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Sindicato teme que pilotos do AF 447 sejam responsabilizados

28 jul 2011 - 16h50
(atualizado às 17h25)
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Um sindicato minoritário de pilotos teme que exista uma vontade de atribuir aos comandantes a responsabilidade pela catástrofe do voo AF 447 da Air France, em vista da regularidade com que vêm sendo vazadas informações sobre a investigação. Um terceiro relatório apresentando as "circunstâncias exatas" do acidente será divulgado na sexta-feira pelo Escritório de Investigações e Análises (BEA, na sigla em francês), que vai apresentar "os primeiros pontos de análise e dados novos."

BEA divulgou rota da aeronave no início de maio
BEA divulgou rota da aeronave no início de maio
Foto: Divulgação

Sem aguardar o relatório, vários organismos de mídia relançaram a ideia de que os pilotos do Airbus A330 não teriam conseguido controlar a perda de velocidade do aparelho, que mergulhou no oceano Atlântico na noite de 31 de maio de 2009, deixando 228 mortos.

De acordo com o portal do jornal francês Le Figaro, o relatório a ser publicado na sexta-feira questiona principalmente o papel da tripulação. "A investigação concluiu que a tripulação da Air France estava em conformidade com as normas em vigor, que a tripulação conseguiu evitar uma zona de turbulência, fazendo um desvio de 12 graus da rota, e que as turbulências que o avião enfrentou no momento do acidente não tinham nada de excepcional", escreveu o jornal na quinta-feira.

"Todas as ações do avião correspondem às ordens do piloto, o que significa que são as ordens do piloto que levaram o avião a cair no oceano", acrescentou o jornal, ressaltando que "em momento algum a tripulação compreendeu que o avião tinha perdido a velocidade necessária para se sustentar no ar".

Guillaume Pollard, secretário-geral do sindicato Alter, parte civil no inquérito judiciário, destacou que a Airbus e a Air France foram indiciadas pelos juízes de instrução, com base nas peritagens judiciárias.

"Acontece que todos os vazamentos tendem a embasar a tese de um erro de pilotagem, e não se fala mais no papel das sondas Pitot, que calculam a velocidade", disse Pollard. "Isso representaria um alívio para a Airbus, a Air France e a DGAC (Direção Geral da Aviação Civil). É um acidente que levou muita gente a ser questionada", disse.

No fim de maio, os investigadores do BEA divulgaram os últimos minutos da queda dramática do voo Rio-Paris, sem apresentar uma conclusão sobre as causas da catástrofe. Mas o documento indicava que o piloto tinha aumentado a velocidade do avião, sendo que nas instruções a seguir em casos de perda de sustentação está previsto que ele deveria apontar o avião para baixo e ajustar a potência dos motores.

Se, para a Air France, esse segundo relatório reabilitar os pilotos e confirmar que uma pane das sondas esteve à origem do desligamento do piloto automático, fontes aeronáuticas questionariam a reação dos pilotos.

Uma simulação de voo da qual as publicações France Info e Le Point participaram levou à hipótese de que a tripulação teria sido pega de surpresa pela perda das indicações de velocidade, devida ao congelamento das sondas Pitot no momento em que a aeronave estava a 11 mil m de altitude.

Quando o piloto automático se desligou, o piloto que estava no comando deveria ter puxado fortemente o controle, o que teria feito o avião subir até alcançar o limite de seu domínio de voo. Cada vez que a tripulação teria tentado reposicionar o avião na queda, o alarme teria voltado a soar, o que teria apavorado os pilotos, dizem os jornais.

O acidente do AF 447

O voo AF 447 da Air France saiu do Rio de Janeiro com 228 pessoas a bordo no dia 31 de maio de 2009, às 19h (horário de Brasília), e deveria chegar ao aeroporto Roissy - Charles de Gaulle de Paris no dia 1º às 11h10 locais (6h10 de Brasília). Às 22h33 (horário de Brasília) o voo fez o último contato via rádio. A Air France informou que o Airbus entrou em uma zona de tempestade às 2h GMT (23h de Brasília) e enviou uma mensagem automática de falha no circuito elétrico às 2h14 GMT (23h14 de Brasília). Depois disso, não houve mais qualquer tipo de contato e o avião desapareceu em meio ao oceano.

Os primeiros fragmentos dos destroços foram encontrados cerca de uma semana depois pelas equipes de busca do País. Naquela ocasião, foram resgatados apenas 50 corpos, sendo 20 deles de brasileiros. As caixas-pretas da aeronave só foram achadas em maio de 2011, em uma nova fase de buscas coordenada pelo Escritório de Investigações e Análises (BEA) da França, que localizou a 3,9 mil m no fundo do mar a maior parte da fuselagem do Airbus e corpos de passageiros em quantidade não informada.

Após o acidente, dados preliminares das investigações indicaram um congelamento das sondas Pitot, responsáveis pela medição da velocidade da aeronave, como principal hipótese para a causa do acidente. No final de maio de 2011, um relatório do BEA confirmou que os pilotos tiveram de lidar com indicações de velocidades incoerentes no painel da aeronave. Especialistas acreditam que a pane pode ter sido mal interpretada pelo sistema do Airbus e pela tripulação. O avião despencou a uma velocidade de 200 km/h, em uma queda que durou três minutos e meio. Em julho de 2009, a fabricante anunciou que recomendou às companhias aéreas que trocassem pelo menos dois dos três sensores - até então feitos pela francesa Thales - por equipamentos fabricados pela americana Goodrich. Na época da troca, a Thales não quis se manifestar.

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