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Política

MST foi domesticado por Lula, diz ex-ministro

25 jan 2009 - 04h44
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Ex-ministro do Desenvolvimento Agrário no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o deputado Raul Jungmann (PPS-PE) afirma que os dirigentes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) se deixaram cooptar em troca de liberação de recursos e cargos em autarquias federais, como as superintendências do Instituto nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

"No governo Lula o MST ficou domesticado, dócil e a reforma agrária perdeu o poder de pressão que havia com Fernando Henrique", disse o deputado. Segundo ele, há suspeitas de irregularidades na distribuição de verbas.

"O TCU (Tribunal de Contas da União) está investigando uma série de processos relacionados à liberação de verbas ao movimento. Muitas estatais e autarquias distribuíram dinheiro sem qualquer controle público", acusa o deputado.

Segundo ele, o Ministério do Desenvolvimento Agrário colocou pessoas indicadas pelo movimento para comandar superintendências regionais e unidades avançadas do Incra em várias regiões do país.

"O Incra e o MDA foram aparelhados e o governo abriu os cofres do Tesouro ao movimento através dos quase todos os Ministérios, autarquias e estatais. Lideranças intermediárias e superiores do MST foram cooptadas. Eles têm cargos comissionados e viraram chapa-branca", afirmou.

Um dos principais adversários políticos do MST, o ex-ministro reconhece que o movimento tem o mérito de ter colocado a reforma agrária na agenda do governo na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, pressionando para que fosse possível assentar 650 mil famílias de trabalhadores rurais e distribuir, durante os dois mandatos do PSDB, cerca de 22 milhões de hectares de terra.

"Mas eles também têm o demérito de ter retirado a reforma agrária da agenda do governo Lula", disse Jungmann. O deputado lembra que a a "ferocidade das invasões" era tão intensa que os sem-terra chegaram a tumultuar o governo Fernando Henrique. Invadiram a fazenda particular do próprio presidente, em Buritis (MG) e, em outra ocasião, o gabinete de Jungmann, em Brasília, sem contas as centenas de propriedades invadidas e os conflitos provocados no campo.

"O MST perdeu o fator de coesão e luta ao se render ao governo Lula. Não são mais os revolucionários que enfrentavam o governo Fernando Henrique. O movimento é governista", diz Jungmann, que concentra suas críticas no principal dirigente do MST, o economista João Pedro Stédile.

"O Stédile era um revolucionário e se transformou num barnabé. O dirigente de fato do movimento é o Luiz Dulci (ministro da Secretaria Geral da Presidência) que chama o movimento para conversar sempre que fazem ameaças e libera mais dinheiro", afirmou.

O ex-ministro diz que o MST perdeu o rumo e a razão de ser porque seus objetivos eram políticos e a meta era, se possível, derrubar o governo Fernando Henrique. "O movimento tem objetivos políticos. Se a finalidade fosse a reforma agrária, seu desempenho no governo Lula seria mais agressivo que no de FHC. Haveria mais pressões. Mas ocorre justamente o contrário", observa o deputado.

Segundo ele, a explicação é porque ao se envolver como parceiro na campanha que elegeu o governo do PT, os dirigentes sem-terra assumiram um papel de bom comportamento e dentro dos limites definidos pelo Palácio do Planalto.

Jungmann acha que o suposto distanciamento do MST em relação do governo Lula, anunciado no encontro por ocasião dos 25 anos, em Sarandi, é falácia.

"É coisa pra inglês ver porque trata-se de cria e criador", afirma. Ele diz que os sem-terra estão sem alternativa política, mas se preparam para retomar as invasões e manifestações com mais intensidade caso em 2010 seja eleito um governante do PSDB. "Eles voltarão cuspindo fogo", diz.

Jornal do Brasil Jornal do Brasil
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