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Política

STF julga hoje Antonio Palocci, entenda a denúncia

27 ago 2009 - 08h04
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O Supremo Tribunal Federal (STF) julga hoje se recebe a denúncia contra o deputado federal Antonio Palocci (PT-SP) por ordenar a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, em 2006, quando era ministro da Fazenda do governo Lula.

Palocci foi ministro da Fazenda no início do governo Lula
Palocci foi ministro da Fazenda no início do governo Lula
Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

O extrato bancário do caseiro, que havia acusado o ministro de frequentar uma mansão onde seria feita distribuição ilegal de dinheiro (lobby), foi publicado em uma revista semanal. Na época, Palocci era apontado como o mais provável sucessor de Lula como candidato ao Palácio do Planalto. Depois do escândalo, em março de 2006, ele deixou o Ministério da Fazenda.

O então procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, ofereceu denúncia contra o ex-ministro por quebra de sigilo funcional no dia 22 de fevereiro de 2008. Em agosto do mesmo ano, Palocci rejeitou trocar o julgamento no Plenário do Supremo pela suspensão do processo e o cumprimento de trabalhos comunitários como pena alternativa.

Com isso, nesta quinta-feira, os 11 ministros do STF irão julgar se recebem ou não a denúncia e abrem ação penal contra o parlamentar. Se a denúncia for aceita, haverá depoimentos de testemunhas, realização de operações de busca e apreensão - se necessário -, e perícias. Depois, haverá as alegações finais do Ministério Público (MP), requerente da ação, e da defesa, para então ocorrer o julgamento. Caso seja acatada a denúncia, Palocci responderá por ação penal por quebra de sigilo funcional e pode pegar de um a quatro anos de prisão.

A cúpula do PT estaria esperando essa decisão e pesquisas de opinião pública para avaliar a possibilidade de o deputado concorrer ao governo do Estado de São Paulo nas eleições de 2010.

Relembre a crise que levou à denúncia contra Palocci e seu afastamento do governo Lula:

Dólares de Cuba
O suposto repasse de dólares cubanos para a campanha eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, foi denunciado no final do ano de 2005 pela revista Veja. O advogado Rogério Buratti, ex-secretário da administração municipal de Palocci, e Vladimir Poleto, ex-funcionário da prefeitura, afirmaram terem ouvido de outro ex-colaborador de Palocci, já falecido (Ralf Barquete), que Cuba remeteu uma alta soma em dólares para o PT.

Poleto, que era assessor de Barquette, disse nunca ter visto o dinheiro, mas que viajou de avião, no ano das eleições, levando três caixas com uísque de Brasília até Campinas (SP). As caixas conteriam US$ 1,4 milhão. Os três, juntos com outros assessores de Palocci em Ribeirão Preto, foram apelidados de integrantes da "República de Ribeirão".

Casa do Lobby
O motorista Francisco das Chagas Costa, que prestou serviços para assessores da prefeitura de Ribeirão Preto durante a gestão de Antonio Palocci, afirmou em depoimento na CPI dos Bingos no dia 8 de março de 2006, que Palocci esteve na casa de Vladimir Poletto em Brasília. A afirmação contradisse o depoimento do ministro na CPI, que afirmou nunca ter estado na casa.

"Todos me ligavam quando vinham para cá (Brasília). Eu vi o Palocci lá umas duas ou três vezes, sempre durante o dia", disse o motorista. Segundo Costa, a casa foi alugada por R$ 60 mil, pagos em dinheiro e servia para reuniões entre Poletto, Rogério Buratti, Ralf Barquette e outros assessores de Ribeirão Preto.

Caseiro na CPI
O caseiro Francenildo dos Santos Costa, Nildo, confirmou em depoimento à CPI dos Bingos, no dia 16 de março de 2006, que Palocci fez várias visitas à mansão alugada por ex-assessores da prefeitura de Ribeirão Preto, no Lago Sul de Brasília. "Eu confirmo até morrer", disse ele ao ser questionado pela então senadora Heloísa Helena (Psol-AL). Em depoimento à CPI dos Bingos, Palocci negou que tenha ido à casa.

