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SP: militares testam blindado que pode ser levado à Missão de Paz no Haiti

Cerca de 1,2 militares de diversos países fazem últimos treinamentos em Campinas antes de embarque ao país caribenho

30 out 2013 - 17h13
(atualizado às 17h34)
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Blindado Guarani substituirá frota do Exército e está em fase final de testes
Blindado Guarani substituirá frota do Exército e está em fase final de testes
Foto: Rose Mary de Souza / Especial para Terra

O Exército Brasileiro está testando no interior de São Paulo o Guarani, novo blindado que pode ser empregado na Missão de Paz no Haiti, que embarca no começo de dezembro para o pais caribenho. O veículo é avaliado em R$ 2,6 milhões e está em fase final de treinamento entre os fuzileiros da missão da Organizações das Nações Unidas (ONU).

Conheça o Guarani, o novo blindado do Exército

Os 1,2 mil soldados estão concentrados na reserva militar da Fazenda Chapadão, área restrita do Exército, em Campinas. Eles se apresentaram voluntariamente e vêm de vários municípios do interior de São Paulo, além de países como Chile, Uruguai, Paraguai e Canadá. Boa parte da tropa é formada por especialistas, que irão atuar como médicos, enfermeiros, advogados, veterinários, religiosos e tradutores poliglotas.

Dos 1,2 mil militares em treinamento, apenas 12 são do sexo feminino. Cerca de 300 militares integram o quartel do Batalhão de Infantaria Leve de Campinas, local onde está sediada a tropa que seguirá para Porto Príncipe, capital do Haiti. Segundo o coronel Anísio David de Oliveira Júnior, comandante do Batalhão de Infantaria de Força e Paz (Brabat 19), esse é o 19º grupo de soldados a desembarcar no país caribenho desde que foi criado intercâmbio de pacificação, em 2004.

Os equipamentos começam a ser enviados no final de novembro e, no começo de dezembro, ocorrerá a troca da equipe na área de pacificação. A expectativa é que a permanência dos soldados no Haiti seja de seis meses a um ano.

Guarani

O Guarani é fabricado em Sete Lagoas (MG) pela montadora Iveco do Brasil. O projeto de concepção e execução do novo blindado é uma parceria com o Exército Brasileiro. O veículo é usado para o transporte de soldados e pode levar 11 pessoas, sendo oito fuzileiros, um motorista, um atirador na torreta e o comandante.

O capitão Mozer conta que o Guarani tem se mostrado muito capaz, já que sua eficiência é superior à do Urutu, blindado do Exército fabricado desde os anos 1970. O Guarani leva vantagem por contar com um sistema de proteção anti-minas terrestre capaz de suportar um impacto de até 6 quilos do explosivo. "Nesse caso, o Urutu sofreria um rombo e o Maruá (utilitário também utilizado pelo Exército) sairia do chão", comentou o capitão.

Veículo conta com itens de segurança superior ao seu antecessor, o Urutu
Veículo conta com itens de segurança superior ao seu antecessor, o Urutu
Foto: Rose Mary de Souza / Especial para Terra

Entre os itens de segurança também há assentos presos ao teto e cintos de segurança de cinco pontos, que proporcionam menor incidência de risco para a tripulação. Anfíbio, o Guarani pode boiar na água e atravessar zonas de alagamento e rios.

Seu sistema automático de enchimento de pneus foi desenhado para aumentar a mobilidade do veiculo e rodar em diferentes tipos de aderência, em terrenos que necessitem de rolamento com calibragem variável.

"A suspensão é independente, é 6X6, tem ar condicionado, e está preparado para suportar ataques químico, biológico e nuclear", conta o militar. Outro sistema que chama a atenção é o dispositivo que garante a visão noturna.

O blindado tem proteção contra tiro de fuzil 762 e de demais munições perfurantes, além de ser capaz de receber mais outra camada de blindagem. Por sua vez, tem três opções de armamentos. A sua torre, com vidro de blindagem de cerca de 10 centímetros, pode abrigar um atirador com metralhadora .50, uma MAG 7,62 milímetros ou, ainda, um lançador de granada 40 milímetros.

O capitão Mozer relata que o Guarani tem autonomia de 600 quilômetros, fruto de um tanque com capacidade de 480 litros, que pode rodar tanto com óleo diesel quanto com querosene de aviação.

