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Slogans em protestos revelam consumismo e alienação, diz FT

27 jun 2013 - 04h49
(atualizado às 15h20)
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<p>Slogans publicitários foram usados por manifestantes em diversos protestos em todo o País</p>
Slogans publicitários foram usados por manifestantes em diversos protestos em todo o País
Foto: Fernando Borges / Terra

Em longo artigo assinado pela colunista Samantha Pearson, o jornal britânico Financial Times examina a adoção de slogans publicitários pelos manifestantes que vêm tomando as ruas de diversas cidades brasileiras no último mês.

A publicação lembra que o uso de motes de campanhas em protestos não é uma novidade em protestos em todo o planeta.

"Mas os manifestantes no Brasil tomaram um caminho incomum, usando os populares slogans para defender causas não relacionadas (aos slogans). É um sinal, dizem sociólogos, de excessivo consumismo e alienação política", observa o FT.

Ao se referir às frases "o gigante acordou", extraída da campanha do uísque Johnny Walker, e "vem pra rua, vem", dos anúncios da Fiat, o FT diz que os slogans se converteram em "um dos poucos elementos a unificar os direferentes grupos que tomaram as ruas de mais de 100 cidades no Brasil este mês".

"Sem esforço, a italiana Fiat e a britânica Diageo, dona da marca de uísque Jonnhy Walker, se tornaram patrocinadores não oficiais dos maiores protestos no Brasil desde o movimento pelo impeachment de Fernando Collor de Melo, em 1992".

"Mas a publicidade gratuita vale a pena?", questiona a publicação, antes de afirmar que no fim das contas as empresas acabam vendo suas marcas conectadas a protestos pacíficos mas também a vandalismo e saques.

No caso da Fiat, destaca o jornal, a prioridade dada pelo governo ao transporte individual particular - e não ao coletivo - é parte da origem dos protestos, originados pelo aumento das tarifas de transporte público.

O professor de mídia da Universidade de São Paulo (USP), Dennis de Oliveira, explicou o fenômeno ao FT. "Muitos dos manifestantes não têm qualquer conexão com partidos políticos, então eles tomam emprestadas expressões do mundo no qual eles estão imersos - e nos últimos anos este tem sido o mundo do consumo", diz o acadêmico.

"Depois de uma década de alto crescimento econômico, não surpreende a adoção de slogans" que, além de ajudar a traduzir "o desencanto com o sistema político", "são também uma expressão do mal-estar do modelo de desenvolvimento baseado no consumo", sublinha o jornal, ao citar a avaliação do professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Rafael Alcadipani.

"Carros, máquinas de lavar, e TV de plasma não são mais suficientes: Brasileiros querem melhores serviços públicos e governo", conclui o Financial Times.

Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País
Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

O grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São PauloRio de JaneiroCuritibaSalvadorFortalezaPorto Alegre e Brasília.

A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

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