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SP: 1 ano depois, escola onde aluno se matou quer esquecer tragédia

21 set 2012 - 07h31
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André Gomes
Direto de São Paulo

Há um ano, por volta das 15h50, uma escola municipal de São Caetano do Sul se transformaria. Naquela quinta-feira, o aluno do 4º ano Davi Mota Nogueira, 10 anos, fez um disparo contra a professora de português Rosileide Queiros de Oliveira, 38 anos, dentro da sala de aula. Depois, o menino foi até a escada do colégio e atirou contra a própria cabeça. A professora sobreviveu ao tiro, David morreu uma hora depois.

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A diretora da escola Alcina Dantas Feijão, Marcia Gallo, disse que jamais irá esquecer o fato, mas o colégio procura seguir a rotina apesar do trauma. "Falamos o menos possível para as crianças. Fizemos uma lembrança no dia em que voltaram às aulas, mas depois seguimos a vida." De acordo com a diretora, o irmão de Davi continua na escola sem nenhum problema. "Nunca aconteceu nada com o irmão dele. Não mudou de comportamento e não mudaram as notas", afirmou.

A arma usada, um revólver calibre 38, era do pai, o guarda civil metropolitano, Milton Evangelista Nogueira. Ela estava regularizada e Nogueira a usava quando fazia bicos de segurança em uma lanchonete. Segundo as investigações, o revólver ficava sempre descarregado em cima de um armário e os filhos eram alertados sobre os perigos que o objeto representava. Porém, naquele dia, segundo o inquérito, o guarda não tinha tirado as balas da arma, pois estava com pressa e o menino conseguiu pegá-la.

Investigação
O processo foi arquivado dois meses depois da tragédia. A morte do menino extingue a possibilidade de punição. O pai não foi indiciado por omissão - deixar a arma ao alcance do filho - e recebeu o perdão judicial, dado a quem já teve um sofrimento maior do que qualquer tipo de pena aplicável pelo sistema judicial.

A delegada responsável pelo caso, Lucy Mastellini Fernandes, destacou a peculiaridade do desdobramentos, que considera "inédito". "Não conheço que tenha havido qualquer ocorrência parecida, um menino tirando a própria vida", afirmou.

Menino tranquilo

De acordo com os professores, David era uma criança tranquila, sem problemas de indisciplina e nem indícios de ser vítima de bullying. Duas professoras que conversaram com o Terra no dia do enterro, disseram jamais ter havido qualquer notícia de participação do aluno em situações problemáticas. "Quando soube pensei em qualquer um, menos nele", afirmou uma delas.

O túmulo de Davi, no cemitério das Lágrimas - poucas quadras distante da escola Alcina Dantas Feijão - aparenta não receber visitas nos últimos dias. No local, ainda há um bicho de pelúcia com o distintivo do Santos Futebol Clube, time de coração do garoto, entre outras lembranças.

"Ele era um aluno regular, tirava notas de 6 a 10 e não há histórico de reclamações de pais. Além disso, dava-se bem com os colegas e não há nenhum registro de atrito com a professora", afirmou a diretora.

A família de Davi preferiu não falar. A porteira do conjunto residencial onde eles moram, a cerca de 700 m da escola onde o menino estudava, informou que a família segue uma vida normal, na medida do possível. "Está tudo tranquilo por aqui", disse a mulher que não quis se identificar e nem esticar muito a conversa. O pai de Davi continua atuando como guarda civil metropolitano de São Caetano do Sul.

O corpo do menino Davi Mota Nogueira está enterrado no Cemitério das Lágrimas, em São Caetano do   Sul, São Paulo
O corpo do menino Davi Mota Nogueira está enterrado no Cemitério das Lágrimas, em São Caetano do Sul, São Paulo
Foto: Léo Pinheiro / Terra
Fonte: Terra
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