Militares que atuam na Missão de Paz da ONU utilizam os tradicionais capacetes azuis
Militares que atuam na Missão de Paz da ONU utilizam os tradicionais capacetes azuis
Foto: Rose Mary de Souza / Especial para Terra

Treinamento

O treinamento dos militares que atuarão no Haiti foi dividido em oficinas práticas, com testes das condições de reação da tropa frente aos eventos que podem ocorrer. "O treinamento consiste em uma série de ações que eles vão executar no Haiti. São intervenções sociais aliadas ao treinamento militar", destacou o coronel Anísio David. Dentre os tipos de situações que o soldado pode encontrar focadas pelo treinamento estão as patrulhas urbanas com abordagens de civis, revistas de veículos e patrulhamento urbano.

"Nosso dever é manter o ambiente seguro e estável", disse o coronel. Porém, como a missão é humanitária, os soldados são preparados para dar suporte de segurança e em especial durante a realização das eleições. "Vamos chegar lá na época das eleições, agora começo do ano, período de grande estresse para a população local, e é preciso dar um suporte para que tudo transcorra sem ocorrências de violência", comentou.

Os soldados são agrupados em equipes. Aqueles que estarão na área de saúde acompanharam situações de emergência real dos socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Campinas. Em um acidente de ônibus com dezenas de vitimas e chamados de socorro pelo 193, puderam acompanhar o andamento dos primeiros socorros.  Casos práticos e teóricos de traumas, ataques de animais peçonhentos, emergências clinicas, convulsões, hipoglicemias e queimaduras também foram estudados.

Tiros com heavy metal

Mesmo com a situação de paz consolidada, o coronel Anísio David destaca que a tropa precisa estar preparada para lidar com a crise. Os fuzileiros passaram por treinamento básico de ataque e defesa de tiro. Ali, em meio à poeira e à mata, o objetivo foi criar um ambiente de estresse com  barulho, desordem e tensão que obriga o soldado a dar respostas rápidas de enfrentamento.

Membros das Forças Armadas foram submetidos a bateria de testes ao som de heavy metal
Membros das Forças Armadas foram submetidos a bateria de testes ao som de heavy metal
Foto: Rose Mary de Souza / Especial para Terra

O ambiente "de guerra" foi composto por alto-falantes que reproduziam músicas de heavy metal, um equipamento com ruído de helicóptero, além do barulho de motor de veículos. O soldado deve cumprir uma rota onde um comandante às suas costas grita palavras-chave de ordem e execução de serviço: correr, atirar, parar, voltar, cumprir metas. Todo o compartimento de munição do fuzil ParaFal 7.62 deve ser esvaziado.

De acordo com o capitão Borba, esse tipo de teste é executado sob o comando do pelotão de elite do Exército e simula a pista de combate. "O fuzileiro é colocado sob estresse. O objetivo é simular condições adversas e analisar suas atitudes sob o olhar de ameaça."    

Estudantes haitianos que moram em Campinas fizeram palestras para habituar os militares com seu país de origem
Estudantes haitianos que moram em Campinas fizeram palestras para habituar os militares com seu país de origem
Foto: Rose Mary de Souza / Especial para Terra

Haitianos

Quatro haitianos residentes em Campinas auxiliaram os trabalhos das tropas da ONU que atuarão em sua terra natal. Longe dos familiares e amigos, os rapazes ajudam na tarefa de passar aos soldados como são os haitianos, sua cultura e formas de um contato amigável.

"Tem que saber nossa língua, entender nossa cultura", fala Berhman Garcon, jornalista e estudante em Campinas. Garcon foi convidado a fazer palestras para os soldados e falar dos costumes de seu país.

O rapaz dá aula de créole, língua que mistura o francês a dialetos locais, que pode se tornar um obstáculo à comunicação entre os moradores e os soldados. Segundo ele, vencida essa barreira, as demais etapas são fáceis de entendimento de gírias, gestos e expressões de aproximação entre as pessoas. "O mais difícil é entender, a maior dificuldade é a língua e saber chegar na população. Depois disso, a gente pode se aproximar e se comunicar", disse.

Fonte: Especial para Terra
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