PUBLICIDADE

Política

Líbia: deputados brasileiros são barrados e denunciam carnificina

22 ago 2011 - 15h03
(atualizado às 15h39)
Compartilhar

Daniel Favero

Rebeldes atiram em direção a soldados leais a Muammar Kadafi na capital líbia, Trípoli
Rebeldes atiram em direção a soldados leais a Muammar Kadafi na capital líbia, Trípoli
Foto: AP

Um comitiva brasileira composta pelos deputados brasileiros Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) e Brizola Neto (PDT-RJ) foi barrada ao tentar entrar na Líbia para onde seguiram em missão oficial para averiguar a situação naquele país, que desde fevereiro, sofre com a violência gerada por protestos pela derrubada do ditador Muammar Kadafi e pela intervenção de forças de coalizão da Otan. Protógenes disse que antes de sair da região previa que a Otan e as forças rebeldes (o Conselho Nacional de Transição) promoveriam uma carnificina na capital, Tripoli.

"Tenho certeza que a Otan vai intensificar esses bombardeiros em Trípoli, essas forças rebeldes vão avançar e vai ser uma carnificina", disse o deputado.

Segundo o parlamentar, que viajou a convite do governo líbio e de uma entidade internacional, no dia 14, a intensificação dos combates ocorrida neste final de semana impediu a entrada da delegação em território líbio, já que os rebeldes do Conselho Nacional de Transição entraram em conflito com o Exército da Tunísia pelo controle da fronteira. A escalada da violência dentro do território da Tunísia e a falta de alimentos e água, fizeram com que a delegação decidisse voltar.

"A Otan bombardeou esse acesso que fica na cidade de Bengardain (Tunísia), que fica a uma hora e meia de Trípoli (Líbia). Os rebeldes tomaram controle dessa fronteira e impediram a nossa passagem, se passasse seria metralhado. Teve a família de um médico que tentou passar com medicamentos e teve o carro metralhado", disse o parlamentar que considerou estranho o bombardeio ter ocorrido quando o grupo de observadores se preparava para atravessar a fronteira.

Segundo ele, a delegação, composta ainda por países europeus, latino-americanos e africanos, conversou com representantes do governo líbio, representantes do governo brasileiro, mas não conseguiu falar com a Otan, nem com o Conselho Nacional de Transição (CNT) para ouvir todos os lados envolvidos no conflito.

Mesmo com recomendações contrárias da chancelaria brasileira, Protógenes diz que alugou um carro e, acompanhado do deputado Brizola Neto, mais uma comitiva, seguiram para a região de fronteira para averiguar a situação de conflito. "Nos informaram que não teríamos condições de seguir viagem para fronteira porque estava muito perigoso e poderiam ter conflitos na fronteira da Tunísia com a Líbia, mas queriamos ver de perto a situação e os ataques que estavam sendo feitos, que aconteciam toda a madrugada", disse.

Segundo ele não foi possível passar porque os rebeldes já haviam tomado a fronteira, dentro do território da Tunísia, o que gerou conflitos. "Pegamos carona com um comboio do Exército da Tunísia e verificamos as atrocidades". Ele diz que na sexta feira, a Venezuela ofereceu um avião para retirara família de Muammar Kadafi do país, mas o ditador não aceitou, autorizou somente a saída de seis familiares do país.

Protógenes diz que ao invés de procurar um solução pacífica, as forças de coalizão, comandadas por países que passam por crise econômica, continuaram as investidas belicistas em busca de "uma janela de oportunidades", já com os olhos voltados para as reservas de petróleo líbias. "É interesse deles (Otan) aumentar o conflito para obter o controle da situação e criar uma janela de oportunidades para controlar toda a da economia da Líbia".

As constatações serão reunidas em um relatório que será encaminhado para o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), no qual os parlamentares apontam excessos cometidos pela Otan em território Líbio. Segundo ele, o documento pode sevir para que o governo brasilerio forme sua posição acerca do conflito no norte da África.

Líbia: de protestos contra Kadafi a guerra civil e intervenção internacional

Motivados pela onda de protestos que levaram à queda os longevos presidentes da Tunísia e do Egito, os líbios começaram a sair às ruas das principais cidades do país em meados de fevereiro para contestar o líder Muammar Kadafi, no comando do país desde a revolução de 1969. Mais de um mês depois, no entanto, os protestos evoluíram para uma guerra civil que cindiu a Líbia em batalhas pelo controle de cidades estratégicas.

A violência dos confrontos entre as forças de Kadafi e a resistência rebelde, durante os quais milhares morreram e multidões fugiram do país, gerou a reação da comunidade internacional. Após medidas mais simbólicas que efetivas, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a instauração de uma zona de exclusão aérea no país. Menos de 48 horas depois, no dia 21 de março, começou a ofensiva da coalizão, com ataques de França, Reino Unido e Estados Unidos.

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade