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Fusca vira solução para custear tratamento de câncer no RS

Sem recursos para pagar tratamento de quase R$ 1 milhão no exterior, neto leiloa Fusca herdado do avô

25 mai 2015 - 13h15
(atualizado em 26/5/2015 às 17h16)
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José Mário, pai de Leonardo Konarzewski, exibe os documentos referentes ao tratamento e a negativa do visto
José Mário, pai de Leonardo Konarzewski, exibe os documentos referentes ao tratamento e a negativa do visto
Foto: Ananda Müller / Especial para o Terra

Em julho de 2013, Leonardo Konarzewski, à época com 19 anos, foi diagnosticado com linfoma de Hodgkin, um câncer que atinge o sistema linfático e se espalha rapidamente pelo organismo. O jovem foi encaminhado para tratamento junto ao Hospital de Clínicas, em Porto Alegre, cidade em que nasceu e viveu até então. Todos os procedimentos foram custeados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e em fevereiro de 2014 o rapaz foi considerado curado da doença. Uma história de superação e final feliz, não fosse um detalhe: parte das células do linfoma não foram atacadas pelo tratamento e culminaram no retorno da doença - ainda mais agressiva-  em agosto do mesmo ano. A partir de então começou a corrida contra o tempo da família Konarzewski.

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Ainda sob os cuidados da equipe de oncologia do Hospital de Clínicas, Leonardo recebeu uma notícia alarmante: a doença havia atingido patamares que impossibilitavam a continuidade do tratamento no Brasil. Com as opções médicas disponíveis no País esgotadas, os médicos do jovem encaminharam solicitação de atendimento à Mayo Clinic, nos Estados Unidos, onde um tratamento mais agressivo está disponível, oferecendo 75% de chances de cura. O valor aproximado de todo o processo seria de US$ 250 mil, o equivalente a R$ 900 mil. É ai que entra um elemento-chave nessa história: um Fusca 1985, herança de família deixada pelo avô ao neto caçula.

Diferentes campanhas foram lançadas nas redes sociais e divulgadas na imprensa, mas a família corre contra o relógio, já que a clínica norte-americana só dá continuidade ao tratamento a partir dos depósitos. Para garantir que Leonardo não perca um minuto na espera pelas medicações, o jovem teve uma ideia corajosa: rifar o fusca 1985 que herdara do avô, falecido em 2010. A questão financeira, junto com o impasse no visto, são as principais preocupações da família neste momento. Até agora, cerca de R$ 420 mil já foram arrecadados, mas o valor não representa nem a metade do necessário.

Para pagar o tratamento de Leonardo Konarzewski contra o câncer, família rifa o Fusca 1985
Para pagar o tratamento de Leonardo Konarzewski contra o câncer, família rifa o Fusca 1985
Foto: Ananda Müller / Especial para o Terra

O Volkswagen Fusca tem 30 anos, mas a aparência é de zero quilômetro. Cuidado com capricho por Leonardo, o carro brilha por dentro e por fora. Seu José Mário, pai de Leonardo, exibe o carro com orgulho, lembrança deixada pelo pai ao neto caçula: “o Léo sempre fez questão de andar com o Fusca, não queria um carro moderno. Ele gostava é desse”. Os bilhetes da rifa, no valor de R$ 50, dão direito a dois números e serão sorteados em 16 de abril de 2016. No total, são cinco mil bilhetes e a maior parte ainda aguarda compradores: “nós vendemos apenas cerca de 300, mas a campanha está progredindo, temos esperança de vender todos antes do prazo do sorteio!” ressalta Telmo, o irmão de Leonardo que tomou a frente da divulgação nas redes sociais.

Leonardo e a mãe, Lourdes, receberam a autorização para partirem para os Estados Unidos em março deste ano - não sem antes o pai, José Mário, comprovar o depósito de R$ 50 mil nas contas da família. No dia 10 de março de 2015, mãe e filho seguiram à América do Norte, mas o pai ficou para lutar com o Consulado americano em São Paulo, que determina a permanência dele no Brasil para garantir que as verbas necessárias para o tratamento sejam depositadas nas contas da Mayo Clinic.

