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Secretário assume Esporte interinamente no lugar de Orlando

26 out 2011 - 20h10
(atualizado em 27/10/2011 às 10h01)
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Diogo Alcântara
Direto de Brasília

Logo após a divulgação do afastamento de Orlando Silva do Ministério do Esporte no início da noite desta quarta-feira, a presidente Dilma Rousseff anunciou o secretário Waldemar Souza (PCdoB-RJ) como substituto interino do cargo. O nome definitivo deve ser indicado até o fim desta semana. Na reunião na qual Orlando entregou o cargo, Dilma não fez garantias de que o PCdoB continuará à frente da pasta, mas também não ameaçou tirá-la da legenda. "Não há decisão tomada se o PCdoB continua (no comando do ministério)", disse um interlocutor da presidente.

De acordo o principal delator do suposto esquema de corrupção no Esporte - o policial militar João Dias Ferreira-, o agora ministro interino da pasta participou de uma das reuniões que comprovariam as acusações dele. O encontro foi gravado e, junto a outros 12 arquivos de áudio, foi entregue pelo PM à Superintendência da Polícia Federal.

Waldemar Souza havia recebido a autorização, publicada hoje no Diário Oficial, para viajar amanhã para Guadalajara, no México, onde acompanharia os jogos Pan-Americanos. O despacho autorizando a viagem, suspensa por conta da nomeação, foi assinado pelo então ministro Orlando Silva.

Mais cedo, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, havia dito que havia uma "tendência" para a legenda continuar com o ministério. O partido foi acusado de comandar o esquema de desvio de recursos do programa Segundo Tempo.

Enquanto secretário executivo da pasta, Waldemar Souza assinou convênios com organizações não governamentais suspeitas de irregularidades, conforme publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo em agosto deste ano.

Após o pronunciamento de Orlando, o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, avaliou a importância do partido dizendo que ele não "caiu de paraquedas" no governo. "Nosso partido não é conjuntural, não é um partido que está no governo porque caiu de paraquedas. Mas é um partido que tem uma aliança desde o presidente Lula".

Segundo o presidente do PCdoB, o partido não indicou um nome para substituir Orlando Silva. "A presidenta vai resolver isso logo", garantiu Renato Rabelo, que também se pronunciou sobre as denúncias. "Não existe ONG do PCdoB. As pessoas podem se filiar a partidos e participarem de ONGs, como qualquer cidadão." Rabelo defendeu a gestão do ministro demissionário e afirmou que o colega de sigla foi bombardeado por "calúnias", o que causa "indignação no partido".

Orlando Silva pede demissão do Ministério do Esporte

Orlando Silva (PCdoB) pediu demissão do Ministério do Esporte no dia 26 de outubro, após reunião com a presidente Dilma Rousseff e o presidente do seu partido, Renato Rabelo. Silva não resistiu à pressão para que deixasse o cargo após denúncias de fraudes em contratos entre a pasta e organizações não-governamentais (ONGs). Sexto ministro de Dilma a cair ainda no primeiro ano de governo, Silva foi apontado por uma reportagem da revista Veja de outubro como o líder de um esquema de corrupção que pode ter desviado mais de R$ 40 milhões em oito anos. Na falta de um nome definitivo indicado pela presidente, o secretário-executivo da pasta, Waldemar de Souza, também do PCdoB, assumiu a chefia no ministério interinamente.

Segundo o delator do suposto esquema, o policial militar e militante do PCdoB João Dias Ferreira, ONGs recebiam verbas mediante o pagamento de uma taxa que podia chegar a 20% do valor dos convênios. Orlando teria recebido, dentro da garagem do ministério, uma caixa de papelão cheia de cédulas de R$ 50 e R$ 100 provenientes dos desvios que envolveriam o programa Segundo Tempo - iniciativa de promoção de práticas esportivas voltada a jovens expostos a riscos sociais.

Ferreira foi um dos cinco presos em 2010 durante a Operação Shaolin, que apontou diversos membros do PCdoB como protagonistas das irregularidades. Por meio da Associação João Dias de Kung Fu e da Federação Brasiliense de Kung Fu, ele firmou dois convênios com a pasta, em 2005 e 2006. Antes de pedir demissão, Silva exigia a Ferreira a devolução do dinheiro repassado. No dia 17 de outubro, o então ministro protocolou um pedido para que a Procuradoria-Geral da República (PGR) investigasse as denúncias.

No dia 19 de outubro, o jornal O Estado de S.Paulo publicou reportagem que afirmava que a pasta prorrogara até agosto de 2012 um convênio de R$ 911 mil do programa Segundo Tempo com uma entidade de fachada que, apesar de ter assinado o contrato em dezembro de 2009, jamais executou o projeto no entorno do Distrito Federal. O jornal ainda acusou a mulher de Orlando Silva, Ana Petta, de ter recebido recursos públicos de uma ONG de filiados do PCdoB. Petta teria utilizado sua empresa de produção cultural, a Hermana, para assinar contrato com ONG Via BR, que havia recebido R$ 278,9 mil em novembro de 2010.

No dia 24, Ferreira prestou depoimento à PF, no qual afirmou que pelo menos 20 ONGs estariam dispostas a delatar o suposto esquema. Ele entregou 13 áudios, um celular e mídias que comprovariam os desvios. Segundo o PM, no entanto, nenhum continha a voz de Silva, assim como nenhuma das provas o atingia diretamente. No dia seguinte, o Supremo Tribunal Federal (STF) anunciou a abertura de inquérito para investigar o caso. De acordo com o advogado de Silva, foi o próprio ex-ministro quem pediu a investigação, mas ele teve que abrir mão do cargo após o governo avaliar que não poderia mantê-lo sendo investigado pela mais alta corte do País.

Com a queda de Orlando Silva, Waldemar Souza assume interinamente o Ministério do Esporte
Com a queda de Orlando Silva, Waldemar Souza assume interinamente o Ministério do Esporte
Foto: Marcello Casal Jr. / Agência Brasil
Fonte: Terra
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