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Protesto de acampados no Leblon gera polêmica com moradores e comércio

Acampados em frente à casa do governador Sérgio Cabral "sobrevivem" de doações de apoiadores

3 ago 2013 - 16h10
(atualizado às 16h10)
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<p>Manifestantes prometem ficar no local até que Cabral deixe o governo fluminense</p>
Manifestantes prometem ficar no local até que Cabral deixe o governo fluminense
Foto: Daniel Ramalho / Terra

Eles estão de volta. E agora dizem que para ficar até quando o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, decidir renunciar ou sofrer impeachment devido ao suposto envolvimento em esquemas de corrupção e ao uso irregular de helicópteros do Estado. De 20 a 100 manifestantes - dependendo do dia - se mantêm acampados na avenida Delfim Moreira, esquina com a rua Aristides Espínola, no Leblon, zona sul do Rio - onde mora Cabral -, desde o último dia 28.

O acampamento interdita uma faixa de cada lado da avenida. E é a segunda vez que eles se reúnem ali - a primeira durou cerca de duas semanas e foi desalojada pela polícia. Os vizinhos e curiosos que passam por ali se perguntam: como eles se mantêm ali? A resposta do administrador de empresas Daniel Spirin, 33 anos, é clara: "A gente se alimenta de sanduíches, água e animação".

Os mantimentos são frutos de doações de quem apoia o movimento. O Terra pode observar quando uma mulher parou seu carro na faixa interditada para falar com os manifestantes. Declarava apoio, assim como a maioria dos motoristas que passam pelo local, buzinando repetidas vezes, como é pedido em cartazes, para animá-los.

"Você está vendo aquele colchonete ali? E aquelas garrafas de água? Tudo vem de gente que passou aí e deixou. A gente recebe até feijão, café. Temos água para dois dias. E vamos ficando indefinidamente", completa Daniel. 

À primeira vista, a vizinhança tem sido receptiva. "Nunca fomos tão bem recebidos. Aqui temos do bom e do melhor. Passam pessoas todo dia querendo dar dinheiro", conta outro manifestante, chamado Thomaz, mas que preferiu não informar o sobrenome. "É como se as pessoas tivessem lutando da forma que podem contra a permanência desse governo."

Mas o apoio não é unânime. Há vizinhos incomodados com o barulho. Algumas das manifestações acabaram com repressão da Polícia Militar, com bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta. Impossível não sentir os efeitos dos equipamentos de baixa letalidade da PM dentro de sua própria casa. 

"Os manifestantes são ótimos. Muitos moradores estão ao lado deles. Ele (Cabral) que deveria ir morar no Palácio Laranjeiras, que é a residência oficial do governador", afirma Cynthia Clark, vizinha que organizou um abaixo-assinado pedindo a saída de Cabral da rua Aristides Espínola.

Os comerciantes reclamam mais. Dona Wanda, que mantém há muitos anos uma barraca de praia na altura do Posto 12, diz que o movimento caiu em 90%. "O povo está com medo. E claro que tem que ficar. Não tem só manifestantes sérios ali, tem infiltrados também, moradores de rua que estão ali porque conseguem o que comer", diz ela. Os acampados negam problemas com possíveis interesseiros.

"O Leblon é um bairro tranquilo, mas perdeu a paz. As pessoas têm os seus apartamentos, mas a rua é o quintal de casa. É onde todo mundo se encontra. E os moradores estão com medo de ir para o quintal", reclama a comerciante. 

Protestos mobilizam população e desafiam governos de todo o País 

Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São PauloRio de JaneiroCuritibaSalvadorFortalezaPorto Alegre e Brasília.

A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

Fonte: Terra
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