José Mário, agora com duas cartas da Mayo Clinic e da frontendunited.io - uma iniciativa de desenvolvedores brasileiros que vêm apoiando o jovem e a mãe nos Estados Unidos - voltará a São Paulo para tentar reverter a negativa em relação ao visto. “Aqui em Porto Alegre não adianta, tenho que ir a São Paulo. Vamos ver se eles se sensibilizam com as cartas”, afirma José Mário, que deseja ir ao encontro da família para dar suporte à esposa e ao filho. O Consulado, além da questão da remessa de verbas para o custeio da família, entende que o pai de Leonardo “não tem garantias suficientes de que retornará ao Brasil após o tratamento”.

Familiares de Leonardo Konarzewski exibem faixa com pedido de ajuda para custeio de tratamento contra o câncer
Familiares de Leonardo Konarzewski exibem faixa com pedido de ajuda para custeio de tratamento contra o câncer
Foto: Ananda Müller / Especial para o Terra

A falta de apoio do poder público é uma das principais reclamações da família. A Defensoria Pública do Estado entrou em contato com as secretarias Municipal e Estadual de Saúde, que afirmaram não ter como ajudar. “Eu estive reunido com o secretário (João Gabardo, titular da pasta de saúde do RS) e ele me disse 'José, não tem o que fazer, é lei!”, conta o pai. Agora, a questão foi encaminhada ao Ministério da Saúde, em Brasília, mas ainda não tem prazo para apreciação. Telmo, o irmão, garante que diferentes entidades, organizações e representantes públicos foram procurados, mas até agora não houve resposta contundente. “Olha aqui (em referência a uma série de e-mails), todos enviados para políticos, secretarias. Até agora, nada”, ressalta o irmão de Leonardo.

Se o poder público anda distante, a família não tem do que reclamar dos amigos. Leonardo, que assim como Telmo trabalha com tecnologia da informação, está recebendo apoio dos colegas de profissão. Pelo menos os eventos de TI Brasil JS, RSJS e Hackathon destinaram parte do valor das inscrições para o tratamento de Leonardo. Vídeos pedindo apoio também foram divulgados na internet, o que fez com que a campanha despertasse interesse de colaboradores até do outro lado do Atlântico. “Chegou agora uma mensagem de uma mulher da Suíça, que quer saber como ajudar”, reforça José Mário durante nossa visita à casa da família. Nas redes sociais, o apoio da população encoraja a família.

Nossa reportagem conversou com Leonardo após uma sessão de exames no último sábado. Bastante debilitado, o jovem está sempre acompanhado da mãe, que reclama da barreira da língua. “Preciso de ajuda o tempo todo, está muito difícil”, ressalta Lourdes. Leonardo, que se comunica via Skype com a família diariamente, afirma que passa por um misto de sentimentos. “Eu estou muito ansioso, mas também confiante. Se tudo der certo, na próxima semana já posso fazer os exames necessários para encaminhar o transplante.” Para tanto, o jovem precisa de todo apoio: “quem não puder contribuir financeiramente, não tem problema, qualquer ajuda é válida, principalmente divulgando a campanha”. Com a voz firme, Leonardo encerra a ligação agradecendo o apoio de todos: “vou dar o melhor de mim, e agradecer ficando curado!”

Quem quiser ajudar o Leonardo a vencer a batalha contra o câncer pode entrar no site da campanha, que é o www.leokz.com/campanha e encontrar a melhor forma de contribuir. Além disso, o site gofundme.com/helpleokz também recebe contribuições. O número da conta bancária da família é do Banco do Brasil, no nome de Leonardo Konarzewski, agência: 5745-2, conta corrente 102015-3.

Hospital do câncer promove ação beneficente em shopping de Cascavel :
Fonte: Especial para Terra
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