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Política

Parlamentares reclamam de acesso a dados da CPI do Cachoeira

7 mai 2012 - 12h16
(atualizado às 12h30)
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No primeiro dia de funcionamento da sala de segurança, no Senado, para acesso a documentos de operações da Polícia Federal, integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira reclamaram das condições de pesquisa aos dados do inquérito que investiga a atuação do empresário de jogos ilícitos Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

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Na quinta-feira, o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), mandou adaptar uma sala de 15 metros quadrados, com três computadores e câmeras de segurança para tentar impedir o vazamento de dados.

"Em nome do sigilo, estamos criando um ambiente de constrangimento ao parlamentar. Imagine se todo funcionário do Poder Público tivesse que passar por essa situação para trabalhar", disse o deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF), o terceiro a chegar à sala, a qual classificou de "sala da verdade".

Antes de entrar, os deputados e senadores precisam depositar em uma mesa os seus celulares e assinar um termo de compromisso sobre a confidencialidade das informações.

Pitiman reclamou que a maior dificuldade é não poder levar um técnico para ajudá-lo a interpretar as informações. "Não dá para trazer qualquer tipo de assessoramento técnico e isso torna o trabalho menos eficiente", destacou.

A primeira a chegar à sala da consulta foi a deputada Íris Resende de Araújo (PMDB-GO), que iniciou sua segunda-feira de aniversário, às 7h45, usando um dos terminais com as informações da Operação Vegas. Segundo ela, a sala é pequena. "Apesar de ser meu aniversário, faço questão de chegar cedo para estudar os inquéritos."

A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) disse que, ao analisar rapidamente os arquivos que estão nos computadores, não viu nada que já não estivesse publicado na imprensa. "Fiz uma leitura rápida. Tudo que vi já foi divulgado", disse a senadora. O que acho é que este processo de consulta vai dar confusão", completou.

Nos computadores da CPI, estão apenas a informações referentes ao inquérito da Operação Vegas, fornecidos na semana passada pelo Supremo Tribunal Federal. A CPI ainda aguarda o inquérito da Operação Monte Carlo. Na semana passada, o relator do processo no Supremo, ministro Ricardo Lewandowski informou que os arquivos da Monte Carlo ainda não chegaram ao Tribunal e que ainda estão em poder da 11ª Vara Federal em Goiânia.

A CPI investiga as ligações de Cachoeira com agentes públicos e privados. Ele está preso sob suspeita de envolvimento em jogos ilegais e de comandar uma rede de influência envolvendo políticos e administradores públicos.

Após ter aprovado a quebra de sigilos bancário, telefônico e fiscal de Cachoeira, a comissão pediu na semana passada ao Banco Central as informações bancárias dele. Esses dados ainda não chegaram aos computadores da CPI. O pedido de quebra de sigilo abrange as movimentações bancárias de Cachoeira desde 2002.

Além do pedido de quebra de sigilo, a comissão marcou o depoimento de Carlinhos Cachoeira para o próximo dia 15. Também foi aprovada a convocação do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), suspeito de ligações estreitas com o esquema liderado por Cachoeira. O depoimento de Demóstenes foi agendado para o dia 31.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

A sala reservada onde serão ouvidos os primeiros depoimentos da CPI do Cachoeira começou a funcionar nesta segunda-feira
A sala reservada onde serão ouvidos os primeiros depoimentos da CPI do Cachoeira começou a funcionar nesta segunda-feira
Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil
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