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Política

Para oposição, medo de CPI acelerou queda de Palocci

7 jun 2011 - 19h13
(atualizado às 20h10)
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Luciana Cobucci
Direto de Brasília

Senadores da oposição disseram acreditar que o temor pela instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Casa acelerou a queda do ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci. Ele anunciou, nesta terça-feira, seu afastamento do cargo. Palocci resistiu por mais de 20 dias a denúncias envolvendo sua evolução patrimonial e suposto tráfico de influência.

O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) disse que faltava apenas uma assinatura das 27 necessárias para instalar a CPI no Senado. "Isso poderia estar decidido desde a semana passada. Mesmo com a queda, vamos insistir na CPI, mas não sei se conseguiremos, já que os senadores da base governista afirmaram que se ele se afastasse do cargo, retirariam as assinaturas", afirmou.

O parlamentar considerou que as tentativas de explicação do ministro para o Jornal Nacional, da TV Globo, foram em vão. "O tiro saiu pela culatra. Ele estava esperando o parecer do procurador-geral da República (Roberto Gurgel). Ele ficou o tempo necessário para conseguir a blindagem da Procuradoria. Ele caiu pelos próprios erros, não conseguiu se explicar e houve uma blindagem malfeita pela PGR", disse. Ontem, a PGR arquivou pedido de investigação contra o ministro.

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse não ser do seu feitio "comemorar uma notícia dessas", mas afirmou que Palocci tomou uma decisão "sensata". "Espero que o governo seja ágil na recomposição do governo e veja que a oposição é tão importante quando a situação. Ele percebeu que continuaria criando problemas para o governo, juntamente com o risco de uma convocação para a CPI, e decidiu se afastar", afirmou.

A segunda queda de Palocci

De acordo com reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo no dia 15 de maio, semanas antes de assumir a chefia da Casa Civil Antonio Palocci (PT) comprou um apartamento em São Paulo por R$ 6,6 milhões. Um ano antes, ele havia adquirido um escritório na cidade por R$ 882 mil. Com os novos bens, o patrimônio do ministro teria se multiplicado 20 vezes em quatro anos. O ministro alegou que o lucro foi gerado por sua empresa de consultoria, a Projeto, dentro da legalidade e declarado à Receita Federal. No entanto, ele alegou que cláusulas de sigilo o impediam de revelar maiores detalhes sobre os contratos ou seus clientes.

Mas a onda de denúncias continuou. Na Câmara, o PSDB levantou suspeitas sobre a liberação rápida de cerca de R$ 9 milhões em restituição do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) logo após o primeiro turno das eleições de 2010 a uma empresa, a WTorre. Os valores, relativos aos anos-base 2007 e 2008, teriam sido liberados apenas um mês e meio após o pedido, em duas operações com diferença de quatro minutos entre uma e outra. Em contrapartida, segundo a oposição, a empresa teria financiado a campanha da presidente Dilma Rousseff no valor de R$ 2 milhões. A WTorre seria uma das clientes da empresa de Palocci.

Pressionado pela oposição e pela própria base para que apresentasse uma defesa em público, Palocci concedeu uma única entrevista sobre o tema. Na noite de 3 de junho, ele afirmou ao Jornal Nacional, da Rede Globo, que sua empresa não atuou com contratos públicos. O ministro disse que trabalhou em fusão de empresas, mas que nunca junto ao Banco Central, ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ou ao Ministério da Fazenda para resolver problemas das empresas que procuraram seus serviços.

A Procuradoria Geral da República solicitou explicações ao ministro, mas decidiu arquivar os pedidos de investigação por considerar que não houve indícios de procedimentos ilegais. Mesmo assim, a pressão política sobre Palocci não diminuiu e a articulção da oposição para aprovar uma CPI contra Palocci avançava no Congresso. Diante disso, no dia 7 de junho, o principal ministro de Dilma Rousseff pediu demissão.

Palocci deixou a Casa Civil nesta terça-feira
Palocci deixou a Casa Civil nesta terça-feira
Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil
Fonte: Terra
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