Francenildo também afirmou que Palocci era amigo de Vladimir Poletto, Rogério Buratti e Ralf Barquette, freqüentadores assíduos da casa. Segundo ele, Poletto era o responsável pelo pagamento das despesas da casa, inclusive seu salário, que era recebido em dinheiro. O homem contou que Palocci era chamado pelos demais como "chefe".

O presidente da CPI dos Bingos, Efraim Morais (DEM-PB), suspendeu o depoimento do caseiro Francenido Santos Costa após ser informado sobre a decisão favorável do Supremo Tribunal Federal (STF) à liminar requerida pelo senador Tião Viana (PT-AC) solicitando a suspensão do depoimento. O petista alegou ameaça de invasão de privacidade de Palocci e sustentou que Francenildo Costa não tinha qualquer relação com o fato para o qual a CPI foi criada.

Quebra do Sigilo do caseiro
O blog da revista Época divulgou, no dia 17 de março de 2006, que o caseiro Francenildo dos Santos Costa recebeu um total de R$ 38.860 em depósitos em sua conta corrente. Nildo afirmou que o dinheiro era oriundo de um depósito feito pelo empresário Eurípedes Soares da Silva, proprietário de uma empresa de transporte urbano em Teresina, no Piauí, que ele afirma ser seu pai.

O repasse teria sido fruto de um acordo entre Francenildo e Eurípedes, que serviria como uma indenização em função de o empresário negar-lhe a paternidade.

O advogado do caseiro, Wlício Chaveiro Nascimento, entregou uma denúncia formal ao Ministério Público do Distrito Federal pedindo a instauração de um inquérito para identificar os responsáveis pela quebra de sigilo bancário de seu cliente. A investigação sobre a impressão ilegal do extrato bancário vai para na Polícia Federal.

Depoimento de Mattoso
O então presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Jorge Mattoso, admitiu que entregou pessoalmente ao ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci a impressão ilegal do extrato bancário do caseiro Francenildo Costa Santos. Mattoso foi indiciado por violação de sigilo funcional.

O presidente do CEF citou nominalmente o nome do ex-ministro por duas vezes durante o depoimento na Polícia Federal (PF).

Pedido de afastamento
Em março de 2006, Palocci divulgou uma nota anunciando seu afastamento. A nota dizia que ele encaminharia ao presidente Lula uma carta explicando suas razões. O presidente Lula aceitou no dia 27 de março de 2006 a demissão do ministro da Fazenda e definiu o então presidente do BNDES, Guido Mantega, como seu substituto.

"Máfia do lixo"
Além da ação envolvendo o processo pela quebra irregular do sigilo bancário do caseiro Francenildo, Palocci foi alvo do processo que tratava de uma suposta fraude em contratos de empresas para a coleta de lixo, caso que ficou conhecido como "máfia do lixo". No dia 18 de junho deste ano, o STF arquivou, por nove votos a um, o inquérito instaurado contra Palocci para investigar supostas práticas de formação de quadrilha, peculato e falsificação de documento público, na época em que era prefeito de Ribeirão Preto (SP).

Em 2005, Rogério Buratti, ex-assessor de Palocci, disse ter recebido R$ 50 mil mensais da Leão&Leão, empresa responsável pela coleta de lixo em Ribeirão Preto, como "caixa dois" de campanha de candidatos do PT. A maioria dos ministros do STF acompanhou a decisão do relator Joaquim Barbosa, com exceção de Marco Aurélio Mello.

Em fevereiro deste ano, também foi arquivada a denúncia de que Palocci teria contratado irregularmente uma empresa de publicidade, também durante seu mandato em Ribeirão Preto. O arquivamento foi determinado em 13 de fevereiro por falta de provas contra o parlamentar.

Fonte: Terra
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