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Rio tem megaprotesto, cenas de depredação e balas de borracha

21 jun 2013 - 00h58
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Em uma noite em que estima-se que 300 mil pessoas saíram às ruas do Rio de Janeiro para se manifestar, conflitos se espalharam por diversos pontos do centro da cidade. A jornada de protestos foi marcada por cenas de depredação e pelo uso de bombas de efeitos moral, gás lacrimogêneo e balas de borracha pela polícia contra os manifestantes.

De acordo com informações divulgadas pela rádio CBN, pelo menos 40 pessoas ficaram feridas nos conflitos e foram levadas ao Hospital Souza Aguiar, entre eles quatro guardas municipais, um policial militar e manifestantes.

A manifestação teve início por volta de 17h, com a concentração de milhares de pessoas nos arredores da igreja da Candelária. O clima inicialmente era festivo, com manifestantes portando cartazes, faixas e instrumentos musicais e muitos usando as cores da bandeira brasileira.

Por volta de 18h, os integrantes da passeata começaram a se deslocar pela avenida Presidente Vargas, importante via com quatro pistas que liga o centro à zona norte do Rio e que ficou completamente tomada pelos participantes do protesto.

A tensão começou quando um grupo chegou à Prefeitura do Rio de Janeiro, no bairro da Cidade Nova. Em um episódio cujo início ainda não é totalmente claro, a cavalaria da polícia militar agiu contra os manifestantes, que teriam respondido com pedras. Bombas de efeito moral, balas de borracha e gás lacrimogêneo foram usadas contra os participantes da marcha.

'Não vai ter Copa'

A alguns metros dali, no restante da avenida Presidente Vargas, o clima permanecia calmo, mas, lentamente, os manifestantes começaram a caminhar em direção oposta, no sentido da igreja da Candelária. A grande maioria gritava slogans contra o governador Sergio Cabral e contra o prefeito Eduardo Paes. A presidente Dilma Rousseff também era criticada em gritos e cartazes.

Outros participantes do protesto ainda se posicionavam contra a realização da Copa do Mundo do país: "Não vai ter Copa", gritavam.

Por volta de 19h30, a reportagem da BBC Brasil presenciou integrantes do protesto retirando banners de propaganda fixados na grade do sambódromo. Eles foram vaiados por outros participantes do protesto e chamados de vândalos. Um dos que retiravam os cartazes gritava que "vândalos eram os policiais".

Minutos depois, um carro da rede de televisão SBT que estava estacionado próximo à prefeitura foi incendiado, criando um clarão visível a alguns quilômetros de distância.

A polícia utilizou bombas de gás e de efeito moral contra manifestantes em outro pontos da Presidente Vargas e na Avenida Rio Branco. Há relatos de que lojas teriam sido saqueadas.

Pouco antes das 22h, a polícia utilizou bombas de efeito moral contra manifestantes na Cinelândia. Grupos ainda se deslocaram para a Assembleia Legislativa do Rio, nas proximidades, e para o Palácio Guanabara, sede do governo do Rio, no bairro de Laranjeiras.

Estações de metrô ficaram fechadas e os poucos ônibus que circulavam estavam lotados. Muitos ficaram presos na região à espera de meios para voltar para casa.

Pautas

Um dia depois de o prefeito Eduardo Paes e o governador Sergio Cabral terem anunciado a revogação do aumento das tarifas do transporte público - o estopim dos protestos -, a pluralidade de pautas de reivindicações era ainda mais visível no protesto desta quinta-feira.

Além de críticas ao modo como a Copa do Mundo está sendo organizada e ao uso de verbas públicas em grandes eventos, muitos cartazes usados pelos manifestantes traziam críticas à PEC 37, que limita o poder de investigação do Ministério Público, e ao presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, Marco Feliciano.

Havia ainda faixas contra o presidente do Senado, Renan Calheiros, contra a corrupção e pedindo a prisão dos condenados pelo escândalo do mensalão, além de cartazes contra o uso de subsídios públicos para baixar as tarifas de ônibus.

Bandeiras de partidos políticos eram menos visíveis que em outras manifestações, quando integrantes de agremiações de esquerda chegaram a ser hostilizados, mas um grupo levantava bandeiras do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).

Comparecendo pela primeira vez a um dos protestos da série que tem tomado o Rio durante as últimas semanas, a atendente de telemarketing Larytzia Soares, de 21 anos, portava um cartaz contra o programa Bolsa Família, do governo federal.

"Quero que a Dilma saia. Não dão oportunidade de trabalho, só bolsa. Quem é honesto não tem benefício", dizia.

Já o camelô Juarez Neves, que vendia bebidas em um isopor no meio do protestos, afirmou que as vendas estavam "boazinhas". A toda hora, precisava explicar que a cerveja já havia acabado. "Trouxe pouca, com medo de apreenderem".

Sobre a manifestação, ele diz ver o movimento com simpatia. "Quem precisava fazer um desses eramos nós, ambulantes, mas a coisa está tão ruim que quando a gente vem é para trabalhar", disse.

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