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Política

Ministro diz que transparência aumentou sensação de corrupção

José Eduardo Cardozo, titular da pasta da Justiça, disse que políticas de transparência fizeram a sociedade tomar conhecimento de irregularidades

31 jul 2013 - 19h12
(atualizado às 19h40)
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O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou nesta quarta-feira, em Porto Alegre, que a transparência instituída em órgãos públicos brasileiros resultou em um aumento da sensação de corrupção por parte da sociedade. Em debate sobre o tema, realizado quase dois meses depois dos protestos que tomaram as ruas do Brasil, Cardozo disse que o País está passando pela “angústia dos processos de transformação”.

“Quando a corrupção não é vista, ela não é conhecida. Quando você começa a criar mecanismos de transparência, de enfrentamento, o que não era visto passa a ser. E a sensação de corrupção aumenta para a sociedade. Uma pessoa que não tem sintomas da doença, ela não muda seus atos, não toma remédio. Mas se, de repente, ela resolve fazer um check-up e se diagnostica uma doença, o mundo muda do dia para a noite. Por quê? Por que a doença nasceu ali? Não, porque tomou conhecimento da doença”, disse o ministro, durante debate sobre corrupção e transparente no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (Cdes) do Rio Grande do Sul.

Cardozo chamou de “superficial e maniqueísta” a forma como a corrupção é tratada no Brasil, que, segundo ele, é precipitada em punir os agentes culpados, enquanto exclui as causas do problema.

“Em geral, nós temos visto na opinião pública que se costuma a tratar esse tema de forma superficial e maniqueísta. Ou seja, detectam-se agentes públicos em atos de corrupção como se fossem os únicos autores, sem que causas, problemas e menções históricas sejam tratadas, que de certa forma criam ambiência para esses atos”, disse. “E quando se trata de maneira simplista, as soluções são sempre simplistas e maniqueístas”, completou o ministro, que defendeu “rigor” da Justiça para casos de corrupção.

Tarso critica exposição de ministros do STF

Ao encerrar a discussão sobre corrupção e transparência, o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), criticou a espetacularização de operações da polícia e do Ministério Público, atitude que, segundo ele, contribui para o aumento da corrupção. Segundo ele, quando órgãos de mídia estabelecem fontes dentro de instituições que investigam crime, cria-se uma "relação de troca".

"Quando se tem uma espetacularização de ações da polícia ou do Ministério Público, é porque houve uma fonte interna da Polícia Civil ou do MP que informou a imprensa desse evento. Esse vínculo com a imprensa, dando informações ou favorecendo determinado veículo de comunicação, gera uma cumplicidade. Essa relação se transforma em uma relação de troca. E essa pessoa que passa a ser um informante ilegal ou irregular se torna um privilegiado na corporação", disse Tarso, que ocupou o Ministério da Justiça em uma época de críticas a uma suposta espetacularização de ações da Polícia Federal.

Em seu discurso, Tarso estendeu as críticas à exposição de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) na mídia. Sem citar o presidente da Corte, Joaquim Barbosa, o petista comparou os magistrados brasileiros com juristas de outros países. 

"O processo de espetacularização gera uma deformação nas instituições de combate à corrupção. Quantas entrevistas deu no ano passado o presidente da Suprema Corte americana? (...) Que eu saiba, nenhuma. Se deu, foi duas ou três. E qual é o protagonismo que se outorga aqui aos membros do Supremo Tribunal Federal, ao Superior Tribunal de Justiça e aos tribunais regionais? Por que é outorgado um protagonismo a determinadas pessoas e estabelecendo um processo de promoção midiática de determinadas figuras? Tem interesse por trás disso", afirmou. "Seria interessante que se criasse dentro do Poder Judiciário uma postura de reserva", recomendou.

Após o evento, Tarso disse não ter se referido ao ministro Joaquim Barbosa, mas à cultura de integrantes do STF. "Eu falei em tese de todos os presidentes. Acho que aqui no Brasil os ministros do Supremo têm o hábito equivocado de dar muitas entrevistas sobre temas polêmicos que tramitam dentro do Supremo Tribunal Federal, que se tornam elemento da opinião pública e depois influem sobre o próprio Supremo, produzindo uma espécie de julgamento antecipado", explicou.

Fonte: Terra
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