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Política

Vídeo inédito comprova existência de índios da tribo Kawahiva no Mato Grosso

15 ago 2013 - 19h25
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A Funai apresentou nesta quarta-feira um vídeo inédito sobre os índios Kawahiva, tribo nômade que ligou sua sobrevivência à fuga permanente das ameaças que a civilização levou à Amazônia.

O vídeo de dois minutos, filmado em 2011 e divulgado agora, mostra um grupo de homens, mulheres e crianças caminhando nus pela selva, levando arcos e longas flechas de até meio metro de comprimento.

O coordenador-geral do escritório de Índios Isolados e Recém Contatados da Funai, Carlos Travassos, disse à Agência Efe que o vídeo faz parte dos relatórios de trabalho de campo do órgão para o monitoramento dos grupos indígenas isolados e que ele serve como prova da existência da tribo, que foi questionada por latifundiários que ambicionam as terras onde eles vivem, no norte do Mato Grosso.

"Os kawahivas vivem em terras do Estado. Mas há proprietários que têm fazendas dentro (da reserva) e abriram processos questionando os dados da Funai, alegam que são inconsistentes", explicou Travassos.

A Funai sabe da existência da tribo Kawahivas desde 1999, quando foi documentada detalhadamente com fotografias de utensílios, de pegadas e do rastro de seus deslocamentos, em uma tarefa "que se assemelha ao estudo de um lugar arqueológico".

No fim de julho, uma decisão do Tribunal Regional Federal da Primeira Região, no Mato Grosso, determinou à Funai e à União que prosseguissem com a regularização das terras, de 411.848 hectares, que já estão delimitadas, com estudos finalizados pela Funai. Resta a publicação da Portaria Declaratória do Ministério da Justiça e Homologação da demarcação pela Presidência da República.

Os dados coletados pela Funai permitem saber que os Kawahivas são caçadores e coletores de frutas, que se deslocam constantemente, em parte pela pressão de mineradores ilegais, agricultores, madeireiros e proprietários ilegais de terras, estes considerados a "maior ameaça" à sua sobrevivência.

Os Kawahivas se caracterizam por serem fugidios, por não manter contato nem com o homem branco nem com outras tribos da região, mas com elas compartilham a mesma família linguística, o tupi.

"A população indígena provavelmente teve um contato ruim com nossa sociedade, por isso se esquiva de qualquer contato, inclusive com as equipes da Funai, que não são agressivas nem deixam lixo na floresta", comentou Travassos.

O responsável da Funai relatou ainda que, em 2006, tentou contatar estes índios para alertar sobre uma incursão de um grupo armado de "grileiros" na região, mas os Kawahivas também fugiram antes que o órgão pudesse falar sobre o perigo.

"A Funai temia que, se eles não fossem contatados, a possibilidade de sobrevivência seria muito pequena", explicou, lembrando ainda episódios violentos praticados contra indígenas relacionados aos relatos do período entre 1950 e 1970, resultado da expansão de frentes de ocupação.

"Os dados mostram que era um grupo muito mais populoso que o atual. Achamos que começou a cair há 40 ou 30 anos pelo exploração do território e com mais força nos últimos 20 anos por causa da diminuição dos recursos naturais. Há relatos de massacres e ataques violentos", comentou Travassos.

Os estudos da Funai permitiram conhecer aspectos curiosos desta tribo, que não pratica a agricultura e permanece durante poucos anos na bacia de um rio para depois se muda para outro vale.

Segundo Travassos, o povo Kawahiva se caracteriza também por ter "apreço" pelos pássaros. Eles costumam deixar os filhotes em árvores altíssimas, onde constroem jiraus para coletar mel ou capturar filhotes, que criam em espécies de gaiolas como animais de estimação.

EFE   
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