Sem reivindicações atendidas, índios mundurukus retornam ao PA
Indígenas queriam interromper todos os empreendimentos hidrelétricos na Amazônia
Os 144 índios mundurukus, que passaram mais de uma semana em Brasília tentando convencer o governo a interromper todos os empreendimentos hidrelétricos em obras ou em estudo na Amazônia, estão regressando ao seu Estado, o Pará. O grupo, que ocupou a sede da Fundação Nacional do Índio (Funai) na segunda-feira - chegando a impedir a entrada de servidores durante toda a terça -, partiu da Base Aérea de Brasília no início da tarde de hoje, a bordo de dois aviões da Força Aérea Brasileira (FAB).
Os mundurukus estavam em Brasília desde a terça-feira da semana passada, quando desocuparam o principal canteiro da Usina Hidrelétrica de Belo Monte e aceitaram a proposta de se reunir com representantes do governo. A principal reunião, com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, ocorreu no mesmo dia que os índios chegaram a Brasília, também em aviões da FAB.
Ao fim da conversa com os índios, o ministro afirmou que o governo vai ouvir as comunidades afetadas pelos empreendimentos. Ele disse aceitar todas as formas de protesto democrático, mas que as obras em Belo Monte não seriam interrompidas e que a segurança no local seria reforçada.
Segundo uma das lideranças dos índios, Valdenir Munduruku, a articulação indígena destinadas a paralisar as iniciativas de aproveitamento dos rios Xingu, Teles Pires, Tapajós e Madeira, entre outros, não foi encerrada. "Nossa luta apenas começou. Estamos retornando para nossa comunidade (onde) vamos nos fortalecer e nos aliar com outros parentes (povos indígenas) para, juntos, combatermos esse desrespeito do governo federal com nossa cultura, nossa crença e nossos direitos", declarou Valdenir, pouco antes do grupo partir.
"Outros povos estão se juntando a nós para combatermos não só Belo Monte, mas também Teles Pires e todas as usinas que estão sendo construídas sem que sejamos consultados", disse.
Conforme havia dito ontem, durante entrevista à rádio Nacional Amazônia, Valdenir garantiu que, a menos que o governo federal interrompa a execução das obras e estudos, os mundurukus não voltarão a dialogar. "O que o governo quer, nós não queremos. Ele quer ir a nossa terra dizer que vai construir hidrelétricas e ver o que queremos em troca. E nós não queremos nada em troca. Queremos nosso rio livre e nossa natureza preservada", declarou Valdenir.
Ao ser perguntado sobre a morte de mais um índio em Mato Grosso do Sul, o líder munduruku criticou a demora na demarcação ou homologação de novas terras indígenas no Mato Grosso do Sul. "Falta à Funai e aos governos (federal e estadual) tomarem providências antecipadas para que isso não aconteça. Esses índios estão morrendo enquanto lutam para reaver suas terras."
Nesta quinta-feira, o delegado Rinaldo Gomes Moreira, responsável por investigar o assassinato, a tiros, do índio guarani kaiowá Celso Figueiredo, adiantou à Agência Brasil que os depoimentos prestados pelo pai e pela irmão da vítima sugerem que o crime não seja resultado dos conflitos por terras que, só no último mês, deixaram um índio morto e outro gravemente ferido em Mato Grosso do Sul.
Em maio, logo após o assassinato de Osiel Gabriel, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, classificou os episódios de violência contra índios sul-mato-grossenses como uma "lamentável" consequência da judicialização a que estão sujeitos os processos demarcatórios de terras indígenas.