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Política

Maia e Sarney decidem por CPI mista para o caso Cachoeira

10 abr 2012 - 16h08
(atualizado às 17h52)
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Diogo Alcântara
Elaine Lina
Direto de Brasília

O presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), concordaram na tarde desta terça-feira com a instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar relações de parlamentares e funcionários de outros poderes com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Ao final da reunião com Maia, Sarney convocou líderes governistas para discutir coletas de assinaturas no Senado. O mesmo procedimento deve ser feito da Câmara dos Deputados.

"Deixamos um entendimento, eu e o presidente José Sarney, de que o melhor será a constituição de uma CPI mista: Câmara e Senado", disse Marco Maia, que promete fazer uma investigação "ampla" e "o mais rapidamente possível". "Cabe ao parlamento brasileiro produzir as informações necessárias que desbaratem ou que desvendem o que realmente aconteceu durante o tempo de atuação desse cidadão chamado Cachoeira", acrescentou.

Marco Maia disse não se importar se o rumo das investigações eventualmente atingir setores do governo. "Eu tenho a opinião de que esse caso específico precisa ser investigado, precisa ser retratado com muita atenção porque demonstra um poder paralelo. Uma articulação de poder à revelia do Estado brasileiro e que montou uma teia, uma rede de contatos, de relações, tentando influenciar na decisão de órgãos públicos ligados ao poder público, ao legislativo, ao judiciário e também à imprensa", disse o presidente da Câmara.

Mais cedo, o ministro da Secretaria-Geral, Gilberto Carvalho, um dos principais interlocutores políticos do governo Dilma Rousseff, disse que desconhecia movimentos para a criação de uma CPI para investigar os negócios do bicheiro Carlos Cachoeira com políticos. Ele garantiu, porém, que a instauração da CPI não intimida o governo. "Só acho que a gente nunca tem que ter medo da verdade. Acho que não é porque teve um deputado do PT (Rubens Otoni, PT-GO) que teve contato com esse pessoal que a gente deva deixar de fazer as investigações", disse.

"Se é CPI ou não é, não me cabe pronunciar. Essa é uma decisão que a Câmara tem que tomar, ou o Senado e não a gente aqui. Mas eu não vejo razão nenhuma para temer. Já passamos por várias CPIs, sabemos do que se trata, e não temos que ter temor nenhum nesse sentido nesse momento", garantiu o ministro.

Demóstenes e Carlinhos Cachoeira

Em 6 de março de 2012, o senador Demóstenes Torres (GO) subiu à tribuna para dar explicações sobre as denúncias de sua proximidade com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, descoberta pela operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que terminou em fevereiro, com a prisão de Cachoeira e de outras 34 pessoas. Demóstenes disse que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido critérios legais. Dez dias depois, o jornal Folha de S.Paulo publicava um relatório do Ministério Público Federal (MPF) que indicava que o grupo comandado por Cachoeira entregou telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, que admitiu ter recebido o aparelho.

O jornal O Globo noticiou, em 23 de março, gravações da PF que flagraram Demóstenes pedindo para Cachoeira lhe pagar R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo e vazando informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes. Em 27 de março, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado para "acompanhar a evolução dos fatos". No dia seguinte, o Psol entrou com representação contra o parlamentar no Conselho de Ética do Senado e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandovski autorizou a quebra do sigilo bancário de Demóstenes, solicitando ainda um levantamento sobre as emendas e os projetos relatados por ele para saber se Cachoeira, acusado de controlar a máfia dos caça-níqueis e de corromper policiais e políticos em Goiás, foi beneficiado.

Nas gravações, Demóstenes também aparece acertando um suposto lobby pela legalização dos jogos de azar no Congresso em 2009. Em outra conversa, Cachoeira pede ajuda no processo de um delegado e três policiais de Anápolis (GO) acusados de tortura e extorsão. Os dois ainda conversaram sobre um "negócio" milionário na Infraero. Na ocasião, Demóstenes teria se valido da relatoria da CPI do Apagão Aéreo para levantar informações e sondar contratos de informática na estatal.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido decidiu abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda.

Fonte: Terra
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