Mercadante fica na liderança e atribui crise no PT a Sarney
Marina Mello
Direto de Brasília
O líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), afirmou nesta quarta-feira, após os arquivamentos dos recursos contra José Sarney (PMDB-AP) no Conselho de Ética, que a crise na Casa contaminou seu partido. Apesar da insatisfação de parte da bancada com Mercadante, o PT assegura que ele continua na liderança do partido na Casa Legislativa. Mesmo assim, ele voltou a dizer que seu cargo está à disposição.
"A crise do Senado e hoje a crise da bancada do PT é de responsabilidade do senador José Sarney. Ele, se tivesse tido um gesto de grandeza, teria preservado a instituição e permitido uma apuração que seguramente ajudaria o Senado a encontrar um outro caminho", disse Mercadante.
"Acho que a nossa crise, as dificuldades que estamos enfrentando - não só nós, mas todos os senadores de todos os partidos, porque essa crise do Senado atinge a todos, todos os mandatos, e à nossa bancada muito mais - e acho que foi a forma como ele (Sarney) conduziu esse processo. Se ele tivesse se licenciado, seguramente nós teríamos outro ambiente no Senado para segurar essa crise", afirmou.
Mercadante disse que não vai trabalhar para se manter na liderança. Segundo ele, se qualquer outro integrante da legenda quiser se candidatar a vaga, o processo será aberto imediatamente. Ele ressaltou que só não larga o cargo porque não iria abandonar o partido em um momento "tão difícil".
"Eu já disse, qualquer senador da bancada que tiver sugestão em relação a este tema, meu cargo está à disposição. Eu não reivindico estar líder, não pleiteio, eu só não sou uma pessoa de deixar a minha bancada, o meu partido num momento tão difícil", afirmou.
Em relação à crítica de que ele teria deixado senadores petistas que integram o conselho "desamparados", por se manter contra o arquivamento das representações mesmo quando a Executiva Nacional os pressionou a absolver Sarney, Mercadante disse que durante todo o processo deixou claro que ele não iria trocar os membros do Conselho com o intuito de salvar o presidente da Casa. O PT era considerado o "fiel da balança" nos processos contra José Sarney no Conselho de Ética.
"Eu tenho responsabilidade pelas dificuldades que eles (Delcídio, Ideli e João Pedro) passaram. Mas não é correto me pedir que eu indicasse pessoas de fora do bloco pra evitar as dificuldades que a nossa bancada atravessa. Eu não poderia fazer isso, não fiz e não poderia fazer", disse, justificando o fato de ter se recusado a ler a carta do presidente do PT, Ricardo Berzoini, que recomendava que a bancada tomasse uma posição contrária a sua.
Arquivamentos
Os senadores do Conselho de Ética engavetaram, nesta quarta-feira, por nove votos a seis, os 11 recursos contra o presidente do Senado. As 11 acusações haviam sido arquivadas sumariamente pelo presidente do Conselho de Ética, senador Paulo Duque (PMDB-RJ), aliado de Sarney. Ele alegou que todas as denúncias são baseadas em notícias de jornais e nenhum documento foi anexado para embasar a acusação. A oposição recorreu dos 11 arquivamentos e, por isso, eles foram a votação nesta quarta-feira, sendo vetados definitivamente.
Desde que assumiu o comando do Senado, José Sarney é acusado de cometer uma série de irregularidades, que incluem responsabilidade na edição dos chamados atos secretos, desvio de recursos de um patrocínio feito pela Petrobras à fundação que leva seu nome, além da prática de tráfico de influência em favor do namorado de uma neta sua. O PSDB e o Psol ajuizaram, ao todo, cinco representações contra o peemedebista. Outras seis denúncias foram protocoladas pelos senadores Arthur Virgílio e Cristovam Buarque (PDT-DF).