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Lava Jato

PT é apontado em esquema entre banco e amigo de Lula

24 nov 2015 - 12h53
(atualizado às 13h07)
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Foto: Joyce Carvalho / Especial para Terra

O Partido dos Trabalhadores (PT) aparece como suposto beneficiário de empréstimo feito entre um banco privado e o pecuarista José Carlos Bumlai, preso nesta terça-feira na 21ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada pela força-tarefa envolvendo Polícia Federal, Ministério Público Federal e Receita Federal e denominada de Passe Livre. A realização de empréstimo passou por movimentações ilícitas e foi "pago" após a contratação de uma empresa indicada para a operação de navio sonda na Petrobras, segundo os integrantes da força-tarefa.

Além deste cenário, a 21ª fase apresentou a realização de empréstimos suspeitos realizados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com empresas ligadas à Bumlai.

A partir de análises de evolução patrimonial de pessoas físicas e jurídicas investigadas pela Lava Jato, a Receita Federal identificou como origem destes recursos a obtenção de empréstimos em bancos privados e públicos. Isto difere em relação às demais operações já identificadas pela Lava Jato, pois não houve sinalização de contratação de assessorias ou consultorias para justificar a movimentação de dinheiro, segundo o auditor da Receita Federal Roberto Lima. O esquema revelado agora é bastante similar ao aplicado no Mensalão.

Paralelamente, as colaborações de delações premiadas já firmadas indicou a obtenção de um empréstimo de Bumlai junto ao Banco Schahin no valor de R$ 12 milhões, em 2004. "Este empréstimo não foi pago. Em 2005, quando a dívida chegou a R$ 18 milhões, foi feito um novo empréstimo pelo mesmo banco para uma empresa de Bumlai e este empréstimo também não foi pago", comentou o procurador da República Diogo Castor de Matos.

Além disto, o primeiro empréstimo feito por Bumlai teve influência do então tesoureiro do PT Delúbio Soares, que fez contato com o dono do banco Schahin, Salim Schahin, que também recebeu um telefonema do então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. "Dirceu nunca tinha conversado com Schahin e Delúbio avisou que ele receberia uma ligação da Casa Civil. O caminho do dinheiro para o PT ainda está sendo investigado", afirmou o procurador da República Carlos Fernando Lima. A hipótese trabalhada pelo grupo é de que estes recursos foram encaminhados para a quitação de dívidas de campanha presidencial do PT.

Foto: Joyce Carvalho / Especial para Terra

Para quitar a dívida de R$ 18 milhões, houve duas movimentações diferentes. A primeira foi a simulação de negócios entre a securitizadora do Grupo Schahin - que havia assumido a dívida entre 2006 e 2007 - e duas fazendas de gado de Bumlai no Maranhão. Foram apresentados recibos como comprovantes de quitação entre as duas partes, o que foi identificado como fraude pela força-tarefa porque não houve a realização do negócio em si.

Além disto, o ex-gerente da área internacional da Petrobras, Eduardo Musa, relatou na delação premiada que Nestor Cerveró, também ex-integrante da diretoria da estatal, indicou a contratação de empresa do grupo Schahin para operação de navio sonda, em 2009. Isto ocorreu, de acordo com a investigação, para efetivamente pagar a dívida de Bumlai com Schahin. A informação por corroborada por outros depoimentos e informações coletadas pela força-tarefa.

A contratação ocorreu sem a realização de licitação, no valor de U$ 1,6 bilhão. As investigações também estão em cima de saques de grande quantia de dinheiro e depósitos em contas de empresas de fachada, feitos após a contratação dos empréstimos de Bumlai.

BNDES

A 21ª fase da Operação Lava Jato também coletou contratos na sede do BNDES para verificar empréstimos concedidos a empresas relacionadas a Bumlai e à família Bertin. Há um envolvimento entre eles tanto no primeiro empréstimo no Banco Schahin obtido sob influência do PT quanto em empréstimos do BNDES para as empresas São Fernando Açúcar e Álcool e São Fernando Energia I. "Em 2004, quando Bumlai recebe os recursos do empréstimo, há um encaminhamento de recursos para o frigorífico Bertin", contou Matos.

Além disto, foram realizados empréstimos do BNDES para a São Fernando Álcool e Açúcar de quase R$ 400 milhões entre 2008 2011, que não foram pagos. Isto ocorreu quando a empresa inclusive estava em processo de recuperação judicial. "A empresa foi administrada entre 2007 e 2012 pela família Bertin e por Bumlai", relatou Lima. Integrantes do grupo Bertin estão entre os conduzidos coercitivamente hoje pela PF para prestar esclarecimentos sobre os empréstimos.

"A operação Lava Jato tem se esforçado para verificar o uso de empresas e órgãos públicos como forma de 'fazer caixa' com fundo de corrupção política. A Lava Jato não está relacionada apenas com à corrupção de funcionários da Petrobras", salientou  Lima.

Fonte: Especial para Terra
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