Protestos pelo Brasil pedem renúncia do presidente do Senado
Sob um calor de mais de 30º, dezenas de pessoas caminharam neste domingo na orla de Copacabana, zona sul da capital fluminense, pedindo a renúncia do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB). Com faixas, cartazes e gritos de ordem, foram até o Leme, recebendo apoio dos banhistas.
O protesto foi organizado por meio de uma página de relacionamentos na internet, e acontece simultaneamente em mais de 30 cidades, incluindo as capitais Brasília, Belém, Vitória, Florianópolis e Maceió. Em Alagoas, Estado que elegeu o político para o Senado, mais de duas mil pessoas confirmaram presença.
De acordo com uma das organizadoras do ato no Rio, a assistente social Maria Abreu de Oliveira, 40 anos, as pessoas precisam "ir às ruas como no impeachment do ex-presidente da República Fernando Collor de Mello", em 1992.
"Não achamos justa a forma que esse senhor assumiu o Senado, é hora de tomar as ruas, pintar a cara e mostrar nossa indignação", disse Maria Abreu. "O brasileiro, por causa da repressão, não tem o costume de ir às ruas, mas é preciso resgatar o velho jeito de protestar e sair da internet", completou.
Carregando faixas com os dizeres Choque de ordem no Senado, Fora Renan e Chega de Corrupção, os manifestantes chamaram atenção de quem passava pela orla. "Temos uma petição assinada por milhares de pessoas. Isso não pode passar em branco, é a vontade do povo", disse a estudante Júlia Marques, 24 anos.
Vergonha
A moradora de Copacabana, Juliana dos Santos Silva, 23 anos, que não sabia do protesto, se juntou ao grupo. "Esse Congresso todo é uma vergonha", disse ao reforçar o coro dos manifestantes. Outros pediram para que o senador "faça como o Papa (Bento XVI)" e renuncie ao cargo.
A Guarda Municipal não estimou o número de participantes. Segundo a organização, eles somavam cerca de 100 pessoas. Para Fabrício Silva, estudante de 29 anos, o fechamento das estações do metrô mais próximas à concentração, para obras, atrapalhou o acesso de muitos manifestantes.
Brasília
Com palavras de ordem, os participantes em Brasília pediam - e eram atendidos - aos motoristas que passavam pela Praça dos Três Poderes, local do protesto, que buzinassem em apoio à manifestação. O movimento reuniu cerca de 60 pessoas segundo os organizadores. Pelos cálculos da Polícia Militar do Distrito Federal, o número de manifestantes era de pouco mais de 40.
“A nossa expectativa é que as pessoas vejam o nosso movimento e lutem contra o que está ocorrendo. O brasileiro não tem formação política e é isso que a gente precisa criar no Brasil. As pessoas precisam saber que protestar é importante, pois assim exercemos a nossa cidadania”, disse Amanda de Oliveira Caetano, estudante de Direito, 18 anos, e coordenadora do Dia do Basta, que será realizado no dia 21 de abril com novas manifestações.
São Paulo
Na capital paulista, um grupo de cerca de 200 manifestantes, segundo a Polícia Militar, saiu em passeata no início da tarde deste domingo na Avenida Paulista, região central da cidade.
Com dois dedos sujos de verde e amarelo, o estudante João Calfat tentava animar os transeuntes a participar do protesto. Os que demonstravam simpatia à causa ganhavam duas listras pintadas com guache em cada bochecha, a semelhança dos caras-pintadas que protestaram contra o então presidente Fernando Collor na década de 1990. "Acho que a juventude tem que começar a se mexer, a lutar um pouco por um País mais justo", disse.
Outros, como o analista de sistemas Wanderson Alves, preferiram o nariz de palhaço como símbolo da indignação. "Eu discordo bastante da situação do Brasil, da gente ter esses caras, o próprio Renan, com várias acusações, sendo eleito presidente do Senado. Por isso eu estou aqui, tentando convencer as pessoas para que a opinião do povo prevaleça sobre essas maracutaias", ressaltou.
A estudante de serviço social Bianca Romão disse que ajudou a comprar as tintas e narizes vermelhos usados na manifestação. Para ela, Renan não está apto para o cargo que ocupa. "Não é justo uma pessoa que foi acusada de peculato, falsidade ideológica e desvio de verba pública, ser presidente do Senado", ressaltou, em referência à denúncia apresentada em janeiro pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
O atual presidente do Senado foi acusado por Gurgel de cometer crimes de peculato, falsidade ideológica e falsificação de documentos, por ter desviado verba de gabinete para pagar pensão a um filho.