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Política

Perfis-robôs entram na política e convocam para protesto

No Facebook e Twitter, robôs são aprimorados para terem comportamento cada vez mais "humano"

10 abr 2015 - 08h58
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O debate político entrou de vez nas redes sociais. Não apenas as notícias são compartilhadas e debatidas, como protestos são organizados por meio, principalmente, do Facebook e Twitter. Porém, junto com este crescimento, os perfis robôs, que ganharam notoriedade pelo uso por candidatos nas eleições, vieram para aumentar  artificialmente o apoio a temas e lados. E robôs vivos, que são como perfis falsos no Facebook, têm atuado nas comunidades de convocação para as manifestações do próximo dia 12 contra o governo.

<p>Imagem de um dos perfis anônimos do Facebook que escreve convocando para protestos</p>
Imagem de um dos perfis anônimos do Facebook que escreve convocando para protestos
Foto: Facebook / Reprodução

Os perfis falsos no Facebook são chamados de robôs vivos pelo coordenador do Laboratório de estudos sobre Internet e Cultura (LABIC), da Universidade Federal do Espírito Santo, Fabio Malini. “O que vem acontecendo é algo diferente, que simula um processo de humanização. Um perfil é administrado por mais de uma pessoa”, disse ele.

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Nas comunidades que convocam para o protesto, como a dos Revoltados Online e do Movimento Brasil Livre, perfis falsos comentam posts com mensagens de apoio à manifestação e contra o governo. Eles fazem amizade e adicionam pessoas que se identificam com o viés dos comentários.

“É um trabalho de ficcionista. Você vai criando uma ficção naquele personagem, os amigos comentam. Porém é uma publicação monotemática. O que eles fazem é reproduzir essas pessoas, criando uma vida própria, de modo que quando alguém vai vê-los você não sabe se eles são verdadeiros ou falsos”, disse Fabio.

Embora seja impossível provar que um perfil é falso, já que, em teoria, uma pessoa poderia ter um determinado perfil nas redes sociais com aquelas características, alguns padrões de perfis menos elaborados tornam mais evidentes que ele não é real:

- As imagens são retiradas de perfis trancados para o público externo, ou de um estrangeiro, ou ainda usam imagens figurativas, não sendo possível identificar o dono da conta;

- Há poucas ou nenhuma foto da pessoa além da do perfil;

- São monotemáticos: falam majoritariamente sobre um tema, sem variações;

- Interagem de forma panfletária, mas não mantêm uma conversação com os amigos.

Twitter

No Twitter, as características dos robôs são diferentes, assim com as formas de usos, para diferentes objetivos, conforme explica Fabio. “Existem os robôs que são programados para identificar um conjunto de termos e, se identificar esse conjunto, eles republicam. Também tem a função robótica, que está mais dentro do campo do ativismo. Que é o processo de produção de robôs que mencionam uma causa que defendem. Por exemplo, para defender a aprovação de uma lei. Pode-se criar uma lista de deputados e programar para, em um intervalo de tempo, tweetar: ‘candidato X, você vai votar a favor do projeto X?”.

Outra função comum dos robôs é produzir de forma intensa conteúdo com uma hashtag para tentar elevá-la para o trend topics.

Muitos robôs interagem entre eles para dar relevância a um tweet, segundo Fabio: “Dá para perceber que em redes políticas tem 10 ou 15 perfis que são tomados como mentores intelectuais. Seus tweets ganham muitas menções e acabam aparecendo no topo da pesquisa (feita no buscador do Twitter). Nem todos são robôs, mas sim pessoas que têm um posicionamento (político) bem definido”.

Como o Twitter rastreia rapidamente os robôs, a “humanização” desses perfis também está acontecendo para tornar mais difícil de serem detectados. Em meio ao conteúdo político, os administradores da conta criam tweets com informações cotidianas, como um lugar em que esteve ou algo que comeu.

Alguns fatores, porém, podem denunciar os robôs. Um grande número de tweets em pouco tempo. Uma conta publicar 600 tweets em 6 horas é humanamente impossível de ser feito. Os especialistas fazem ainda análises estruturais do comportamento. Por exemplo, usuários que frequentemente referenciam as mesmas pessoas é um comportamento robótico, já que os usuários costuma mencionar fontes variadas. Pesquisadores da Universidade de Indiana, nos EUA, criaram o site Boto or Not?, que analisa um domínio e calcula a probabilidade de ele ser um robô.

Malini alerta que muitas vezes os internautas dão muito valor à popularidade de uma publicação na internet, mas ela pode ter ganhado relevância artificialmente, criando um “efeito manada” e muitas vezes pautar a sociedade sem que a relevância do assunto tenha ocorrido de forma espontânea. "Inclusive o jornalismo acaba sendo uma presa, repercutindo a notícia dos robôs", conclui.

Fonte: Terra
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