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Política

Mercadante diz que 'jamais permitiria dossiê contra Serra'

28 jun 2011 - 14h46
(atualizado às 14h57)
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Laryssa Borges
Direto de Brasília

O ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante (PT), negou nesta terça-feira que tenha tido participação na elaboração de um suposto dossiê, em 2006, contra o então candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra. Em depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Mercadante disse que o chamado "escândalo dos aloprados" foi "requentado" e resumiu sobre o suposto dossiê contra o tucano: "Jamais permitiria uma ação dessa natureza."

Uma reportagem da revista Veja afirmou que Mercadante, ao lado do ex-governador Orestes Quércia e com consultas à atual ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, teria participado da articulação para que militantes petistas utilizassem R$ 1,75 milhão, em setembro de 2006, para comprar supostos dados comprometedores de José Serra.

No depoimento à CAE, Mercadante disse que "envolver Ideli é uma injustiça absolutamente inaceitável" e afirmou que a coordenadora política do governo "jamais teria de discutir esse assunto se ela não tivesse sido recém-empossada ministra de Estado". Para o ministro, o caso dos aloprados voltou à tona cinco anos depois porque Quércia, aliado do PSDB e morto no ano passado, não pode mais desmentir a tese de elaboração do dossiê.

"Não haveria como tentar requentar esse assunto se o Quércia não tivesse morrido. Com o Quércia vivo, isso não parava de pé porque ele era aliado do PSDB e foi aliado do PSDB até o último momento da sua vida", disse Mercadante, e acrescentou que jamais procurou Orestes Quércia. "Não para de pé, do meu ponto de vista, essa ilação. Todo mundo sabe em São Paulo que nós não éramos próximos. Se o Quércia estivesse vivo, ele estaria aqui? A oposição convocaria o Quércia para prestar esclarecimentos? Se o Quércia estivesse vivo ele estaria desmentindo aqui."

Ao falar dos militantes do PT que foram pegos negociando o suposto dossiê, Mercadante afirmou que não pode ser responsabilizado pelas atitudes deles. "Essa militância acha que assim é que se destrói a corrupção. Eles tinham esse sentimento e achavam que eles tinham uma missão heróica para fazer", declarou. "Lamento que no partido tenham companheiros militantes que venham de uma cultura de enfrentamento. É um equívoco histórico tratar as coisas dessa forma. Só quero a verdade e transparência", disse.

No início dos esclarecimentos sobre o "escândalo dos aloprados", Mercadante classificara o episódio como uma "história fantasiosa" e relembrou que tanto o procurador-geral da República na época dos fatos, Antonio Fernando de Souza, quanto o próprio Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) entenderam, ao analisarem o caso em 2007, que não havia indícios da participação do então candidato ao governo de São Paulo no episódio. Os magistrados determinaram o arquivamento do inquérito contra Mercadante e entenderam que a Polícia Federal, responsável pela investigação do caso, não tinha competência para indiciá-lo, como fez, pelo crime de falsidade ideológica para fins eleitorais.

O comparecimento de Aloizio Mercadante ao Senado se valeu de um antigo requerimento do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) que pedia seu depoimento no Congresso para falar sobre o Plano Nacional de Ciência e Tecnologia.

No depoimento, o ministro foi confrontado pelo senador Francisco Dornelles (PP-RJ). O senador afirmou que atualmente o alvo das denúncias é Mercadante, um parlamentar que "acusou sem provas" os senadores José Sarney e Renan Calheiros, alvos de denúncias de irregularidades na legislatura passada. Em 2009, no auge do escândalo dos chamados atos secretos, o então senador Mercadante foi a Plenário pedir a licença temporária de Sarney. Dois anos antes, o hoje ministro disse que votaria a favor da cassação de Calheiros por conta de denúncias de que o parlamentar e o usineiro João Lyra teriam usados laranjas na operação de compra do grupo de comunicação.

Oposição quer Ideli

Durante a audiência na CAE, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) anunciou que apresentará requerimentos para convocar a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e para convidar a ex-senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) e o ex-diretor do Banco do Brasil, Expedito Veloso, a fim de que prestem esclarecimentos a respeito do suposto dossiê anti-Serra. A oposição pretende convidar ainda o ex-deputado e atual secretário de Educação Especial do Ministério da Educação, Carlos Abicalil.

De acordo com reportagem da revista Veja, Ideli teria participado de negociações para a compra do dossiê na corrida eleitoral de 2006, enquanto Abicalil já teria atuado anteriormente na fabricação de um outro dossiê, desta vez contra Serys Slhessarenko (PT) e Antero Paes de Barros (PSDB), supostamente tendo sido contratado pelo ex-governador do Mato Grosso e atual senador Blairo Maggi (PR). Maggi nega as acusações.

Mercadante disse que o caso só voltou à tona por causa da morte de Quércia. "A oposição convocaria o Quércia para prestar esclarecimentos?"
Mercadante disse que o caso só voltou à tona por causa da morte de Quércia. "A oposição convocaria o Quércia para prestar esclarecimentos?"
Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil
Fonte: Terra
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