmicos nas universidades do Brasil. Em 18 de fevereiro, estudantes aprovados na seleção da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest) foram recebidos com os tradicionais banhos de lama e tinta
Foto: Bruno Santos / Terra
No primeiro dia de matrícula, alunos aprovados para estudar na Universidade de São Paulo (USP) foram recebidos com muita tinta e banho de lama
Foto: Bruno Santos / Terra
Estudantes participam de trote no dia da matrícula na USP, em São Paulo
Foto: Bruno Santos / Terra
Além do banho de lama, os alunos também participavam de brincadeiras como futebol de sabão e "guerra" de cotonetes
Foto: Bruno Santos / Terra
O corte de cabelo era feito, segundo os veteranos, somente nos calouros que aceitavam passar a tesoura
Foto: Bruno Santos / Terra
Ninguém era pressionado a fazer o que não queria, de acordo com os estudantes
Foto: Bruno Santos / Terra
'O trote está tranquilo, não tem maldade', garantiu Bruno Bogato, 17 anos, que vai cursar mecânica naval
Foto: Bruno Santos / Terra
Fernando Caputo (esq.), 20 anos, Willian Murasawa (centro), 28 anos, e Lucas Pereira, 19 anos disseram que ninguém 'pegou pesado' no trote
Foto: Bruno Santos / Terra
O banho de lama já é tradicional no trote da Escola Politécnica da USP (Poli-USP), na capital paulista
Foto: Bruno Santos / Terra
Estudantes participam de trote no dia da matrícula na USP, em São Paulo
Foto: Bruno Santos / Terra
Estudantes participam de trote no dia da matrícula na USP, em São Paulo
Foto: Bruno Santos / Terra
Estudantes participam de trote no dia da matrícula na USP, em São Paulo
Foto: Bruno Santos / Terra
Estudantes participam de trote no dia da matrícula na USP, em São Paulo