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Política

Marco Feliciano defende jornalista que elogiou ação de 'justiceiros'

6 fev 2014 - 16h32
(atualizado às 17h20)
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<p>Em discurso, Pastor Marco Feliciano criticou atitude de deputado do Psol</p>
Em discurso, Pastor Marco Feliciano criticou atitude de deputado do Psol
Foto: Reprodução

Depois do Psol anunciar que irá protocolar no Ministério Público uma representação contra a apresentadora do telejornal SBT Brasil, Rachel Sheherazade, por supostamente "incitar" os crimes de tortura e linchamento, o deputado federal Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) usou a tribuna na Câmara dos Deputados nesta quinta-feira para criticar a atitude do deputado Ivan Valente (Psol-SP) e defender a jornalista. A apresentadora se pronunciou favorável à ação dos responsáveis por prender um rapaz com três passagens pela polícia por roubo e furto em um poste, no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro.

"Uso desta tribuna para registrar minha preocupação com atitudes de alguns parlamentares desta Casa que pregam uma coisa e praticam o oposto, como pude comprovar ontem nesta tribuna o Exmo. Deputado Ivan Valente, do PSOL, ameaçando processar a jornalista Rachel Sherazade, do SBT, competente profissional com a qual às vezes mesmo não concordando com algumas de suas colocações, tenho por ela o mais profundo respeito pela maneira ponderada e isenta com a qual expõe suas opiniões", afirmou Feliciano, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.

Feliciano considerou a atuação de Valente diante do ocorrido como "censor" e de uma "torpe tentativa de intimidação". "Como responsabilizar a jornalista, ela não criou o fato, apenas informou, e manifestou com parcimônia o que todos nós sentimos uma insegurança generalizada, e ela apenas demonstrou compreensão pela atitude de pessoas ordeiras e de bem, que apenas extravasaram um sentimento que tem tomado grande parte da sociedade, já que autoridades legislativas não se preocupam em apresentar leis que realmente intimidem quem envereda para o crime, mas ao contrário, tentar atacar quem se indigna numa odiosa inversão de valores", declarou na tribuna.

O discurso do deputado federal evangélico foi postado na íntegra em seu site sob o título Liberdade de Expressão. "Quando vejo um ancião mostrando sua verdadeira pele se travestindo de polícia, inclusive já enquadrando na delação a tipificação penal, atribuição essa, penso ser do delegado de polícia, sugiro que esse senhor complete o trabalho, dose a pena e execute mandando prender tão perigosa meliante. Em que mundo estamos vivendo com tanto estelionato intelectual, jogo de cena chamando pra si holofotes. Sugiro reflexão para não tornarmos rasa nossa missão nessa casa, com denúncias espalhafatosas que sabe serem infundadas e que não perpassam a mais elementar análise jurídica. Agora aviso aos navegantes e pescadores de aquário, atribuir um crime a alguém que não o tenha cometido é calúnia, aí sim o feitiço pode virar contra o feiticeiro, como diz o velho adágio sem trocadilho", declarou.

Para completar, Feliciano disse que é preciso indagar se é justo o uso de pesos e medidas diferentes na hora de ameaçar processo contra uma jornalista "que apenas cumpre seu dever de informar" e em relação a programas que apresentam matérias nocivas a "boa formação de crianças e jovens". Várias vezes fui vítima de ataques gratuitos e caluniosos por parte de parlamentares desse partido, sempre me calei, mas, decidi me manifestar nesse momento para que esses senhores reflitam se alguém ainda dá crédito a essa falácia, como se fossem o último baluarte da moralidade de tão corretos, creio que tenham lugar garantido no céu, o de Dante é claro", completou.

Nota de repúdio

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro e a Comissão de Ética da entidade divulgaram nota nesta quinta-feira onde se manifestam "radicalmente contra a grave violação de direitos humanos e ao Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros representada pelas declarações da âncora Rachel Sheherazade durante o Jornal do SBT".

De acordo com o comunicado, o desrespeito aos direitos humanos tem sido prática recorrente da jornalista, mas destacam a violência simbólica dos recentes comentários por ela feitos no programa de 4 de fevereiro. "Sheherazade violou os direitos humanos, o Estatuto da Criança e do Adolescente e fez apologia à violência quando afirmou achar que 'num País que sofre de violência endêmica, a atitude dos vingadores é até compreensível' — Ela se referia ao grupo de rapazes que, em 31 de janeiro, prendeu um adolescente acusado de furto e, após acorrentá-lo a um poste, espancou-o, filmou-o e divulgou as imagens na internet", afirma a nota.

O Sindicato e a Comissão de Ética do Rio de Janeiro solicitaram também à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) que investigue e identifique as responsabilidades neste e em outros casos de violação dos direitos humanos e do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, que ocorrem de forma rotineira em programas de radiodifusão no nosso país. "É preciso lembrar que os canais de rádio e TV não são propriedade privada, mas concessões públicas que não podem funcionar à revelia das leis e da Declaração Universal dos Direitos Humanos", completou o comunicado.

Agressão a jovem gera polêmica
A agressão ao rapaz ganhou as redes sociais depois de ser denunciada pela artista plástica Yvonne Bezerra de Melo, fundadora do projeto Uerê, que atende crianças e adolescente carentes no Complexo da Maré. Yvonne postou no Facebook uma foto do adolescente logo após a agressão.

Além de ser preso ao poste com uma trava de bicicleta, o jovem chegou a ter parte da orelha arrancada. Ele foi socorrido e levado ao hospital municipal Miguel Couto pelos bombeiros, que precisaram usar um maçarico para libertar o rapaz.

Por conta do episódio, 14 jovens foram detidos por policiais militares na madrugada de terça-feira. Eles são suspeitos de ser integrantes de um grupo identificado como “justiceiros do Flamengo”. De acordo com a polícia, a suspeita é de que eles ataquem com tacos de beisebol, paus e pedras suspeitos de praticarem roubos na região.

Segundo a Polícia Civil, os 14 jovens, entre eles um adolescente, foram encaminhados para a 9ª DP (Catete), onde negaram participação no crime, assinaram um termo circunstanciado e, em seguida, foram liberados. Os rapazes respondem por crime de formação de bando ou quadrilha, tentativa de lesão corporal e corrupção de menores. 

Fonte: Terra
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